quarta-feira, 31 de outubro de 2007

PORQUE NÃO?!...

Há certas cabeças incapazes de produzir a menor faísca. Mas às vezes, por puro engano, suponho, deitam um bocadinho de fumo. Foi o que aconteceu há dias com Joe Berardo que, na sequência de uma resposta à jornalista moderadora do “Prós e Contras”, comentava com os seus próprios botões: “ora se toda a gente sabe quais são os meus dividendos e quanto ganha um bancário, porque não há-de saber, também, quanto ganha um administrador?”

Quantas vezes da boca das crianças e dos simples não sai a verdade!...

A ESCOLA PÚBLICA






Se há área do sector público que tem sido muito recorrentemente abordada pelos media, tem sido a escola. O ensino, nos seus vários níveis.
Os que sustentam que o Estado se prepara para “varrer” de vez a escola pública do panorama nacional parecem ter alguma razão.
Mas eu continuo a pensar que semelhante objectivo nunca será alcançado. Estou certo de que o bom senso prevalecerá e que uma importante força se oporá aos desígnios liberalóides e economicistas dos actuais governantes.
Que o Estado nunca desistirá do seu primordial papel em sectores chave, entre eles a educação – é uma convicção que acalento.
Por mais irrecusável que se torne a liberdade de escolha do ensino privado, por todos os que possam e queiram frequentá-lo, a verdade é que a escola pública continua a ser um direito de todos e uma obrigação do Estado – como ontem recordava Vital Moreira.
Daí que, segundo o mesmo colunista, “a principal responsabilidade do Estado no domínio do ensino é a universalidade e a qualidade da escola pública, como factor de democratização do ensino, de igualdade de oportunidades e de integração social”.
Aquela força há-de tornar-se prevalecente e emergirá para demonstrar a tradicional qualidade que, quando avaliada em termos comparáveis, não fica a dever nada à escola privada, antes a suplantando.
Como igualmente bem salientava, ali, VM, ninguém acredita que a escola pública universitária seja, tão frequentemente, uma excepção. E a única, aparentemente.
A escola pública sairá reabilitada nos seus tradicionais créditos quando tiver do seu lado uma séria vontade política que lhe faculte os meios para voltar a ter em mira essa meta.
Não se prossegue tal objectivo – antes se verga o poder público aos acenos de autopublicitada maior qualidade da escola privada, que faz na mira de subsídios e de facilidades – quando o Estado dispõe de avultados meios para o ensino privado, em prejuízo do público.
Não deixarão de acorrer professores qualificados e empenhados e alunos interessados à escola pública quando o Estado proporcionar os meios indispensáveis, que em parte conseguirá deixando de subvencionar o ensino privado (quiçá confessional), que não tem nada que subsidiar e beneficiar fiscalmente.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

SEGUNDO CONSTA

Circula no correio electrónico:

«O banco dos administradores do Banco de Portugal

Ao mesmo tempo que o Banco de Portugal investiga operações de crédito do Millennium que poderão ter violado a lei que proíbe crédito a familiares dos administradores ficamos a saber que o Banco de Portugal concede créditos aos seus administradores para compra de habitação. Isto é, é crime um banco privado dispor do seu dinheiro emprestando aos próprios administradores, mas é legal que os administradores do Banco de Portugal, que nem sequer é um banco, usarem o dinheiro do Estado para concederem crédito a si próprios.
Como era de esperar o ministro das Finanças veio esclarecer que estas vantagens patrimoniais auto concedidas pelo Banco de Portugal são legais. Só não explicou com base em que dispositivo legal ou como se determinam as taxas de juro ou quais os mecanismos accionados se os administradores se esquecerem de pagar a dívida.
Ficamos a saber que o Banco de Portugal que pelos estatutos (art.º 18.º) está proibido de conceder créditos ao Estado pode fazê-lo aos seus administradores. Além disso, no artigo 40.º do estatuto, que estabelece os direitos dos administradores, não refere qualquer direito a crédito.
Se a pouca vergonha pagasse imposto não estaríamos com um problema no défice e alguns dos nossos ministros teriam o nome na lista dos devedores ao Estado, tão grande seria a sua dívida.
O mesmo Vítor Constâncio que defende sistematicamente o empobrecimento dos portugueses dá o pior dos exemplos na gestão do Banco de Portugal.»



