quinta-feira, 29 de novembro de 2007

COMO IA DIZENDO...

imagem DD


Acerca, ainda, do meu post de ontem, em que falava do desencontro de opiniões de Vital Moreira e de António Barreto, em matéria deste Tratado de Lisboa, lembrei-me – a propósito dos, ali referidos, “princípios democráticos” e “diálogo social” – da flexigurança, um bom exemplo da presença do espírito daqueles princípios e do mencionado diálogo nos dispositivos programáticos da União.

Em tempos deixei nestas páginas um apontamento em que referia um editorial do director-adjunto do Público, Manuel Carvalho, onde ele, acerca do recém-inventado termo “flexi-segurança”, dizia que “a palavra é feia e o seu significado confuso”.

A Europa ouviu-o: mais elegante e muito mais explícito é o termo entretanto introduzido por Bruxelas em substituição daquele, “flexigurança” - concordava eu.

Deixa-se cair a máscara e de segurança, a amputação do termo revela o seu destino.

Flexigurança, se bem entendi (talvez sim, que é um entendimento muito generalizado), é a institucionalização da total liberdade de movimentos do patronato na contratação e no despedimento dos trabalhadores. Mais: de, unilateralmente, definir funções, estabelecer horários e fixar salários. Como ainda de livremente esconjurar recalcitrantes, dividindo-os, transferindo-os, não importa para que lonjuras.

Segurança? Lança-se uma poeira, uma muito vaga e muito pouco convincente promessa, com vista, apenas, a quedar alguns resistentes.

Falava eu nesse tal apontamento, de há meses, na minha convicção de que a flexigurança mais não é que um arremedo, uma caricatura de segurança, “uma panaceia, qual droga paliativa de uma morte anunciada, mas lenta.

No fundo a flexigurança é a confirmação, entre nós, do hire and fire (contratar e despedir) já há muito usado pelos particularmente humanitários e sensíveis patrões americanos.

Como de pronto se deixa ver, trata-se da mais escrupulosa aplicação dos princípios democráticos e do melhor contributo para o diálogo social.

Se dúvidas existissem, aí está a UE a navegar na melhor direcção da democracia e da paz social.

Até quando?


quarta-feira, 28 de novembro de 2007

TRATADO DE LISBOA de 2007

imagem Paul Hanna/Reuters/Expresso
o recente anúncio do acordo



Na sua crónica de ontem, no Público ("Democracia europeia"), Vital Moreira/VM transcreve, de António Barreto/AB (crónica “Pobre Europa”, Público de DM 18NOV07), o que ele chama um “inesperado ponto de vista” pouco fundamentado: "Sob a aparência de um melhoramento, concretizado em competências marginais conferidas ao Parlamento Europeu, este tratado é um dos mais potentes recuos da democracia na Europa. O Parlamento Europeu, pela sua natureza, estrutura e função, não é uma instituição favorável à democracia. Por outro lado, este tratado relega definitivamente os parlamentos nacionais para a arqueologia política e confere-lhes um estatuto tão relevante para a liberdade como o de uma qualquer direcção-geral dos recursos hídricos."

Barreto faz esta afirmação depois de ter enumerado vários pontos em que a UE tem desenvolvido um grande esforço de grandeza (de importância e indispensabilidade nomeadamente em termos de respeito e poder), no sentido de ficar a par, mesmo acima, dos outros países. Além de que, no mesmo contexto, “pretende ser uma espécie de modelo: a democracia mais avançada, mas também a mais social”.
Tudo isto para, pouco depois, confirmar: “... A Europa quer... Mais Europa. Mais coesão, mais integração, mais federação, mais uniformidade, mais coordenação, mais eficácia, mais políticas únicas e menos forças centrífugas. O tratado constitucional é agora, dizem, o instrumento privilegiado para alcançar esses objectivos. É o meio indispensável à ambição. A diversidade europeia, que todos elogiam sem convicção, é vista como uma fragilidade. Reduzir esta variedade é o fim último deste tratado”.

É este o “inesperado ponto de vista” para VM.

Para o professor de Coimbra, o Tratado de Lisboa é um baú de grandes e agradáveis surpresas. Ele garante os «’princípios democráticos’ da União» e «é ainda no contexto da democracia participativa que deve ser valorizada a instituição do "diálogo social" a nível comunitário, articulando as instituições europeias e os "parceiros sociais"»

Do que talvez VM, que não é neoliberal, se esteja a esquecer, é que a massa dominante na União - soberanistas, federalistas e neoliberais - não entende a democracia nos mesmos termos que nós.

Talvez por isso seja insuficiente (se é que é crível, na prática) que «os parlamentos nacionais [tenham sido] reconhecidos como partes interessadas no funcionamento da UE e nos procedimentos comunitários», como afirma o constitucionalista.

Bem ao contrário do que proclama VM, o que se constata é que os parlamentos nacionais estão cada vez mais condicionados, na sua actuação, por directrizes e regras ditadas pela União.

Uma certa intuição leva-me a inclinar-me mais para AB do que para VM, pese embora a aparente bondade dos argumentos deste.

Para além de alguns subsídios - até ver - não me parece que os “pequenos” tenham algo a lucrar com a implementação do tratado, ainda que ele tenha, de facto, roupagens vistosas e simpáticas. Mas as roupagens, como geralmente acontece, cingem um conteúdo. Melhor dito, envolvem um continente que, por sua vez, esconde um conteúdo incerto.

Talvez, daí, a incredulidade e o pessimismo de tantos europeus.

O que fará correr alguns não-neoliberais?
Não se trata de uma insinuação, minimamente maldosa. Trata-se de uma dúvida que advém do não completo esclarecimento das tais virtudes. Explicadas elas, melhor, mas tendo em conta a realidade político-social que é a nossa (não uma imaginada e ideal), pode ser que nos convençamos.

Aguardemos.

(Os portugueses têm demonstrado à maior evidência que têm um longo treino em matéria de aguardar. Esperar, é a nossa sina).
(Até quando?)


terça-feira, 27 de novembro de 2007

DIFERENÇAS



Convém recordar:
um blogue é, sobretudo, um repositório de temas tratados
numa perspectiva estritamente pessoal.
Logo, onde cada um será tão transparente quanto pode ou quanto quer.


Uma coisa que por certo não me falta (entre tantas de que careço imenso) é capacidade de autoavaliação e autocrítica. Que pratico.

O jovem tem metade da minha idade, mas uma capacidade de análise, um saber, uma estruturação e uma profundidade de raciocínio, um conhecimento do mundo (político) (é historiador, ajuda bastante, é certo), um interesse de discurso que são o dobro, pelo menos, dos meus.

Não é só mais perfunctória, a minha análise. É mais rudimentar.
Pairo mais ao nível dum sentimento comum, que se prende com uma sensibilidade, tal como a dele, diferente da conservadora ou da neoliberal, na apreciação, mas mais primária. Cavalgo o escândalo das evidências sem curar tanto da etiologia dos acontecimentos.

Fica demonstrada, à saciedade, a diferença entre o crítico conhecedor, profundo, maduro, e o amador atrevido e menos consistente.
Seja: ouso comparar o trabalho do jovem Rui Tavares, hoje, no Público, sobre o significado de Anápolis, e o meu desabafo de ontem sobre o mesmo evento.
Penalizo-me pela minha insuficiência, orgulho-me da sua capacidade de crítica e clareza.



Curiosamente, na mesma edição daquele periódico encontro um trabalho de Randa Nabulsi que parece poder servir, de algum modo, de suporte àquele meu desapontamento e exteriorização.

Mesmo assim, há uma considerável distância entre o que eu ali (pre)sinto e o que afirma a mesma Delegada Geral da Palestina na sua crónica (“É tempo de uma paz justa”) quando confessa: “O tempo é inimigo da paz e, neste momento, em Annapolis, não deveremos perder tempo com relações públicas e fotos de família, mas sim pensarmos que é uma oportunidade a não perder no avanço do processo de paz e estabelecer datas definidas”.

Na verdade não tenho a mesma esperança que Randa Nabulsi. Mas estou absolutamente de acordo quando ela diz que “é tempo de se alcançar uma paz justa e duradoura na nossa tão sofrida região”.
Sem dúvida.

