sexta-feira, 25 de abril de 2008

ABRIL, NA SUA PUREZA



Há muitas maneiras de comemorar Abril. Eu escolhi o testemunho de Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 06.11.1919-Lisboa, 02.07.04), transcrevendo dois dos seus poemas.



Sophia
desenho de Arpad Szenes (1958)

25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo






REVOLUÇÃO

Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício


Como a voz do mar
Interior de um povo

Como página em branco
Onde o poema emerge

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação


(datado de 27 de Abril de 1974)

(Ambos os poemas transcritos da sua “Obra poética II, O nome das Coisas II”, pág 195, o primeiro; pág 196 o segundo – edição do Círculo de Leitores, 1992)





E deixo também um voto: que o cravo não murche e que Abril regresse à sua pureza.


2 comentários:

  1. 25 DE ABRIL,SEMPRE!
    As palavras de Sophia são belas.
    Quanto ao regresso à pureza,duvido.
    Já não há puros.
    Nós próprios,de tanto mexer a merda,já estamos mais que conspurcados...
    Mesmo assim estamos muito melhor que há 34 anos!
    Um abraço.

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  2. Abraços para ti, depois da emoção de ver/ouvir a "Associação do 25 de Abril" assumir-se e pincelar a memória de palavras.
    Viva a Liberdade!

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