sábado, 24 de novembro de 2007

PARTIDOS-EMPRESAS


uma das modernas ágoras da actualidade
(bolsa de Hong Kong)




Aí está a solução que se impunha e que tardava. Os partidos transformarem-se em empresas e o Estado, obviamente, desde já, ou mais tarde ou mais cedo, numa Empresa de empresas.

Fica, então tudo claro e perfeito.
Deixa de haver preocupações com maiorias absolutas, com despiques partidários, com votações parlamentares. Basta que um partido-empresa poderoso lance uma OPA sobre outro menos sólido. Ou faça com ele uma proposta de fusão ou com outro qualquer. Basta, até, que a cotação na bolsa de uma empresa-partido seja mais favorável que a de outro ou outros que lhe possam fazer concorrência.
Aí está: a concorrência é a regra universal, seja na esfera privada seja na pública. E o lucro, a mola real.
Tudo sob os auspícios da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que verá assim, finalmente, alargada a sua área de intervenção.
E virando a bolsa de valores na nova ágora, onde tudo o que respeita à comunidade é avaliado, discutido e decidido.

Nessa altura nem os parlamentos serão necessários: o partido-empresa dominante dita as regras e colhe os frutos.
Também as eleições deixam de ter razão de existir. Tudo dependendo, em cada momento, da cotação de cada empresa-partido. Desperdícios com eleições e com parlamentos, e outros gastos públicos deixarão de se realizar, sempre em benefício do partido-empresa e do aumento dos dividendos dos seus principais accionistas, para onde tais verbas serão, naturalmente, canalizadas.
Claro que os minúsculos accionistas têm a costumada sorte destes: sustentam a empresa, mas não colhem quaisquer frutos. E o dividendo que auferem (quando o receberem) é tão irrisório como a sua posição nesse universo.

Os partidos ter-se-ão transformado, então, em Empresas com garantida e grande participação do erário, com dotações do OE asseguradas, mormente em tempo de reajustamentos, quando os presidentes (dos pequenos partidos/empresas) e os CEO (das maiores) concorrerem ao lugar de superCEO, o antigamente designado primeiro-ministro.

Serão, assim, legalizados e tornados transparentes, porque normais, de acordo com a nova ética política, os gordos réditos mensais e as milionárias reformas, garantindo os faraónicos presente e futuro dos grandes accionistas, que serão os únicos intervenientes na
res publica e seus únicos beneficiários.
Nesta perspectiva, do Estado-empresa de empresas, a raia miúda (os pequenos accionistas e os não accionistas) será poupada aos arcaicos, incómodos e cansativos direito-dever de voto. Da mesma forma que as suas obrigações se confinarão aos três residuais deveres de trabalhar, pagar impostos e não perturbar o sossego dos accionistas do Estado-empresa.

Claro que desta situação advém um novo conceito de democracia. O obsoleto e absurdo conceito de democracia, que era definido, desde os velhos filósofos gregos, como "governo do povo, pelo povo e para o povo", será actualizado, e por isso
ligeiramente alterado, para: “governo dos accionistas do Estado-Empresa, apenas por eles próprios ou seus mandatários, exclusivamente para eles mesmos”.

Assim está bem. Os movimentos da Terra não serão afectados na sua inércia espacial e dentro dela a felicidade transbordará, perpetuando o bem-estar dos senhores do planeta.
Que mais poderemos todos ansiar?

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