Para quando?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

CIMEIRA DE ANÁPOLIS




Não acredito que a Cimeira de Anápolis (Washington), amanhã, adiante um segundo ou um milímetro, que seja, para a tão almejada paz no Médio Oriente.
Nem será sem um sorriso complacente dos menos conservadores, ou sem um esgar dos não conservadores, que alguém ouve falar na intenção de Bush de “relançar um processo de paz” naquela zona do mundo.
Os americanos e os restantes conservadores podem querer iludir-se com essa eventualidade, mas mais ninguém acredita nela.
Não nos iludamos: é por de mais evidente e está sobejamente demonstrado que o actual presidente dos EU não é um amante da paz.

Dizia, há dias, Esther Mucznik, no Público (“O verdadeiro teste da paz”, QI 22NOV): “contrariamente ao consenso generalizado nas chancelarias ocidentais, a chave da paz israelo-árabe não é o Estado palestiniano. É o abandono do sonho de liquidar Israel”.

A investigadora em assuntos judaicos talvez tenha a sua razão: é capaz de ser “o consenso generalizado nas chancelarias ocidentais”. Mas só (praticamente e em grande medida) dentro delas. De resto, creio estar longe tal consenso.

É irrecusável que o território do estado de Israel se encontra rodeado de paióis. É verdade que muitos palestinianos (e muçulmanos em geral) não aceitam o reconhecimento do Estado de Israel. Não tanto, talvez, pela atitude agressiva e dominadora, a qualquer preço, de Israel, mas pela presença, bem pouco subliminar, dos EU, em tal processo, na prática, contrariando aquele proclamado anseio. O que acicata palestinianos e vizinhos contra o estado israelita (o tal “sonho de liquidar Israel”) é, creio que acima de tudo, o indisfarçado apoio que os EU dão a Israel. Assim como Israel não tem a menor hesitação em assenhorear-se de territórios palestinianos e em agredir os seus habitantes, porque – passe o plebeísmo – sente as costas quentes.
O problema da paz no Médio Oriente, e em grande medida do anti-semitismo – estamos muitos (a maioria, seguramente) convencidos disso – está na intromissão dos Estados Unidos na matéria e no evidentíssimo apoio e protecção que dispensam a Israel.

Israelitas e palestinianos não teriam outra alternativa que entender-se, não foram as ajudas com que sabem poder contar.

Não é com o dúbio e – pior ainda – dúplice papel com que o presidente Bush se apresenta nesta tentativa de aproximação que se resolve o problema. Que se atinge a paz entre esses povos.

Bem pelo contrário – essa sim parece ser a convicção geral.



BOLERO PARA VIOLONCELO

O Bolero de Ravel executado por um quarteto, mas com um único violoncelo...
Trabalho, por certo, difícil.
Original e bela execução.
Grande criatividade.



Bolero for cello

domingo, 25 de novembro de 2007

A VELHA RAPOSA




Acerca da actual maioria, DESTE partido socialista, ouvi, esta manhã, na TSF, a entrevista do suspeito/insuspeito Mário Soares ao DN e àquela estação de rádio, na pessoa dos respectivos directores, João Marcelino e José Fragoso.

Suspeito e insuspeito.
Eu explico:
suspeito (afirma não ter metido o socialismo na gaveta. E disse-o sério!).
Insuspeito (gostava de ver Sócrates a governar um bocadinho mais à esquerda
– afirmou sem azedume nem a mínima contundência).

Pouco ou nada disse de novo. Foi mais a velha raposa que falou do que o socialista.

Criticou o capitalismo “que não se interessa pelas pessoas. Só se interessa em que a taxa de crescimento suba”.
Talvez quisesse insinuar que não é esse o capitalismo que subsiste neste momento entre nós... E pior: com uma ajudinha importante do partido do governo, que se diz socialista.
Daí a já referida confissão: “eu gostaria que o PS agora se voltasse um bocadinho mais para a esquerda”.

“Um bocadinho mais para a esquerda”. Fiz uma leitura possível, talvez a mais provável: “minimamente para a esquerda”.
Mas a frase tem mais que se lhe diga: “agora” – disse a propósito desse desejo.
Conjugando ambas as expressões, foi como se tivesse afirmado: “Certo que é preciso – e Sócrates, aí, andou bem – dar atenção, uma mãozinha, apoio aos grandes empresários, ao grande capital... Mas que diabo! Já se fez tanto! AGORA seria altura de se voltar MINIMAMENTE para a esquerda”...
E de tal maneira acha que a onda neoliberal tem sido beneficiada que acrescenta: “(Sócrates) deve ter grandes preocupações, a partir de agora, com o mundo do trabalho. Deve dialogar com o mundo do trabalho”.
Note-se, de novo: “A PARTIR DE AGORA”. Talvez como quem diz: “c’os diabos, nem eu fui tão longe. Já chega de os trazer ao colo, ao patronato e seus ídolos, e penalizar o povão. É altura de dar um arzito de socialista” – é o que parece querer dizer a velha raposa. Sem protestar – qual quê! Sem recriminar – muito menos! Sem uma censura – era o que faltava!
Antes com a complacência de quem compreende. E aceita. Mas sem mais exageros que os seus.

Depois, Soares não andará propriamente de olhos fechados e “ausente”... Não espanta que deixasse escapar um “é chocante ver como as desigualdades sociais se agravaram nos últimos tempos.”

Mais disse ainda que se a direita aplaudiu a onda neoliberal, o PS não lhe foi indiferente...
Não é o que se depreende do discurso oficial do partido socialista, mas é uma confirmação vinda de personagem insuspeita para o próprio partido.

Bonacheirão, Soares, conformado e compreensivo com tanto do que tem assistido, deixa, no entanto, um recado: atenção, José! Talvez seja altura de abrandar nessa galopada neoliberal e fazer uma política minimamente à esquerda. Pese, embora, a grande flexibilidade que temos de ter na época que vivemos, lembra-te, José, que o partido tem-se reclamado, tradicionalmente, de uma postura de esquerda, em defesa dos marginalizados, dos carenciados de rendimentos, dos trabalhadores, dos reformados, dos desempregados. Do povo.

É claro que a entrevista já foi, por ESTES socialistas, esquecida.
Os conselhos nem ouvidos foram.
Tudo vai continuar na mesma.

Até quando?

QUANDO A VIDA VALE A PENA

Pas de deux.
Ela sem um braço, ele sem uma perna. De mãos dadas.


Quando a arte sobreleva os recursos.
Quando a vontade não conhece obstáculos.
Quando a dificuldade é palavra desconhecida.
...
Quando a vida vale a pena.


Magnífico.
Bravo!
Belíssimo poema, esta execução!


sábado, 24 de novembro de 2007

PARTIDOS-EMPRESAS


uma das modernas ágoras da actualidade
(bolsa de Hong Kong)




Aí está a solução que se impunha e que tardava. Os partidos transformarem-se em empresas e o Estado, obviamente, desde já, ou mais tarde ou mais cedo, numa Empresa de empresas.

Fica, então tudo claro e perfeito.
Deixa de haver preocupações com maiorias absolutas, com despiques partidários, com votações parlamentares. Basta que um partido-empresa poderoso lance uma OPA sobre outro menos sólido. Ou faça com ele uma proposta de fusão ou com outro qualquer. Basta, até, que a cotação na bolsa de uma empresa-partido seja mais favorável que a de outro ou outros que lhe possam fazer concorrência.
Aí está: a concorrência é a regra universal, seja na esfera privada seja na pública. E o lucro, a mola real.
Tudo sob os auspícios da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que verá assim, finalmente, alargada a sua área de intervenção.
E virando a bolsa de valores na nova ágora, onde tudo o que respeita à comunidade é avaliado, discutido e decidido.

Nessa altura nem os parlamentos serão necessários: o partido-empresa dominante dita as regras e colhe os frutos.
Também as eleições deixam de ter razão de existir. Tudo dependendo, em cada momento, da cotação de cada empresa-partido. Desperdícios com eleições e com parlamentos, e outros gastos públicos deixarão de se realizar, sempre em benefício do partido-empresa e do aumento dos dividendos dos seus principais accionistas, para onde tais verbas serão, naturalmente, canalizadas.
Claro que os minúsculos accionistas têm a costumada sorte destes: sustentam a empresa, mas não colhem quaisquer frutos. E o dividendo que auferem (quando o receberem) é tão irrisório como a sua posição nesse universo.

Os partidos ter-se-ão transformado, então, em Empresas com garantida e grande participação do erário, com dotações do OE asseguradas, mormente em tempo de reajustamentos, quando os presidentes (dos pequenos partidos/empresas) e os CEO (das maiores) concorrerem ao lugar de superCEO, o antigamente designado primeiro-ministro.