Esperemos que alguém confirme ou desminta.
(Geralmente notícias deste tipo não são confirmadas nem desmentidas. Por razões que - nós, os comuns mortais - não entendemos. Mas alguns entendem)
O povo costuma dizer que não há fumo sem fogo...
Vamos ver o que acontece a este “fumo”.
Sem mais comentários.


segunda-feira, 29 de outubro de 2007

QUESTÃO DE SUBSTRATO










Ao receber dissidentes cubanos, dias atrás, Bush, sem a mais pequena hesitação, entre outras máximas proclamou a seguinte, acerca de Cuba: "Os Estados Unidos não vão dar oxigénio a um regime criminoso, que vitima seu próprio povo".
Ou seja, um regime deixa de ser criminoso quando vitimizar outros povos e outros países – parece ser a conclusão que a sua clarividência impõe.
Moral superior. Inteligência brilhante. Democracia exemplar.

Quando se apresenta com um suposto sentido de Estado, lá está Bush a tropeçar nos mais básicos conhecimentos, a revelar a sua estreita “visão”, a cometer gafes sucessivas. A exibir a sua inconsistência e a sua incongruência.

Ora tudo isto tem a ver com uma determinada estrutural intelectual. Cuja debilidade, no presidente americano, é proverbialmente conhecida.
Como tem a ver com a sua estatura cultural. Cujo défice é sobejamente reconhecido.
É que o senhor, sem lugar para qualquer dúvida, não tem substrato cultural que lhe permita fazer declarações com alguma pertinência, sem o constante recurso ao indispensável apoio do seu staff de assessores culturais. Só que, tão reduzido é o espaço que o seu cérebro tem disponível para tais matérias (cultura, e falo da mais geral), ainda por cima administradas de forma tão intensiva e capsular, que, dessa amálgama mal digerida, nenhuma declaração lhe pode sair direitinha e em condições.
A agravar a situação, o senhor do planeta não dispõe de uma informação isenta, correcta e atempada. Tudo lhe é transmitido do jeito que mais lhe convém ouvir e entender.
Assim, o desastre é ainda muito maior. Donde o avolumar das gafes e do anedotário. E das incoerências.

Até quando?

domingo, 28 de outubro de 2007

A MENTIRA E A POLÍTICA

Exactamente: não se trata, já, de um expediente, mais ou menos engenhoso, por vezes perverso. Nem se trata da mentira piedosa, por isso compreensível e perdoável.
Não se trata de uma falha na comunicação: querer adoptar uma visão optimista, proclamá-la, enfrentar o pessimismo geralmente instalado entre as gentes mais comuns. Querer contrariar, alterar, melhorar a realidade mais evidente.
Não se trata de uma consequência mal calculada ou (muito menos) imprevista de um momento de euforia e de um discurso aparentemente bem intencionado.
Não se trata de um desastre, de uma situação para que se foi arrastado, por impossibilidade de garantir a eficácia daquele discurso bem intencionado.
Não se trata de um logro em que –sem a menor intenção – se caiu.
Não se trata de se ser convencido pelos últimos, mais dificilmente identificáveis, mais invisíveis detentores do poder, convertendo-se, inesperadamente, a uma lógica e a uma política que são a antítese dos seus anteriores propósitos e projectos.

Não se trata de um erro condenável. De uma atitude pérfida. De uma mentalidade desprezível. De uma personalidade igualmente abjecta. De uma deslealdade. De um execrável procedimento.

Mas como? Sempre? No nosso convívio do dia-a-dia?

Não. Em política.
Na política, de há muito que não. De maneira nenhuma. Em absoluto.

