Em tempos deixei nestas páginas um apontamento em que referia um editorial do director-adjunto do Público, Manuel Carvalho, onde ele, acerca do recém-inventado termo “flexi-segurança”, dizia que “a palavra é feia e o seu significado confuso”.
A Europa ouviu-o: mais elegante e muito mais explícito é o termo entretanto introduzido por Bruxelas em substituição daquele, “flexigurança” - concordava eu.
Deixa-se cair a máscara e de segurança, a amputação do termo revela o seu destino.
Flexigurança, se bem entendi (talvez sim, que é um entendimento muito generalizado), é a institucionalização da total liberdade de movimentos do patronato na contratação e no despedimento dos trabalhadores. Mais: de, unilateralmente, definir funções, estabelecer horários e fixar salários. Como ainda de livremente esconjurar recalcitrantes, dividindo-os, transferindo-os, não importa para que lonjuras.
Segurança? Lança-se uma poeira, uma muito vaga e muito pouco convincente promessa, com vista, apenas, a quedar alguns resistentes.
Falava eu nesse tal apontamento, de há meses, na minha convicção de que a flexigurança mais não é que um arremedo, uma caricatura de segurança, “uma panaceia, qual droga paliativa de uma morte anunciada, mas lenta.
No fundo a flexigurança é a confirmação, entre nós, do hire and fire (contratar e despedir) já há muito usado pelos particularmente humanitários e sensíveis patrões americanos.
Como de pronto se deixa ver, trata-se da mais escrupulosa aplicação dos princípios democráticos e do melhor contributo para o diálogo social.
Se dúvidas existissem, aí está a UE a navegar na melhor direcção da democracia e da paz social.
Até quando?