Serão, assim, legalizados e tornados transparentes, porque normais, de acordo com a nova ética política, os gordos réditos mensais e as milionárias reformas, garantindo os faraónicos presente e futuro dos grandes accionistas, que serão os únicos intervenientes na
res publica e seus únicos beneficiários.
Nesta perspectiva, do Estado-empresa de empresas, a raia miúda (os pequenos accionistas e os não accionistas) será poupada aos arcaicos, incómodos e cansativos direito-dever de voto. Da mesma forma que as suas obrigações se confinarão aos três residuais deveres de trabalhar, pagar impostos e não perturbar o sossego dos accionistas do Estado-empresa.

Claro que desta situação advém um novo conceito de democracia. O obsoleto e absurdo conceito de democracia, que era definido, desde os velhos filósofos gregos, como "governo do povo, pelo povo e para o povo", será actualizado, e por isso
ligeiramente alterado, para: “governo dos accionistas do Estado-Empresa, apenas por eles próprios ou seus mandatários, exclusivamente para eles mesmos”.

Assim está bem. Os movimentos da Terra não serão afectados na sua inércia espacial e dentro dela a felicidade transbordará, perpetuando o bem-estar dos senhores do planeta.
Que mais poderemos todos ansiar?

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

FAMÍLIA BIOLÓGICA OU “FAMÍLIA AFECTIVA”






O tema do Fórum TSF de hoje, recordando, entre outros, o recente e muito comentado caso Esmeralda, foi acerca da problemática opção entre pais biológicos e “pais afectivos”.

Como sempre, programa interventivo, convidando especialistas nas matérias a exporem os seus argumentos, e dando voz à grande massa anónima, a quem é dada a possibilidade de nele participar.

Não ouvi todo o programa, mas, de entre os particularmente entendidos, ouvi a dra Manuela Eanes, fundadora do IAC/Instituto de Apoio à Criança, a que preside e de que é uma das mediáticas dinamizadoras.
Como ouvi um conhecidíssimo pediatra, Prof dr Gomes Pedro, director do Serviço de Pediatria do hospital escolar de Santa Maria.

Tanto um como o outro puseram a tónica, na abordagem e tratamento de tais matérias, na supremacia da criança. No seu superior interesse.
O prof Gomes Pedro referiu mesmo a necessidade de ultrapassar o discurso e a posição anacrónica da lei e dos tribunais nesta área. De os alterar, obviamente. De os actualizar, em suma, de acordo com teses agora predominantes e comprovadas pela experiência dos diferentes actores no processo.
A criança, ela sim, tem de ser o centro da atenção e das preocupações, na resolução de tais casos. Pese embora uma mais conservadora tradição ainda um tanto arreigada, e projectada na lei, da prevalência e protecção, tendencialmente só e em exclusivo, da família biológica.

Muitas intervenções de ouvintes da estação, confirmaram, em grande maioria, a nova atitude de dar relevo, supremacia e atenção à criança.
Realçando, muitos deles, a necessidade de ouvir a própria criança – porque não –, quando ela já esteja minimamente apta a revelar o seu sentimento, como deveria ter acontecido no tal recente caso muito mediatizado.

Foi muito esclarecedor, e particularmente importante (por vezes emocionante, mesmo) o depoimento de pais afectivos e de cidadãos (adultos) que, na sua infância, passaram por esta experiência, na sua perspectiva passiva, e que deixaram bem expresso a sua absoluta e indiscutível concordância com o facto de terem permanecido nas “famílias afectivas” que, por qualquer razão ponderosa, as acolheram. Algumas deixando bem claro a sua completa indiferença relativamente à família biológica. Com maior incidência de declarações em relação às mães biológicas, por quem declaravam não sentir absolutamente nada.

Claro que nesta, como em todas as matérias, é preciso ter presente a velha regra: est modus in rebus (para tudo existe uma medida e um limite). Tal como na macro sociedade existem os lobbies que se batem por certos interesses e soluções, igualmente nos pequenos núcleos se formam “partidos” a favor de uma ou outra solução.

É evidente que quem decide, não se pode deixar impressionar ou influenciar por tais manobras.
Devendo ficar claro que não se trata de se ser apologista, à partida e sem reserva, de uma ou outra posição.

O primado da criança tem de ser o critério.


SAPATEADO

Magnífico!

Belo sapateado – essa dança tão caracteristicamente americana.

Ritmo, sincronismo, rigor.
Arte, técnica, criatividade.
Espectáculo!

(Pena a inferior qualidade da imagem do vídeo)



quinta-feira, 22 de novembro de 2007

AS FATIAS GROSSAS E AS DIETÉTICAS




No ciberespaço circulam, já há bastante tempo, anexos dispersos acerca da privilegiadíssima, faraónica e milionária reforma de alguns dos nossos concidadãos. Políticos, é claro.

E também sobre os gordos proventos de alguns jovens, na função pública, onde geralmente se praticam vencimentos mais dietéticos. Jovens esses, obviamente, filhos, “afilhados”, protegidos dos políticos.



Já há bastante que sabemos que, entre nós, existem dois mundos: o dos políticos e respectiva roda, e o da marabunta.

Claro que em Portugal sempre foi assim. Só que noutro tempo havia, talvez, mais discrição. Por parte de alguns, um certo pudor, até.

Hoje, não. Os jornais e o Diário da República dão-nos conta de algumas situações. Que doutras nem se fala. A não ser na dita informação que circula no éter.

Todos casos escandalosos. Mas alguns deles, além de escandalosos, absolutamente impensáveis se comparados com figuras desempenhando as mesmas funções noutros países. Mesmo em países ricos. Claro que nessa comparação, os nossos levam a palma aos seus congéneres. E de longe.

Há dias recebi de Paris um dossier completíssimo sobre a matéria. Casos avulsos que foram compendiados. Onde até, talvez, se cometa eventual injustiça relativamente a algumas situações aí citadas.
Mas isto é assim: quando a informação é escassa, avança a imaginação. E nessa altura confundem-se justos e pecadores.

Alguns deles, porém, de tão repetidos e fundamentados, não cheira que se fiquem pela categoria dos boatos sem fundamento, e por inverdades.

Hoje, no Público, uma leitora (identificada) tirou-se dos seus cuidados e de uma forma, o mais discreta possível, abordou o assunto, numa “carta ao director”.

E rezava assim:
“Há dias, o Instituto Gama Pinto anunciava uma vaga para médico oftalmologista com o vencimento de menos de dois mil euros e uma câmara municipal abria concurso para engenheiro electrotécnico com vencimento de 1307 euros. Se compararmos com o vencimento anunciado no Despacho 22237/2005-2.ª série do Ministério da Justiça de 3254 euros para assessoria na manutenção de conteúdos da página oficial daquele ministério, com um assessor que foi ganhar 10.000 euros, com algumas nomeações na Galp e os vencimentos de uns tantos no Banco de Portugal e mais a reforma de um técnico superior de 1.ª classe que acumula com outras remunerações e mais umas nomeações, reformas e acumulações que nos saltam nos jornais ou das publicações oficiais, ficamos com a certeza de que há uns que comem bolos todos os dias e muitos, muitos pouco mais que um caldo. E uma grande parte da população deita-se todos os dias mesmo sem um caldo.”

Nem da “história” se revela, aí, uma centésima parte! E quanto a nomes, preferiu omiti-los.

Trata-se, aliás, aquela carta, de uma reflexão muito serena mas muito realista acerca do panorama social no país.
Depois de lembrar o tema das notícias e das conversas de todos os dias – desemprego e baixos salários – e da consequente insegurança com que se encara o futuro, a leitora deixa um texto pesado e uma dramática previsibilidade:
“O fecho de empresas é notícia diária, muitos ordenados estão atrasados, as reformas ameaçadas e até o Estado está em cacos: nada nos garante que amanhã haja pão em nossa casa.Será da conjuntura, da globalização mas muito também se deve à desumanização das decisões dos nossos governantes: sem políticas que tenham o cidadão como motor e principal alvo das contrapartidas, sem decisões que assegurem um rendimento mínimo aos trabalhadores e lhes possibilite projectar-se no futuro e, além do trabalho, poder usufruir de uma vida com alguns sonhos, não haverá sociedade saudável. O país, mais cedo ou mais tarde, estiolará.”

