terça-feira, 30 de setembro de 2008

O DEBATE



Na sua coluna de hoje no Público, sob o título “O que é ganhar um debate”, Miguel Gaspar recordou o recente frente-a-frente que em Oxford, mas do Mississipi, prendeu a atenção de todos os estados-maiores da política mundial. E não só.
Concordo com o jornalista: também não gosto de empates. Nem no desporto-rei, por sinal a “excelência” da indústria nacional. Aí, mesmo que seja a “bolas de berlim”, das proscritas pelo sr António Nunes, empatar é que nunca.
Quando as equipas empatam, no campeonato nacional (ou em expressão mais “in”, na Liga qualquer coisa ilegível, ou Liga Betadine ou doutra qualquer “pomada”), isso só acontece para efeitos contabilísticos do negócio (vulgo classificação). Em termos de análise – aquela que ocupa os horários nobres, e outros mais concorridos, de toda a semana, na generalidade das “televisões”, enquanto, heroicamente, outros canais tratam de minudências como a crise financeira internacional ou, cá na “freguesia”, da questão da oferta de casas pelo poder (autárquico), “ao preço da uva mijona”, a gente endinheirada, mas amiga – há sempre uma equipa que se considera ter soçobrado mais e outra à qual melhor cabia a vitória. (E claro que há aquelas inevitáveis vitórias lidas nos “astros” e ditadas pelo prof Carago).

Voltando ao debate nos States, o que fica na retina e pairando nas mentes, não é o empate apregoado pelos media, mas a tendência recolhida pelas sondagens (as mais credíveis, é óbvio). E esta não deixou dúvidas nem deu azo a empates, antes foi clara no sentido da vitória do Senador do Illinois.

Se estou de acordo com MG no que respeita à fobia dos empates, já não estou de acordo com a leitura conclusiva que faz deste debate: a vitória “à pele” e aos pontos de McCain.
Direi antes, ou que sim, a de Obama, atendendo aos mesmíssimos argumentos por MG utilizados, mas que, na minha perspectiva, fazem pesar o prato para o lado do democrata. Não só porque são, na minha leitura, mais graves os senões do candidato republicano, como porque não vi, na mímica nem na palavra de Obama, as tais hesitações que refere o colunista. Mais: porque qualquer mínima falha ou senão assume muito maior relevo e gravidade num candidato mais experiente do que num menos habituado a estas lides, além de que produz um muito maior impacto nos destinatários das mensagens.

Pior prestação (na SIC) foi a tradução simultânea: não dava para ouvir e entender, direitinho, o que diziam as estrelas do “espectáculo” nem o que transmitiam os tradutores nos bastidores do estúdio.

Mas chegou para perceber que o candidato democrata esteve muito melhor.

O senador democrata continua melhor colocado para a “pole position”.

DIVÓRCIO




Tropecei, esta noite, nesse caixote que prende a atenção de milhões de pessoas durante muitas horas por dia...
Estava em debate uma questão importante: queremos acabar com o casamento-negócio ou não?
Discutia-se, portanto, no “Prós e Contras”, a nova lei do divórcio.
Assisti.
Não fiquei com dúvida de que o contrato mercantil do casamento e que a sua perspectiva de filhos-mercadoria foram, ali, completamente cilindrados.

Ouvi duas vozes mais serenas, que não com mais razão (uma jurista e uma psicóloga), na defesa da instituição nos moldes tradicionais, como era defendida no tempo em que o lema era “Deus, Pátria e Família”, como muitos se lembram e outros tiveram notícia.
Logo, contra a nova lei.

Mas no outro lado da bancada, contra esses velhos preconceitos, ouvi vozes bem acaloradas (mas sem expressões orais ou mímicas de ridícula exuberância), que, por alguma razão, até foram mais aplaudidas...

Sem entrar em mais detalhes, por ora, referirei, apenas, em cada uma das posições, um dos respectivos intervenientes, guiando-me não só pelo peso ou leveza da sua palavra como pela sua maneira de estar.

Dum lado, uma senhora lívida, completamente... (ai, como vou dizer... não, histérica é deselegante... Ah!)... Exuberante (ridícula exuberância, dizia eu mais atrás), aos gritinhos e esboçando uns sorrisos tão amarelos e tão contrafeitos que até a mim me faziam dó, quanto mais aos seus pares na discussão...
A senhora sofria, visivelmente angustiada, porque os deuses a desampararam e o entendimento se lhe obnubilava. Não era só na forma que era lancinante a sua prestação... Pior: o engenho, a arte e a palavra não convenciam (bem ao contrário).
Rita Lobo Xavier, a sua graça. Advogada.

