sexta-feira, 20 de julho de 2012

O MINISTRO E O JAGUNÇO



imagem do kaos

imagem da net






Parece haver algo de comum entre elas, mas numa pequena reflexão a que fui conduzido, encontrei entre as duas actividades um ponto muito importante que as afasta de qualquer eventual comparação: a de (certo) ministro e a de “jagunço” - a designação mais comum dos arrumadores de automóveis que enxameiam a cidade.

Só os venenosos e mal intencionados encontram paralelo entre as duas actividades.

Aproveitando uma pausa nos meus afazeres, saí para tomar uma bica.
Quando estava perto do café vejo um rapaz um bocado “mal acabado” que, ia andando e com o braço esquerdo esticado para o lado, subindo e descendo, e com o direito sempre a dar-a-dar num movimento pendular da direita para a esquerda e vice-versa. Que entra no café.

Ao entrar na pastelaria foi com dificuldade que me desviei do indivíduo. Por pouco não levava uma pancada em zona bem sensível do corpo (do braço que pendulava) e um estaladão do braço que, inopinadamente, estica a meia altura.

- “Desculpe lá, ó patrãozinho. Eu não queria pretubá-lo. Mas sabe, a bem se dezer, eu sofro duma doença professional…” - diz-me ele, prevenindo qualquer reacção da minha parte.

Vi logo do que se tratava. E mortinho estava eu por ter dois dedos de palestra com um destes solícitos e indispensáveis arrumadores. Só que, na operação de arrumar o carro, eu não queria fazer essa abordagem: não gosto de perturbar as pessoas quando estão a trabalhar.

- Ó amigo, está desculpado - respondi. Mas falou em doença profissional, foi?
- “Foi. Pois atão se é doença que s’apanha no inxercício da actividade profssional…”
- Ah! Entendo… Mas…
- “Oiça, patrão – interrompeu ele – não quer tomar um cafezinho cá co Abílio? Eu cá bebo um bagacito e como uma bola de Berlim: tou no entervalo do almoço e ando de dieta. O patrão peça o que quiser. Quem paga desta vez é cá o rapaz.”

Tantos bagaços, cafés, bolas e queques já paguei… que resolvi aceitar esta generosa oferta.

- Ó amigo, não quero desconsiderá-lo. Claro que tomo um café.
- “Ora assim é qu’é falar, patrãozinho. Vou já provenir o mangas que serve aqui…”

Sentei-me. O tipo lá continuava com os movimentos dos braços. Desta vez só um deles, aquele que descreve o movimento pendular.

O Abílio sentou-se, também. A mesa era individual e encostada à parede. O meu anfitrião, digamos assim, em vez de se sentar à minha frente, sentou-se ao meu lado. E com o braço do lado oposto àquele em que eu estava, com esse braço sempre a dar-a-dar, agora para a frente e para trás.