Voltando à questão do duplo critério na distribuição das fatias - umas bem grossas, outras muito finas, impondo um muito rigoroso (quantas vezes desumano, mesmo) regime, consoante o destinatário -, só me espanta que certo jornalismo de rigor se não tenha ocupado, já, deste desatino em que por cá se vive (ou sobrevive).

Esse jornalismo de rigor deveria investigar a verdade, ou não, do que se escreve e circula por aí, com muita insistência, no correio electrónico e na blogosfera... Seria uma denúncia acertada e a desmontagem de muito farisaísmo e de tanta hipocrisia.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

“GOD BLESS AMERICA”

Mais um caso de violência nos EU.

Agora é a notícia de duas crianças (!), de 8 e 9 anos (!) que, numa cidade do estado norte-americano da Geórgia, foram acusados de rapto e violação de uma jovem de 11 anos (!)...

“A mãe da rapariga confessou ‘não saber como reagir’ quando a filha lhe contou o sucedido”. Depois acrescentou uma declaração que não me parece revelar grande angústia ou revolta com o sucedido. Afigura-se-me mais como uma atitude conformada, ainda que revelando uma vaga preocupação. De facto afirmou: “tem que se lhes dar uma lição porque se eles lhe fizeram isto, podem bem fazê-lo a qualquer pessoa. E quem sabe, quando crescerem, o que é que podem fazer a outras raparigas”.
Bom, o meu espanto (e talvez de muitas outras pessoas) é porque se trata de violência sexual. Não de um acontecimento sem significado e sem importância entre crianças.

Por sua vez, “o advogado lembrou que este deve ser considerado ‘um caso isolado’ e que não há nada que exija preocupações especiais”.

A verdade é que casos isolados de violência (em geral), mesmo entre crianças e adolescentes, se repetem com imensa frequência naquele país. Sendo sabido, também, que a “educação” de muitas crianças, nos Estados Unidos, passa por experiências, incentivos e aprendizagens que não serão considerados nada normais por qualquer pedagogo. Recentemente deixei aqui um vídeo (17SET, “públicas virtudes”) sobre a matéria. Hoje deixo outro apontamento também americano. Aliás este pequeno vídeo que me foi enviado recentemente tem como título a conhecida frase “God bless America”. Repare-se na idade do “aprendiz”...


Será imaginável uma cena destas numa família normal portuguesa ou de qualquer outro país da Europa?

terça-feira, 20 de novembro de 2007

A LEI E A DEONTOLOGIA PROFISSIONAL







É muito difícil (talvez impossível) deixar de dar razão ao “parecer” de hoje, do Prof Vital Moreira, na sua habitual coluna no Público, quando acerca do estatuto deontológico da Ordem dos Médicos, que condena como “falta disciplinar grave” a intervenção dum médico numa interrupção voluntária de gravidez, levada a cabo de acordo com a actual lei, lhe chama abuso de poder corporativo.
É que uma corporação profissional pública não pode funcionar como uma associação profissional privada, de livre e voluntária inscrição e porta aberta. A Ordem dos Médicos é uma instituição de inscrição obrigatória para quem (devidamente habilitado) queira exercer medicina em Portugal, que tem jurisdição sobre toda a classe e a quem o Estado atribuiu certos poderes públicos, designadamente o poder regulamentar e o poder disciplinar. Mas só tem os poderes que lhe forem conferidos por lei. O seu poder regulamentar deriva, assim, da lei e não pode opor-se-lhe. Nem estar acima dela. É óbvio e elementar.

Numa associação privada já será diferente, porque a ela só aderem e apenas se submetem às suas directrizes os que estiverem de acordo com os seus princípios e com a sua regulamentação. Mas, aí, o máximo que pode acontecer a quem contrariar a regulamentação da colectividade é ser censurado ou expulso da mesma. Mas nunca privado do exercício da profissão. Como é evidente, tal foro só vale para os seus associados.

Recorda ainda o mesmo colunista que os médicos que eventual e individualmente pretendam eximir-se a praticar actos médicos que considerem contrários às suas convicções religiosas ou morais (como pode ser a prática do aborto), têm possibilidade de invocar o direito (constitucional) de objecção de consciência. Isso, sim. Mas imporem a todos os mais os seus critérios pessoais de avaliação é que não podem, já que outros há que não só não partilham tais valores como pretendem cumprir as suas funções profissionais.

Isto é o que em linhas muito gerais, e quanto ao cerne da questão, defende, e bem, o professor.

Em suma, tem razão VM quando afirma que «não se pode admitir que uma corporação profissional pública se coloque», sem margem para dúvidas, «fora e acima da lei». Como quando afirma que «as Ordens não podem pretender ser simultaneamente entidades oficiais de regulação da profissão e instâncias de censura moral à margem da lei».

Aliás, e no mesmo sentido, a Procuradoria-Geral da República já emitiu um parecer confirmando a ilegalidade do actual código deontológico da Ordem dos Médicos.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

MAIORIA ABSOLUTA

Partenon - um símbolo duradouro da democracia

Não sou politólogo. Nem analista político.
Sou apenas uma pessoa que pensa. Também em termos de política. E que, naturalmente, em matéria politica, se baseia em fenómenos e factos verificados. Na sua grande maioria confirmados. E quando não - porque objecto de fortes suspeitas e de inquietantes dúvidas – não entrando com eles em linha de conta.
Sem outro “laboratório” que não seja a experiência da vida que o rodeia. Sem mais testes que aqueles que os media fornecem ou permitem organizar.
(A suspeita e a dúvida são altamente demolidoras. E tornam, muitas vezes, irrecuperável, ou quase, a imagem de alguém, quando inocente).

Mas isto, política, agora, porquê?

Porque estou em crer que, numa democracia, as maiorias absolutas são, para o regime em si, mais perniciosas que vantajosas.
Tem-se confirmado que a maioria absoluta é o melhor ingrediente, o melhor atalho para (um)a corrupção do regime democrático. É, pelo menos, o germe do autoritarismo e da distância dos enfatuados.
Mesmo que tal maioria não desperte o “apetite” autoritário do líder do partido vencedor – porque não residam nele os necessários genes -, vai desencadeá-lo nos seus apoiantes ao nível dos órgãos do poder.
Mas é evidente que a primeira conjectura é meramente académica, entre nós, dado que os nossos políticos têm, na sua grande maioria – quase totalidade, melhor dizendo – essa devoradora apetência, sendo, em tal circunstância, autoritários e autistas. Comprovadamente.
Penso que a maioria absoluta é o equivalente (ou próximo dele) à “unanimidade” das ditaduras.
A maioria absoluta, geralmente, se não corrompe, fragiliza imenso a democracia.
E todos ficamos a perder, salvo as elites que engrossam essa maioria.
Não sou, pois, apologista de maiorias absolutas. Talvez me conformasse mais se se alterassem as regras da votação, no parlamento, aumentando o número de temas e áreas para cujo vencimento fosse necessária a maioria de dois terços. E mesmo assim teria fortes dúvidas em aceitá-la.
Democracia é transparência. Democracia é participação alargada. Democracia é liberdade, não arbitrariedade. Democracia é igualdade, não segregação. Democracia é a possibilidade de estar mais próximo da verdade. É a única via que a ela pode conduzir.



LA TRAVIATA - LIBIAMO, NE' LIETI CALICI...

E que tal acordar e ouvir Verdi?
É verdade, e uma vez mais LA TRAVIATA.



Trata-se de uma das árias mais conhecidas e talvez a mais popularizada da ópera La Traviata, "Libiamo ne’lieti calici", também conhecida como “cena do brinde”, do primeiro acto.

Este vídeo relembra a apresentação da ópera no Festival de Salzburg, num espectáculo dirigido por Willy Decker, em que nos principais papéis, de Violeta e Alfredo, estavam a russa Anna Netrebko e o mexicano Rolando Villazón, e em que a orquestra foi dirigida por Carlo Rizzi.

Recordo, muito sucintamente, o conteúdo do libretto de Francesco Maria Piave para a LA TRAVIATA de Verdi.
Trata-se da história, baseada no romance A Dama das Camélias de Alexandre Dumas Filho, de uma leviana cortesã (la traviata/a transviada) e dos seus explosivos amores na Cidade das Luzes.
E o romance como nasceu?