Do outro da barricada, entre o público, um senhor que respirava uma vivência que não pactuava com o política e socialmente correcto. Absolutamente em paz consigo próprio, além de não desperdiçar conhecimentos técnicos, porque os revelava sem necessidade de alardes, demonstrava um conhecimento também urdido numa longa experiência. E que experiência (na barra e na vida)!
Galamba de Oliveira, de seu nome. Advogado.

Valeu a pena!
Fica só o traço genérico.
Da fotografia alguém se encarregará. Como do relato.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

INSEGURANÇA? NAH! “NO PASSA NADA”! “RELAX”

Nuno Pacheco aborda no editorial de hoje do Público dois temas escaldantes e de grande actualidade sob o título “O ensino e a justiça entre a fantasia e a realidade”, que sintetiza, em destaque, da seguinte forma: “A onda dos Magalhães ‘para todos’ já faz a ministra sonhar com chumbos zero no nono ano. Já na justiça não há sonhos, mas pesadelos.” E com uma singular verve remata com a frase com que todos nos interrogamos: “O que é preciso, afinal, para se ser preso?”

Ora, depois de confrontar as miragens da tutela com a dura realidade, presente e futura, na área da educação, NP aborda um dos mais terríveis sentimentos (de entre vários) que entre nós se vive, de momento e de há bastante tempo já: a insegurança.



Insegurança? Não. Só pode ser uma atoarda, sem fundamento nem nexo. Se não mesmo uma cabala contra o Governo...

Alguns, rodeados de “gorilas”, no ambiente “asséptico” e suave dos seus luxuosos gabinetes, no remanso dos seus condomínios privados, pensam que já é muito o que os media, com mais carregadas cores ou com ligeiras pinceladas, nos informam.
Porém, o que se passa excede, em muito, o que é objecto da grande informação. Desta não consta o que se vai passando no pequeno universo de cada um de nós. Como, por exemplo, no meu: nos últimos 4 dias tive notícia, pelas próprias vítimas, de 3 casos bem paradigmáticos da situação que se vive: um casal meu amigo, enquanto dormia o seu sono reparador, foi durante a noite assaltado, levando os larápios valores e dinheiro, designadamente do seu quarto de dormir, sem que de algo se tivessem apercebido.
No meu prédio, dois (ou 3?) indivíduos tentaram que três ou quatro dos moradores abrissem a porta para os “atender” (?): passava das 10 da noite, e não ligavam a luz das escadas.
Uma senhora, minha conhecida, foi abordada, aqui à minha porta, por dois meliantes, em pleno dia, que lhe levaram um fio de ouro, as alianças, o telemóvel e umas dezenas de euros.
Agora multiplique-se isto por vários milhares, por outros pequenos universos...

Claro que alguns pressurosos jornalistas põem a tónica na nacionalidade ou etnia dos criminosos. Como se o ser brasileiro, moldavo, cigano, cabo-verdiano de 2ª ou 3ª geração, romeno ou ucraniano – ou português marginalizado - fosse o bastante ou a principal causa para se ser estrela e protagonista destes acontecimentos!...

A propósito, não resisto a contar um acontecimento bem pessoal. Foi há muitos anos, na segunda metade dos anos 70. Em Joanesburgo, onde me encontrava, ocasionalmente, em trabalho, quando ainda vigorava a lei do apartheid: um pequeno grupo de rapazes assaltou-me numa avenida com imenso tráfego e com os passeios a abarrotar de gente, à hora de saída dos empregos (cerca das 5), perante a indiferença de tantos que passavam ao meu lado. (Eu estava de braços no ar). Não me levaram nem o fio, que a camisa entreaberta deixava ver, nem o relógio, nem o isqueiro (de boa marca): só a carteira.
Pergunta inevitável (e de bem clara intenção) de “certas” pessoas: “eram pretos, não?”
Resposta igualmente sacramental a “essas” pessoas: “com certeza! Ali, os brancos não têm necessidade de se expor, roubando dessa maneira! Óbvio!”
Não obstante a minha resposta, os “tais” interlocutores deixavam escapar um sorriso “entendido”, “felizes” e “recompensados”. (O brilho dos seus “entendimentos” era confirmado!)


Vai levar tempo até que o mundo – todo o mundo – se convença que não pode subsistir com certos desequilíbrios.