- Mas dizia o meu amigo…
- “Abílio, já lhe dince…”
- Desculpe. Dizia então o Abílio que tem uma doença profissional…
- “Inxato! As mazelas que s’arranjam no trabalho não são doenças prufseonais?”
- Sim, geralmente…
- “Claro que sim. Já m’informei na AZAR: é doença prufssional. Ali, preto no branco.”
- Na azar, disse? Ou no azar?
- “Na AZAR: é qu’é a nossa ordem… Primeiro tivemos um sendicato. Atão era o AZAR. Agora é uma ordem: e é a AZAR.”
- …
- “Mas eu esclareço: AZAR é o nome da nossa ordem. E signefica: Arrumadores Zelosos Atentos e Responsáveis…
- Oi, mas isso é a sério…
“Nim mais, pois atão! Quem enventou o nome foi um artista q’andou aí depois duns dias d’apredezagem, que fez um curso como os menistros agora fazem: num abrir e fechar d’olhos…”
- Então é complicado entrar nessa actividade, é?
- “Claro! Isto não é pra q’alquer… Segundo os nossos estatutos temos de ter um curso de uma semana e meia e um estágio de dois meses…
- …!!!
- “Ah, pois! Não é assim à balda, como se fossemos pró governo… Lá, agora!
É um curso de semana e meia, mas no duro. São uma porrada d’horas só com dois entervalitos (pra um copo, uma cigarrada ou um chuto).
É que as cadeiras (é assim que se diz, não é?) são várias (eu leio pra não atrapalhar):
. Estatística do Parque Automóvel
. Sociologia Urbana
. Técnicas arrumatórias
. Relações com os clientes
. Ética do Arrumador
. Arrumatologia I
. Arrumatologia II
. Normas para a abordagem dos clientes normais
. Normas para a abordagem dos clientes difíceis
. Normas para a abordagem dos clientes assim-assim
. Técnicas de defesa dos concorrentes (artes marciais ou similares)
. Regras de trânsito que o arrumador pode (em certos casos) ignorar
. Cálculo (de honorários)
. Princípios de direito comunitário (internacionalização dos arrumadores)
. Noções de História da actividade arrumatória
. Noções básicas de saúde: síndrome do enjeitado
“É um curso entensivo
Isto depois de Bolonha…”
- O meu amigo…
- “Abílio, já lhe dince”
- Desculpe: o Abílio fala que nem um doutor…
- “Mas, oh patrãozinho! Eu tenho de saber dezer estas coisas do meu ofício, n’é assim?”
- Claro, claro.
- “Atão é assim: antes de Bolonha era munta defícil o curso. Tão defícil que havia poucachinhos arrumadores: de canudo e boné.
Agora com dois anos de prática temos uma porrada de créditos (isto é qu’é falar, n’é patrãozinho?) e só temos de fazer duas desceplinas: Arrumatologia I e Técnicas de defesa dos concorrentes. Já qu’a um mnistro deram tantos créditos (sei lá, alguns 350), qu’ele só precisou de fazer uma desceplina, e mesmo essa foi na secretaria, o nosso bastonário também exegiu o mesmo pr’a gente…”
- !...
- “Mas com inzame a sério e defícil pra caramba. O inzaminador é um arrumador batido, com anos de prática. Se tivermos quatro anos de prática os créditos são muitos mais: só temos de fazer inxame de Arrumatologia I, mesmo qu’agente não queira. Não basta falar c’a secretaria, com’o tal menistro que diz que é doutor.
Tudo legal, como o patrão vê. Não é aquela bandalheira dos mnistros que querem ser doutores à força …”
- …
- “Estamos a preparar uma acção de luta para a nossa actividade ser considerada de utilidade pública e para aumentar a nossa tabela de um euro por cada carro, para dois euros… No mínimo…”
- !
- “Atão não é para todos que aumenta o custo de vida?”
- Tem razão – achei melhor concordar. Olhe, amigo…
- Abílio…
- Olhe, Abílio, gostei desta palestra. E tem razão: os ministros deviam pôr os olhos em vocês e fazer tudo como deve ser…
- “Inxato”
- Agora, se me dá licença, vou à minha vida.
- “Por favor, patrãozinho. Tamém gramei este papo. Eu ia pagar… Mas s’o patrãozinho fezer questão em fazê-lo… Na s’acanhe. Qu’eu até me esqueci do pilim no carro…”
-!!!
- “Claro que tenho uma banheiroca barata. Com a folha que faço todos os dias, à volta dos 50, 60 euros (qu’isto aqui é tudo gente de bago…) dá pra um chutito e umas curvas…”
- …
-“Adeus, patrãozinho”. Isto tá bom não é pr’a gente. É p’r os chicos-espertos que chegam a mnistros, como esse que veio lá de Tomar…






domingo, 15 de julho de 2012

O EGO DA CRIATURA ULTRAPASSA TODAS AS BARREIRAS


imagem do Público de hoje


Centremo-nos apenas num, por ora: no, neste momento, mais mediático.
A pose não é do séc. passado, nem de há 30 anos. É de há escassos oito anos.
O recolhimento e a unção contrasta com a (aparente) dos demais.
Mesmo nesta circunstância o seu ego era o centro da acção.
Ele nem sequer procura aparentar nada.
Nesta altura – pelos vistos já esquecendo alguns preceitos e mandamentos da religião que se infere ser a sua – estava já mais preocupado com o seu futuro e trabalhava para ele com afinco… Fosse à custa do que fosse. Qual religião! Qual ética! Quais valores!

Coitado do moço!







 

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