Nascida Rose Alphonsine Plessis, a jovem um dia adoptou o nome de Marie Duplessis, por achar o nome mais elegante. De origem muito modesta, mas de rara beleza, aos 14 anos foi viver para Paris. Pouco depois, levada para a alta-roda da nobreza, pela mão de um duque, logo se tornou numa cortesã a quem nunca faltou amantes. Do seu romance com Alexandre Dumas sobrou, a este, inspiração para o seu mais celebrado romance. A Dama das Camélias foi ela, Marie Duplessis. Marie morreu aos 23 anos, tuberculosa, quando a beleza já só era uma memória de muitas memórias.

Os protagonistas do romance, Marguerite Gautier e Armand Duval, deram origem a Violetta Varéry e a Alfredo, da ópera de Verdi.
E o enredo será, sensivelmente, o mesmo.

domingo, 18 de novembro de 2007

“A ESCOLA DO VAZIO”






No seu blogue, “A VER O MUNDO”, sob uma sua frequente rubrica, Pensar, Jorge Carreira Maia, professor de filosofia no ensino secundário, deixou, na SX 16NOV, uma reflexão impressionante.

Extraordinária e sentidamente pungente.


“A ERA DO VAZIO” implicaria “a escola do vazio”! inevitavelmente.

Texto soberbo! Donde ressalta, sem subtilezas, a desilusão, a desolação do autor.
Reflexão dorida e magoada de quem quer continuar a ser responsável e obrigam a pactuar com a irresponsabilidade.

Escrito com a amargura de quem se despede dum sonho que já esteve mais perto da sua realização.

Não acredito que se possa prosseguir neste trajecto de irresponsabilidade e facilitismo... Mas quem virá repor a exigência em que se devem "moldar" (num sentido livre e positivo) os homens de amanhã?

E quando?

URGE ESTARMOS MAIS ATENTOS!

REPITO: TRATA-SE DE PREPARAR OS HOMENS DE AMANHÃ!



Texto exemplar, também este, que marca uma época e denuncia um dos seus graves problemas.

Leia
A ESCOLA DO VAZIO, de Jorge Carreira Maia.

sábado, 17 de novembro de 2007

“A IDADE MÉDIA DE ROLLS-ROYCE”

uma jovem saudita


Era um dos grandes destaques do Público de hoje, com chamada logo na primeira página. (Certo que com uma imagem, de grande tamanho, de uma saudita-xiita com o seu xador, mas de tão má qualidade, se copiada, que a substituí pela que deixo acima)

VIOLADA E CONDENADA
200 CHICOTADAS – era o título do destaque. A que se seguia o texto:
“Depois de apresentar um recurso à pena aplicada aos seus violadores, uma mulher saudita viu ontem a sua própria sentença agravada: inicialmente condenada a 90 chicotadas ao abrigo das leis de segregação que proibem homens e mulheres não familiares de estarem juntos em público, a xiita de 19 anos, violada 14 vezes por um grupo de sete homens, viu o número de chicotadas crescer para 200 e foi condenada a seis meses de prisão.”


Uma pessoa fica entupida. Incrédula.

.

Depois...
.
... Emudece, hesita,
.
enrubesce, medita, arrefece,
.
não acredita, endurece,
.
paralisa... Mas não esquece!



ESPECTÁCULO DE PINTURA

Que tal começar o dia com um trabalho dum pintor sensacional?

Dan Dunn

Foi-me enviado como um génio.
E é, de facto, surpreendente.

A facilidade (aparente) com que ele pinta, com pincéis ou com os próprios dedos ou ainda com as mãos... E o que parece um trabalho sem nexo, talvez até um pouco naïf, por vezes dando ideia de uma certa magia, não se vislumbrando, durante a sua execução, qualquer imagem concreta ou definida, acaba por resultar num estupendo retrato, que só mesmo no fim se consegue ver com clareza.

Mas
veja o espectáculo.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

FACILITISMO

uma Escola Secundária
(por sinal a ES do Poeta António Aleixo, Portimão, já que faz hoje 58 anos que morreu o poeta: em 16NOV1949.
Só por essa razão trazida para aqui)



O ensino – a escola (básica e secundária) – tem sido dos assuntos mais recorrentes na comunicação social. Para além dos muitos artigos de opinião sobre o assunto, de professores (dos vários graus de ensino) e outros entendidos na matéria, também a rubrica “Cartas ao Director”, do Público (inscrita no ESPAÇO PÚBLICO/OPINIÃO daquele diário) tem dado voz a um coro de críticas aos novéis cientistas-pedagogos.

Hoje, por exemplo, a leitora Maria do Carmo Vieira sublinha, ali, o “contínuo acelerar, ao longo do tempo, no facilitismo e no discurso miserabilista, que encontravam já justificação em teorias pedagógicas, que determinou a passagem de alunos sem saber ler ou escrever, deficiências nunca corrigidas e as quais, acentuando-se ao longo do tempo, provocaram o descalabro do abandono escolar e dos maus resultados em exames”.
Mas não se ficou por aqui, a leitora Maria do Carmo: disse, demonstrou e concluiu muito mais. É um texto exemplar, que atesta uma época e uma situação. De tal maneira paradigmático que o transcrevo no “Apostila”, nesta data.

“A extraordinária multiplicação de intervenções de tantos e tantos entendidos na matéria, que põem em causa os flácidos métodos dos novos querubins da educação, tem de conduzir à ilação, necessária, de que a orientação oficial tem de ser repensada. Pelo menos. E discutida. No mínimo. E alterada. Sem pactuações e sem demora” – dizia esta tarde ao meu amigo José Ricardo (que já aqui apresentei várias vezes, e que é, exactamente, professor - de filosofia -, com já muito larga experiência) a propósito do seu artigo de hoje sobre este problema, no Jornal Torrejano.
E outros mais comentários fizemos acerca deste tema, referindo ele, também, o destaque que merece a carta acabada de aludir. Não imaginando que reforçava a minha intenção de a trazer a estas páginas.

Veja, pois, A
“ORIGEM DO FACILITISMO”.

VERDI – TRAVIATA – ABERTURA

Trago hoje, de novo, a Traviata de Verdi. Agora em vídeo normal. E desta vez o prelúdio.

Dizia um autor: “Cette ouverture de Verdi est celle qui me trouble le plus de par l' infinie douceur qui s'en dégage”.
É de facto grandioso, magnífico e belíssimo o prelúdio da Traviata que evoca, desde logo e em particular, Alfredo e Violeta, na sua efémera paixão.

Depois, a orquestra é dirigida por um senhor Maestro (assim mesmo com maiúscula, como foi considerado pela crítica e pelos experts): o húngaro-britânico Georg Solti (Budapeste 1902- Antibes, França 1997), que em 1946, assumiu a direcção da Ópera de Munique; em 1952, a de Frankfurt; e, em 1961, a do Covent Garden de Londres. A partir de 1970, dirigiu durante mais de 20 anos a Orquestra Sinfónica de Chicago, e a partir de 1992, passou também a dirigir a orquestra de Salzburgo.
Especializou-se, sobretudo no reportório wagneriano e mozartiano. Mas temo-lo aqui, na sua máxima forma, a interpretar Verdi.

Esta abertura é, na verdade, uma peça de extraordinária beleza, pela doçura, suavidade, que dela se desprende, como afirmou aquele crítico.




quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A SENSATEZ E O SABER NÃO SÃO UM EXCLUSIVO DE (ALGUNS) VELHOS






Não se encontra todos os dias um jovem com 35 anos com semelhante maturidade e um tal saber acumulado. Falo de Rui Tavares.

Numa espécie de desgarrada, de Segunda a Quinta, Helena Matos e Rui Tavares, em dias alternados, esgrimem entre si, numa coluna do Público que se chama, muito a-propósito, “Pingue-Pongue”, argumentos de direita e esquerda, respectivamente, sobre diversos temas.

Dirimem, cada qual para a sua plateia, e ambos para uma plateia mais alargada, os seus pontos de vista acerca de um tema em debate.



Hoje, Rui Tavares, no que eu considero uma lição de análise e atitude política, começou por fazer uma iniludível constatação: acerca da (tão convidativa e bem mais reconfortante) migração de militantes ou simpatizantes da esquerda (e quanto mais radicais e vanguardistas eles forem, mais apelativa ela é) para a direita, apresentou quatro exemplos paradigmáticos dessa evolução: Nick Cohen (autor de "O Que Resta da Esquerda", editado em Portugal por Zita Seabra; a mesma Zita Seabra a propósito desse trabalho e de outras suas azucrinadelas; José Manuel Fernandes a respeito de um seu recente editorial em que defendia Juan Carlos e o Papa; e Helena Matos, acerca das suas posições sobre o incidente Chávez-Juan Carlos (e Zapatero), durante esta última Cimeira Ibero-Americana.