Mas, até quando?
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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

«PAZ»














































«(...)
Não conheço agora este menino, de retrato antigo. Terá mais de 30 anos.
Será gestor, pai, cientista, professor, desempregado?
Enche-me a enorme angústia e esperança, pelos seres que não pedem para nascer.
Indefesos da vida e condições que lhes iremos proporcionar.
Não escolhem os pais e, se calhar, nem os caminhos.
Hão-de querer a Paz.
Por eles a pedimos. Além de pedir, lutámos por ela.
Lutaremos pelos meios que soubermos ou pudermos.»

Fotos e post, de ontem, da Bet, in bettips




Paz, tema tão relho como a existência do Homem.

Que sensibilidade a da “postadora”!

Aliás, sensibilidade à flor de todos os sentidos – é umas das várias e possíveis definições (da personalidade) da Bet.

Talvez se possa comparar a nossa formação anímica com o erguer de um robusto ou frágil edifício. Se robusto, tem condições de oferecer estabilidade, segurança, condições de conforto e bem-estar. Se frágil, é uma tragédia ameaçadora, em potência, pelo menos, e inicialmente. Mais cedo ou mais tarde, cíclica ou permanentemente, um desastre em acção.
Nas nossas existências, e nesta comparança, a paz só pode resultar da construção do tal sólido edifício.

Tens razão, boa amiga, não desistiremos de o levantar e manter.
Força!
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(Minha cara, hoje apeteceu-me comentar d’outra maneira: trazer-te ao meu “tugúrio”)
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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

PARA ALÉM DO RESTO... MAGO!




«Valentim Loureiro:«Cortem-me o pescoço» se se provar prejuízo
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Valentim Loureiro disse hoje que lhe podem cortar o pescoço se se provar «um cêntimo de prejuízo» para a Câmara de Gondomar no caso do complexo desportivo em Rio Tinto, que deu origem a mais uma acusação contra o autarca.»
(imagem e texto in DD, quinta-feira, 11 de Setembro de 2008 20:03)
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Agora, sim, fiquei completamente baralhado: não fazia a mais pequena ideia de que “o major” - o mais perfeito paradigma do desenrascado chico esperto lusitano - também era mago!
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Quer a magia respeite aos meandros do “negócio”, quer à espectacular decapitação da criatura... Ah, como eu gostava de assistir a ela!
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BRINCADEIRAS PERIGOSAS

o bombardeiro russo TU - 160
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Dois bombardeiros russos (TU – 160) de longo alcance, com capacidade para transportar mísseis nucleares, chegaram à Venezuela com vista a manobras conjuntas (russas e venezuelanas), em Novembro próximo, nas Caraíbas – divulgaram ontem as agências noticiosas.
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«A aliança entre Rússia e Venezuela preocupa os Estados Unidos». O que é espantoso, porque a aliança dos EU com os vizinhos da Rússia (anteriormente integrando a URSS) não preocupa minimamente a potência americana.
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Ou então, o xerife acha que pode espiar, pôr e dispor em todo o mundo sem que alguém tenha alguma coisa a ver com isso.
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O pior é que o czar cuida o mesmo.
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Entretanto, os imperadores vão-se picando.
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A grande maioria da população mundial, pobre, sem voz e mal nutrida, está sedenta de gás e de petróleo para poder subsistir.
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Daí que os senhores do mundo e da guerra disputem, ferozmente, a posse e ou controlo de gasodutos e de oleodutos por esse mundo além.
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Tudo começou (mais recentemente) pela presença de vasos de guerra dos “states” no Mar Negro, para prestar ajuda humanitária à Geórgia.
O que, muito candidamente, levou Medvedev a observar: "Como se sentiria (Washington) se nós enviássemos ajuda humanitária às Caraíbas utilizando a nossa própria Força Naval?"

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Há quem pense que os meninos cá da quinta estão a levar longe de mais as suas brincadeiras com o fogo...
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Calhando, estão a exagerar tais pensadores mal (in)formados.
Antes estivessem.
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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

AGGIORNAMENTO?!

Arcebispo Gianfranco Ravasi - novo Presidente do Pontifício Conselho da Cultura


O Público (P2) de ontem trazia uma entrevista bem conduzida por António Marujo (AM) e que encontrou no ministro do Vaticano da Cultura, o arcebispo Gianfranco Ravasi (GR), um “simpático” e algo corajoso e suficientemente “aberto” interlocutor. (Ou talvez não, e a habituação às águas mornas em que estas coisas geralmente se movem é que causam a nossa surpresa, por deixarem de ser águas mornas e paradas para se revelarem, pontualmente, mais vivas e brandamente agitadas).

Foram abordadas algumas questões delicadas (numa certa e bem identificada perspectiva).
No destaque preambular da entrevista, duas ideias ficam a pairar:
“Gianfranco Ravasi defende que é preciso quebrar a fronteira entre a fé e os grandes artistas e anuncia que irá convidar criadores de renome para fazerem obras de arte que falem dos grandes símbolos. E diz que já não há ateus como antigamente.”

Mas a diversidade de temas abordados é mais larga. A dada altura, por exemplo, AM traz à liça a muito discutida
“questão de Deus no Tratado Constitucional europeu”. Lembrando que “Goethe dizia que o cristianismo é a língua materna da Europa”, o jornalista pergunta: “o que queria a Igreja com o debate sobre [ess]a questão?”

Em síntese o arcebispo responde e argumenta:
“Há uma consideração que, para mim, justificaria, de um ponto de vista laico, a menção às raízes cristãs: se virmos a arte de quase dois mil anos, três quartos estão impregnados de elementos ligados à cristandade. É verdade que, para o direito, há o influxo do mundo romano, para a filosofia há o contributo do mundo grego, e houve também o influxo do iluminismo e do socialismo. Houve outros, mas não há dúvida de que o cristianismo é a língua materna da Europa.
Nieztsche [sic!] dizia: "Inexoravelmente, mesmo sendo contra, os Salmos, para mim, são a pátria. Petrarca é terra estrangeira". E pouco depois recupera: “houve uma outra dimensão, que criou dificuldades: a de reconhecer que a cultura cristã também incidiu na formação do homem europeu, mesmo do ponto de vista ético e social. Isto não foi aceite, por se pensar que se iria afirmar uma primazia da religião sobre a política.”
E depois de lembrar que “o Decálogo (...) exprime de modo iluminado a antropologia do Ocidente, quase a lei natural” sublinhou a necessidade de reconhecer “que a Bíblia e o Evangelho, com o tema do amor” são “categorias” que influíram e continuam a influenciar “positivamente na sociedade contemporânea”. Para logo concluir: “Creio que se deve reconhecer que, social e moralmente, o ethos europeu tem esta presença que deve ser legitimamente afirmada. Tanto que algumas categorias que estavam em discussão eram de matriz cristã: a liberdade, a dignidade da pessoa, a paz.”
É também abordada a questão do “diálogo entre fé e ciência”, recordando AM que “há a ideia de que a Igreja está sempre contra o progresso científico: Galileu, Darwin, agora a bioética...”
Ravasi, depois de lembrar que Galileu não foi, em bom rigor, condenado, conveio que
“Galileu tinha razão e abalara as concepções dos teólogos de Roma.” E muito claramente admitiu “que houve culpas [da Igreja]”.
No entanto, continua,
“não se deve temer restabelecer o confronto, mesmo que seja duro.”

“Como fala hoje a Igreja com o ateísmo?” – pergunta, a dada altura AM.
Em suma GR responde:
“Esse é um problema grave. Falar com o autêntico ateísmo é uma tarefa difícil. Verdadeiros ateus como Nietzsche são pouquíssimos. Refiro-me aos que propõem uma visão do mundo e da vida realmente alternativa. [...] Diria que os últimos ateus foram os grandes pensadores marxistas e liberais...” Entre eles Bloch, Sartre, Camus, Bobbio (...) “Eram grandes laicos que se batiam contra o poder clerical, mas que tinham grandes visões.Os de agora são ateus que reflectem o clima do ateísmo actual, da indiferença. Tivemos a sociedade com Deus, depois a sociedade contra Deus, agora a sociedade sem Deus. É um problema, mesmo para alguns crentes, que acreditam em Deus mas para os quais acreditar ou não faz variar muito. Dialogar com esses grandes pensadores constrangia-nos a reflectir e a reconstruir a nossa própria visão. Com os actuais, é um jogo de pergunta-resposta, em que se responde de maneira apologética.”

Claro que Gianfranco Ravasi usa uma linguagem eclesialmente correcta mas, simultaneamente revelando uma abertura menos comum.
Nem podia ser de outra maneira, pois que a “nomenclatura” pura e simplesmente não admite o pensamento e a expressão dos católicos (Igreja) progressistas.