E reflecte, então, RT:
“são, enfim, quatro exemplos de que é fácil as pessoas saírem do marxismo mas é mesmo muito difícil a retórica marxista sair das pessoas. Ela continua a reciclar os seus velhos vícios - as amálgamas, a rigidez, o maniqueísmo, a culpa por associação e até a pura fabricação - para o debate público.”

Creio que a ninguém restará a mínima dúvida sobre o acerto da reflexão.

Depois, RT detém-se numa outra análise: os epítetos lançados de “fascista” (Chávez, acerca de Aznar) e o de “ditador” (HM sobre Chávez), por um lado, e por outro as atitudes do rei de Espanha, que, sem defender liberdades ou democracia, se limitou a mandar calar o presidente venezuelano, e a de Zapatero que saiu em defesa do respeito pela democracia. E a propósito pondera:
”a grande diferença, antes de ser entre esquerda e direita, é entre quem gosta de deixar falar e quem gosta de mandar calar”, embora não escamoteie nem deixe de lembrar que “há gente de esquerda que gosta de mandar calar - Chávez é um bom exemplo - e também gente que gosta de ver mandar calar, por interposta pessoa, enquanto foi de esquerda ou quando passou a ser de direita”
.

Como para RT, conforme ele confessa, igualmente para muitos (todos?) democratas o autoritarismo, de qualquer sinal, é uma atitude desprezível, inaceitável.
Mas a verdade é que o autoritarismo irrompe em cada geração de políticos... Mesmo em democracia!

Até quando?

EXPRESSÃO CORPORAL E ARTE - 2


O concerto de “The Renato Zero & Momix”, em Junho de 1999, em si, não me parece que mereça mais que nota discreta. Mas a coreografia de Tim Acito, Solveig Olsen e Moses Pendleton, é notável. Como brilhante, e digna de nota máxima, é a execução do par constituído por Tim Acito (um dos coreógrafos) e Suzanne Lampl.
A performance dos bailarinos é, na verdade, espectacular e inexcedível.
Divina! Soberba apresentação!

As coisas maravilhosas que o ser humano consegue fazer com o seu próprio corpo!


quarta-feira, 14 de novembro de 2007

SOCIEDADE ANÓNIMA SUSTENTADA PELOS CONTRIBUINTES

imagem Nelson Garrido/Público


O “Fórum TSF” de hoje foi acerca da atribuição pelo governo à Sociedade Anónima “Estradas de Portugal” da concessão da rede rodoviária nacional.

Ouvido, logo no começo, o Secretário de Estado da tutela (recordo que se trata do ministério do ministro Lino), foi das poucas vezes que ouvi um governante gaguejar na defesa de uma tese, para além de ter exibido uma notória falta de realismo, mormente quando questionado quanto à fonte das necessárias receitas para esta SA levar a efeito tão ambicioso quanto irrealista programa que apresentou.

Aliás, inscreve-se como um dos objectivos da EP,
entre outros,
o da promoção do “bem-estar geral através de uma
oferta
[em matéria de estradas, obviamente]
adequada às necessidades individuais e colectiva
a preços que democratizem o acesso e a facilidade da sua utilização

– o sublinhado é meu. Para demonstrar como soa bem o “violino”.
(O problema é que “eles” vivem nesta mentira com o maior descaro e sem se darem já conta disso. Ou dando e não ligando, acintosamente).


Falaram técnicos na matéria, políticos e muitos ouvintes (duma forma geral, entre estes, pessoas que se mostravam informadas e que invocavam casos concretos da sua vivência relacionada com o problema).

Para além do dito representante do governo, não sei se mais alguém terá manifestado concordância com tal concessão. Sobretudo em matéria de prazo e de receitas.
Bem ao contrário. Foi um desfilar de descontentes, de desesperados e desiludidos cidadãos.

Nessa altura o prazo que se conhecia e que se discutiu era o de 92 anos.
Li há pouco (ao fim da tarde) que afinal é de 75 anos. (Notória diferença, diria, zombando, qualquer humorista!)

Quanto às receitas, é seguro que vamos ser nós, todos os utilizadores de estradas, que as vamos gerar, quer não só através das portagens – e tão previsível como seguramente com muitas mais do que as existentes neste momento -, como mediante várias taxas e impostos, no combustível e outros bens.

Ou seja: o governo descarta-se de uma sua obrigação, para poder apresentar um orçamento mais “simpático”. Mas trata-se do gato escondido com o rabo de fora. Grande e considerável parte da receita com que a “Estradas de Portugal, SA” vai contar é com verbas do orçamento. Ou seja, seremos nós, os contribuintes, que vamos sustentar uma sociedade anónima.

À mesa do Orçamento há sempre uns convidados especiais que vivem felizes e contentes porque o governo é amigo...

Portugal deve ser o único país, em todo o mundo, onde grande parte dos accionistas de uma SA (que é o que todos nós somos, na realidade, à força ou ao jeito, relativamente à EP, SA) que têm apenas deveres, como o de continuamente reforçar o seu capital, sem quaisquer direitos, quanto mais dividendos.

Bom, e esta generosa protecção dos capitalistas e dos nossos “obesos” gestores da “res publica”, parte de um governo que se diz socialista.

Até quando?

EXPRESSÃO CORPORAL E ARTE - 1

O título original do vídeo é Dance Syncro. Também é apresentado como dança de sombras.
Não me parece, porém, que se trate, propriamente, de dança, mas é um curioso espectáculo, uma interessante e criativa coreografia, de corpos em movimento em jogos sincronizados com luz e sombra.
Trata-se, ao fim e ao cabo, de arte reveladora de grande perícia, de sincronia e de técnica muito apurada. Arte cuja criação é gerada e potencializada, apenas, por movimentos corporais em ambiente de luz e sombra.

Os quadros em que o grupo se desdobra, numa breve apresentação, são muito interessantes e não devem ser de nada fácil execução.


terça-feira, 13 de novembro de 2007

AINDA O JOGO DO AEROPORTO

o ministro Lino e o deserto da margem Sul vistos por Kaos





«Ota: Cavaco não acredita que Governo já decidiu


O Presidente da República afirmou hoje não poder acreditar na afirmação do líder do PSD, Luís Filipe Menezes, de que o Governo alegadamente já terá decidido a localização do novo aeroporto internacional na Ota» - lançou uma agência de notícias, e os profissionais da informação todos pegaram na deixa e divulgaram-na.




Não se tratasse do mais alto magistrado da Nação, não fora ele o nosso Excelentíssimo Presidente da República, e eu diria, muito simplesmente:

- “Vai uma apostinha, sr Silva?”

Cavaco esquece-se que, tal como o seu sucessor actualmente em exercício, ambos têm uma costela salazarenta.

O velho ditador também gozava com a malta toda. A Assembleia Nacional, os conselheiros, mais de ao pé da orelha, podiam deliberar, aquela, segredar, estes, que: “bom... Vamos ver... Talvez... Creio que ainda não...” tudo o que quisessem... que o botas é que decidia: “já. E em força”.

Ele era o Estado.

Estes estagiários não o afirmam, nem tiveram ainda força suficiente para se autolibertarem, para se desembaraçarem dessa maçada da democracia, assembleia e partidos, tudo uma perda de tempo, tudo gente que só atrapalha – como fez o seu mestre e líder dum Estado “novo” que apodreceu...
Não que lhes falte vontade.
Mas ainda lá não chegaram.

- “O sr Silva está esquecido que também este Primeiro é uma arrogante e autoritária criatura, rodeado de ministros autistas como ele...”

Não insisti na aposta.
É que não podia ser a feijões; e aí, quando ganho, não perdoo. Nem que seja ao Papa.

- “Atão o sr não está a ver que já está tudo decidido? Ou ainda tem dúvidas?”

Mas trata-se de Sua Excelência o Senhor Presidente da República que deve desempenhar um papel assim... A modos que...
Por isso não lhe faço o desafio da aposta.

Quando vou ao teatro também não interrompo o actor. A menos que seja para o apludir, merecendo-o ele.
Não é o caso, aqui.

Façamos todos de conta...