Uma das actualmente mais fracturantes questões (perdoe-se-me a bengala) que a igreja de Roma enfrenta, é posta pelo Público:
“No Génesis, diz-se que Deus criou o homem à sua imagem, criando-o homem e mulher. Não há um problema de falta de fidelidade da Igreja a esta palavra, em relação ao papel da mulher?”
Mas o arcebispo, de 65 anos, não se mostrou surpreendido nem hesitou na resposta, certo que invocando uma expressão de um dos menos progressistas papas que a história conheceu. (Claro que NESTA Igreja não pode haver papas progressistas. Leia-se, portanto, um dos papas mais conservadores...). E, de pronto, argumentou: “João Paulo II afirmou que é preciso reencontrar o papel da mulher, recordando que a presença feminina é seguramente mais activa que a do homem. É preciso recolocar o problema. Deve ter-se em conta que não se deve resolver o problema necessariamente de modo clerical. O referente principal na Igreja não é o padre, é o baptizado. Se nos reportarmos a essa centralidade, na pluralidade das expressões, é preciso dar à mulher uma função de relevo. Será um exercício laborioso, num caminho ainda longo, por parte do clero, das mulheres, dos homens e da comunidade eclesial.”
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Colocando-nos numa certa perspectiva, a chave da grande problemática da Igreja (desde quase os seus primórdios, pelos vistos até aos confins dos tempos, a avaliar pelo conservadorismo machista da generalidade dos seus altos dignitários) está na última parte da última resposta desta entrevista, que acaba de ser transcrita.
Todos sabemos e sentimos que se trata de uma resposta arrojada se pensarmos no que é a maioria (da hierarquia) da Igreja.
Por enquanto, trata-se, aqui, da resposta (ousada, repito) de um membro daquela hierarquia que foi capaz de transmitir o que pensa, exactamente, uma grande parte do que ele considera o núcleo fundamental da Igreja: o baptizado. Só que, não sendo a Igreja uma organização democrática, esse núcleo é absolutamente mudo (e submisso, ou, pelo menos, conformista) face ao
aparelho.
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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

VALSINHA

Todos se lembram do LP (como era ainda novinho, aqui, o Chico Buarque!).
Todos!?!... Os da minha geração e por aí...

Não sugiro aos mais novos (a alguns) que gostam de coisas mais vigorosas, (heavy), ritmos mais ásperos...

Mas para nós é interessante reviver.


Claro que, a nós, a Valsinha reporta-nos aos antípodas do Universo que habitamos: a uma serena tranquilidade. A letra e a música (e a interpretação) são, hoje, absolutamente démodées para quem vive no frenesim deste inferno que é o nosso planeta, por caprichosa e insana vontade de meia dúzia de senhores. São a antítese do espírito desenrascado e pragmático, da vivacidade inconsciente, febril e inócua que caracteriza grande parte das gentes da primeira e segunda idades de hoje.

Infelizmente é marginalizado e grotescamente ridicularizado quem, hoje, entre aquelas gerações, não achar os versos desta "valsinha" uma inqualificável piroseira...

Deixá-los. Soltemos o poeta e o louco sereno que existe em nós!



[A revolução estava em curso,
mas a erradicação do machismo
ainda não acontecera definitivamente.
(Em certas mentes acontecerá algum dia?)
Daí, convenhamos, ainda um cheirinho
a essa tão característica latinidade.]


Recordo e faço o ponto da situação: Valsinha, criação de Chico Buarque e Vinícius de Moraes. Interpretação: Chico Buarque.
Música lançada em 1971 no LP "Construção" de Chico Buarque

Relaxe e oiça. E acompanhe (fica aí a letra):
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Um dia ele chegou tão diferente
Do seu jeito de sempre chegar,
Olhou-a dum jeito muito mais quente
Do que sempre costumava olhar,
E não maldisse a vida tanto
Quanto era seu jeito de sempre falar,
E nem deixou-a só num canto,
Pra seu grande espanto
Convidou-a pra rodar.
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Então ela se fez bonita
Como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado,
Cheirando a guardado de tanto esperar.
Depois os dois deram-se os braços
Como há muito tempo
não se usava dar
E cheios de ternura e graça
Foram para a praça
E começaram a se abraçar.
E ali dançaram tanta dança
Que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade
Que toda a cidade se iluminou.
E foram tantos beijos loucos,
Tantos gritos roucos
Como não se ouvia mais,
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Que o mundo compreendeu
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E o dia amanheceu
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Em paz.
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Nota: não foi intencional, não se trata de recordar o início das hostilidades da II Grande Guerra (nem o dantesco e inominável terror que a acompanhou).
Posso pretender, sim, reforçar um apelo e uma enorme aspiração da grande maioria dos seres humanos: PAZ
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