Até quando?


segunda-feira, 12 de novembro de 2007

JOGADOR BATOTEIRO

aeroporto de Lisboa




Segundo, se não todos, uma grande maioria dos entendidos, impõe-se a construção de um novo aeroporto internacional na área da capital.
Concedamos o benefício da dúvida ao governo quanto à decisão sobre tal necessidade. Inevitabilidade, admitamos.

Mas a partir daí – dessa decisão – desde logo se começam a desenhar muitos circuitos com vista a esse objectivo.
Uma obra destas implica, assim, e desde logo, a constituição de múltiplos lobbies, visando os interesses de diversos grupos ou personalidades nas várias fases do projecto. A primeira das quais é, obviamente, a sua localização.

O ministro Lino apresentou uma proposta: localização na Ota.
Desfilaram, a partir de então, nos media, vários críticos, nomeadamente a título pessoal, em geral engenheiros e outros conhecedores da matéria.
A dada altura estavam na mesa, pelo menos, umas 4 propostas: na margem direita do Tejo, Ota e Portela+1 (consistindo esta hipótese na manutenção do actual aeroporto mas com a edificação de outra infra-estrutura de média dimensão); para a margem esquerda do rio propunham-se as hipóteses de Poceirão e Alcochete.
A reacção do ministro Lino às propostas da margem Sul do Tejo, de tão desastrada e ridícula, foi, além do mais, muito gozada: não houve humorista, caricaturista ou cartoonista que não produzisse várias piadas e trabalhos acerca do “deserto” de que falava o ministro, sem esquecerem as respectivas dunas e os vagarosos camelos.

Esquecendo as tristes “tiradas” anedóticas do ministro, foram feitas várias críticas e realizados alguns estudos.
De entre estes críticos destacou-se a CIP que apresentou, defendeu e fundamentou a localização de Alcochete.

O assunto revelava-se sensível, e o primeiro-ministro garantiu a entrega dos estudos da CIP ao LNEC para uma sua avaliação ainda este ano.
Só que o ministro Lino antecipou-se e, à revelia da autoridade do chefe do governo, entregou o estudo da CIP, não ao LNEC, mas a uma empresa dele dependente: a RAVE*. E então foi engendrada e “cirurgicamente” montada uma campanha, durante este último fim-de-semana, descredibilizadora do estudo da CIP.

Para já, e pelo menos, encarregou-se o Director do Público, no seu editorial de hoje, de desfazer equívocos e demonstrar a desonestidade e falta de fundamentação – ou fundamentação intencionalmente baseada em dados falsos, distorcidos e errados – do trabalho apresentado pela RAVE*, por encomenda da tutela, o dito ministro Lino.
Recomendo, pois, a leitura desse editorial. E só não remeto para ele, “lincando-o”, porque apenas os assinantes do jornal têm acesso a tal matéria, “online”.

Parece que, mais uma vez, o ministro das Obras Públicas quis ir à lã... e veio de lá tosquiado.
E ainda agora a procissão nem ao adro chegou...

Será que é nossa sina ter de suportar – e pagar – todas as barbaridades de governantes deste calibre?

Até quando?



* RAVE - Rede Ferroviária de Alta Velocidade, S.A.

domingo, 11 de novembro de 2007

VERDI – TRAVIATA – CORO DOS BOÉMIOS (ANIMAÇÃO)

Vejam só esta extraordinária animação.
Afinal, uma outra maneira de apresentar ópera.

Trata-se do primeiro de dois extractos (este reproduzindo o Coro dos Boémios da ópera Traviata de Verdi) d’ “A Ópera Imaginária”, interpretado pelo Coro da Academia de Santa Cecília, de Roma, e produzido pela realizadora-animadora Gionne Leroy.

É um soberbo trabalho, de admirável criatividade, que nos permite uma diferente e magnífica apresentação da referida peça verdiana.



O PESO E O ESCÂNDALO DOS NÚMEROS - 2



Ainda acerca de números, referia também o Expresso de ontem que Paulo Portas, na semana que antecedeu as eleições de 2005, incumbiu uma empresa de digitalização de lhe fotocopiar 61.893 páginas de documentos.
Para além da estranheza que a qualquer pessoa causava por se tratar de matéria de um ministério particularmente sensível como é o da Defesa, acresce a de alguns deles estarem assinalados como “Confidencial”, ou “Iraque” ou “Submarinos”, como declararam à PJ os empregados da empresa digitalizadora.

Uma curiosidade: mesmo que com cada documento (localizá-lo, digitalizá-lo, arrumá-lo) se gastasse, em média, apenas 20 segundos, repare-se que para fotocopiar 61.893 páginas, numa semana, esse trabalho ocuparia 10 ou 11 pessoas durante 7 horas de cada um dos dias de trabalho dessa semana.
Tudo somado, digamos que o ego do sr ministro ficou um pouquinho caro só com esta operação.
Sim, porque não é suposto que a tarefa tenha sido paga do seu bolso.

Aí está: só devíamos admitir como políticos pessoas crescidas, maduras, responsáveis e de grande verticalidade.

Mas o que nos tem saído na rifa, em geral, é gente bem diferente!

Até quando?

sábado, 10 de novembro de 2007

O PESO E O ESCÂNDALO DOS NÚMEROS

Terreiro do Paço

O Orçamento do Estado prevê mais de 71 mil milhões de euros de despesa pública em 2008. Ou seja, prevê um acréscimo de mais de 4% na despesa do Estado (o dobro da percentagem deste ano), o que traduz um aumento superior a 3200 milhões de euros.

Há despesas públicas de grande monta que correspondem a fatias muito respeitáveis daqueles mais de 71 mil milhões de euros.
Mas contribuem, também, para esse crescimento da despesa do Estado, muitos outros pequenos grandes gastos, que é curioso assinalar.

Assim, por exemplo, só em estudos, projectos e consultadoria vão-se gastar 188,6 milhões de euros – mais 75 milhões do que no ano ainda em curso.
Para as comunicações do Estado e para as dos Fundos e Serviços Autónomos o montante prevê-se um gasto da ordem dos 196 milhões de euros.
Para deslocações e estadas estão orçados 60,6 milhões de euros – mais 9 milhões do que em 2007.
Imagine-se que só para os serviços de limpeza e higiene se prevê uma factura de 58, 8 milhões de euros.
Inacreditável seria que o Orçamento previsse, como prevê, uma verba de 76, 2 milhões de euros para gastos em material de escritório, se não soubéssemos que se repetem os casos como o do ex-ministro Paulo Portas, que só por sua conta e apenas numa semana gastou, pelo menos, 61893 folhas de fotocópia – umas 124 resmas ou cerca de 2480 mãos de papel!
Por outro lado, para pagar refeições confeccionadas e alimentos para confeccionar prevê-se um montante de 138,1 milhões de euros.

Imaginemos que não havia abusos e exageros, mas antes uma certa contenção nos gastos... Quantos milhões se não poupariam?
O pior, parafraseando Oliveira Martins, é que são muitos os que abancam à mesa do Orçamento, e que nem as migalhas lhe perdoam.

Até quando?

(Elementos coligidos na edição de hoje do Expresso)

“CÂMARA HUMANA”

Vídeo espectacular.
É, na verdade, de se ficar banzo com o que se vê.
O som, até porque muito baixo, não dá para entender muito bem o relato. Mas percebe-se que se trata de um autista que é conhecido por “câmara humana”.

A sua extraordinária acuidade visual, a sua inacreditável memória fotográfica deixa-nos atónitos.
Como é possível, numa única e muito alargada visão, o cérebro do moço registar tão grande quantidade de minuciosa informação que ele depois transcreve em desenho, e com arte, com o mesmo pormenor?

Talento fabuloso, o deste rapaz!

De facto o cérebro do jovem é uma espantosa câmara cuja edição é realizada pelas suas mãos, ao mais ínfimo detalhe.

O que nos faltará ainda saber acerca do cérebro humano?

Afinal, o impossível está lá mais longe!



sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O CIRCO

imagem Wikipédia
tela de Georges Seurat, de 1891
«O estado de bovinidade que afecta com cada vez mais frequência a política em Portugal revelou-se em todo o seu esplendor no debate sobre a lei do Orçamento do Estado de 2008» - escrevia no seu editorial de hoje, no Público, Manuel Carvalho.

A bancada do governo folgou, desta vez. Aquela esperteza saloia que caracteriza certa lusa gente valeu-lhe evitar discutir o mais importante documento anual produzido por um executivo. Uma sorte, porque o barómetro que ele é anuncia a continuação do mau tempo. Senão, mesmo, o seu agravamento.

O pretexto foi simples: perante a hilaridade do regresso do “menino guerreiro” - que emergiu d’algures, “por aí” - ambos os galarós ofereceram um triste espectáculo.
Àquele crescente estado de bovinidade de muitos deles aliou-se a, igualmente, sobeja vacuidade que caracteriza outros tantos dos nossos políticos.

Como alguém lembrava agora, algures, os contribuintes já sabem que só quando, miraculosamente, viram eleitores, é que são “ligeiramente” tidos em conta. De resto, são desolados espectadores desse circo que se desenrola na arena política...
Resta-lhe (ao contribuinte comum) ser severamente controlado nos seus parcos haveres e nos seus escassos rendimentos para ter de sustentar os apetites megalómanos do Estado, em prejuízo do seu dever de atender às suas mais instantes e básicas necessidades. Assim como garantir uma afortunada vida à generalidade dos altos servidores do Estado ou mesmo uma faraónica existência a muitos deles e de grande parte dos políticos.

E, sem que a voz lhes trema, dizem-se socialistas estes senhores que nos governam.

É claro que, muitos de nós, ainda que a voz nos doa, não nos cansamos de alertar para o beco sem saída para onde nos empurram e para o
ghetto em que nos querem encerrar...

Até quando?

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

QUAL CRISE?












Lucro da EDP

atinge 665,2 milhões

até Setembro


O lucro da EDP, nos primeiros nove meses do ano, alcançou 665,2 milhões de euros (M€), anunciou a empresa indicando uma subida de 20,4% no resultado de exploração. António Mexia, CEO da EDP, ficou «claramente satisfeito» - foi uma das notícias do dia.

Uma vez mais se confirma que os únicos que pagam a grave crise em que nos encontramos são os cidadãos contribuintes...
Aos grandes empresários, às grandes empresas, aos grandes grupos a crise passa-lhes ao largo. Distante.

A energia eléctrica é um dos bens essenciais, mas pagamo-la como se de um luxo se tratasse. Os aumentos anuais das tarifas da EDP não vão atenuar o sufoco em que vive a maioria dos seus trabalhadores... Além de irem sobrecarregar excessivamente os consumidores comuns.
Como acontece, aliás, à generalidade dos empregados das outras empresas que apresentam resultados nada condizentes com a crise que se vive no país.

Empresas prósperas, com gestores ricos (ainda se foram ricos gestores!), e uma população com profundas dificuldades de sobrevivência, são bem característica de um terceiro mundo. Ou de países periféricos e do Sul, como o nosso.













Será que temos de voltar à candeia de azeite e ao candeeiro de petróleo?

Claro que não.

Mas a crise mantém-se e até se acentua sempre sobre as mesmas vítimas...

Até quando?

ARTE E TÉCNICA DESAFIAM EQUILÍBRIO

Um trio de bailarinos do Circo de Ballet Chinês exibiu-se no Festival de Circo do Mónaco com um fantástico pas-de-deux.
Foi Claude Bessy, Directora do Ballet da Ópera de Paris, conhecedora que é da matéria, quem os apresentou, destacando a exibição da bailarina que chega a dançar em pontas sobre os ombros (!) e a cabeça (!) do bailarino.
É impressionante o dificílimo desempenho da bailarina, e isso é capaz de fazer passar despercebido o quão fundamental é, para o êxito e o brilho dela, o trabalho, nada fácil, do bailarino.
Mas o dela é, na realidade, espectacular.

É um espectáculo soberbo. Absolutamente ímpar!
Inenarrável.
Por certo que nenhum de nós alguma vez presenciou técnica e arte com tão minuciosa precisão.
Estes bailarinos atingem uma craveira difícil de suplantar.
Belíssimo.

Observe.
Maravilhe-se.


(Não foi possível apresentar o vídeo no formato habitual – “Embedding disabled by request”, dizia o aviso – daí que tivesse voltado à forma mais artesanal de o editar)


quarta-feira, 7 de novembro de 2007

CRISE?









«Lucros

da CGD

sobem

21,8% até Setembro



O Grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD) obteve 675,6 milhões de euros de lucro nos primeiros nove meses deste ano, uma subida de 21,8% face aos 554,7 M€ registados em igual período de 2006, anunciou esta quarta-feira a instituição financeira.

DD
07-11-2007 16:38:13
»



Isto é o que, de entendível à grande massa, é informado. Porque depois segue-se uma síntese do relatório (dos resultados) em discurso codificado que, creio, deixará de boca aberta economistas e financeiros que tenham um mínimo de sensibilidade humanista para as questões sociais.

Claro que para nossa própria garantia, uma instituição bancária deve ser sólida e bem gerida.

Mas se a situação é de grande dificuldade para a generalidade dos cidadãos, um tal florescimento é excessivo e demonstra a razão dos que afirmam ter o governo, para essas instituições e para certos grupos empresariais, uma política muito menos agressiva do que para o cidadão comum.
Menos agressiva? Mais complacente, quero dizer.
De conivente cumplicidade, melhor dito.

E quando a crise passa ao lado de tais instituições, passa igualmente a grande distância dos respectivos gestores...

O 25 de Abril não se fez para reforçar a distinção entre portugueses de primeira e de segunda, mas para a atenuar até a extinguir.

É um chocante escândalo o que se tem passado nessas áreas. É um facto indisfarçável que os ricos se têm tornado exponencialmente mais ricos, e que a pobreza tem abarcado no seu âmbito muitos novos elementos. Os governos neoliberais que têm exercido o poder neste país, nomeadamente o actual, mais não tem feito que aumentar, mais e mais, esse fosso.



Em Abril último recebi, pela primeira vez, a mensagem que se segue.
Não sou cliente dessa próspera entidade bancária, para poder comprovar o conteúdo da mesma. Mas recebi, de várias proveniências, o anexo seguinte, cujo conteúdo confirmei com alguns clientes da Caixa.



«A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a enviar aos seus clientes mais modestos uma circular que deveria fazer corar de vergonha os administradores principescamente pagos daquela instituição bancária.

A carta da CGD começa, como mandam as boas regras de marketing, por reafirmar o empenho do Banco em oferecer aos seus clientes as melhores condições de preço/qualidade em toda a gama de prestação de serviços, incluindo no que respeita a despesas de manutenção nas contas à ordem.

As palavras de circunstância não chegam sequer a suscitar qualquer tipo de ilusões, dado que após novo parágrafo sobre racionalização e eficiência da gestão de contas, o estimado/a cliente é confrontado com a informação de que, para continuar a usufruir da isenção da comissão de despesas demanutenção, terá de ter em cada trimestre um saldo médio superior a EUR1000, ter crédito de vencimento ou ter aplicações financeiras associadas à respectiva conta.

Ora sucede que muitas contas da CGD, designadamente de pensionistas e reformados, são abertas por imposição legal. É o caso de um reformado por invalidez e quase septuagenário, que sobrevive com uma pensão de EUR243,45 - que para ter direito ao piedoso subsídio diário de EUR 7,57 (sete euros e cinquenta e sete cêntimos!) foi forçado a abrir conta na CGD por determinação expressa da Segurança Social para receber a reforma.

Como se compreende, casos como este - e muitos são os portugueses que vivem abaixo ou no limiar da pobreza - não podem, de todo, preencher os requisitos impostos pela CGD e tão pouco dar-se ao luxo de pagar despesas de manutenção de uma conta que foram constrangidos a abrir para acolher a sua miséria.

O mais escandaloso é que seja justamente uma instituição bancária que ano após ano apresenta lucros fabulosos e que aposenta os seus administradores, mesmo quando efémeros, com «obscenas» pensões (para citar Bagão Félix), a vir exigir a quem mal consegue sobreviver que contribua para engordar os seus lautos proventos. É sem dúvida uma situação ridícula e vergonhosa, como lhe chama o nosso leitor, mas as palavras sabem a pouco quando se trata de denunciar tamanha indignidade.

Esta é a face brutal do capitalismo selvagem que nos servem sob a capa da democracia, em que até a esmola paga taxa. Sem respeito pela dignidade humana e sem qualquer resquício de decência, com o único objectivo de acumular mais e mais lucros, eis os administradores de sucesso.»


Indecoroso, é o mínimo que se pode comentar...
Até quando?
 

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