Trata-se, antes, de uma virtude. Uma recomendável qualidade. De um imprescindível, necessário, útil, geral e recorrente modo de proceder.

Mas quem aborda esta questão com a serenidade e a crua análise que lhe são conhecidas, é António Barreto. Na sua coluna semanal do Público, RETRATO DA SEMANA, de hoje, e que desta vez se intitula “DA MENTIRA COMO VIRTUDE POLÍTICA”.

E não se esquece de esclarecer que a mentira (na política) não é uma “prerrogativa” dos governos musculados ou totalitários. Não: tornou-se igualmente comum nas modernas democracias.

E se AB não esquece essa aclaração, também não deixa de nos trazer à memória casos e nomes concretos acerca da matéria. Domésticos e da cena internacional.

António Barreto deixa, no seu texto, uma apreciação muito comum que o próprio jornal destaca:
"Não fazer o prometido, deixar de o fazer ou fazer outra coisa é uma forma de sublinhar a mentira original. Mas também passa, na política, por benigno constrangimento".

Mas a dada altura saiu-lhe a frase lapidar, a verdade que todos constatamos:
"A mentira, a fria mentira transformou-se em instrumento de governo".

E ao questionar-se, no final do trabalho, sobre se “será possível contrariar esta nefasta” realidade... Acerca de certos políticos é impiedosamente imperativo: “não há esperança”. Ah, mas relativamente a outros ainda arrisca um “é difícil”, que não sendo animador, também não nos remete para o completo desânimo.


Ora, porque é um texto básico, paradigmático e exemplar, merece integrar as memórias do Apostila. E aí vai ficar:
“DA MENTIRA COMO VIRTUDE POLÍTICA”

NOUTRO PLANETA

A argúcia abrasiva e muito discreta de Luís Afonso


Luís Afonso continua a ser merecedor de grandes encómios e continua a ser um dos meus favoritos nesta área.
E devo recordar que a rubrica semanal “Preto, branco... e também cinzento” de LA (de que é exemplo o cartoon acabado de apresentar, com a devida vénia e com todos os créditos), faz parte do espaço que o jornal dedica à matéria de OPINIÃO. O que me parece ser muito significativo, enquanto ultrapassa o estatuto do cartoonista tout court.
É um merecido reconhecimento de uma opinião, entre os mais “opinadores”.


sábado, 27 de outubro de 2007

NASCEU UMA ESTRELA?

Não sei como a maioria destas estrelas do mundo da canção e do canto lírico despontam. Calculo que, muitos, seja durante cursos frequentados nos Conservatórios.
Mas não estou certo de que todos tenham esse berço. Muitos terão começado em palcos amadores. E outros, doutras formas menos amparadas, ainda.

Foi num desses programas de televisão de grande popularidade, cujo objectivo é a descoberta de novos talentos na área da interpretação musical, e em que vários concorrentes anónimos se apresentam a interpretar canções famosas e a lembrar a voz dos seus mais conhecidos intérpretes, que se apresentou, neste caso no Britain's Got Talent, num canal televisivo britânico, Paul Potts.

Na sua primeira apresentação, a 09JUN07, interpretou uma parte da ária “Nessun dorma”, surpreendendo público, júri e críticos




E na final do mesmo concurso, a 17JUN07, o novo tenor saiu vencedor interpretando de novo, mas agora por inteiro, e com retumbante êxito, aquela mesma ária da ópera de Giacomo Puccini, Turandot, popularizada por esse grande nome do canto lírico que num espectáculo, de público “exigente”, teve de ir à boca de cena agradecer incessantes aplausos da assistência mais de 300 vezes, o recentemente falecido Luciano Pavarotti.




Será que temos o nome de um novo tenor de ópera a fixar?
O jovem Paul Potts, nascido em 1971, em Bristol, na Grã-Bretanha, e que até Junho último vendia telemóveis, parece ter voz “suficiente” para se afirmar nessa área. Assim tenha com ele a estrelinha da sorte.

NASCEU NOVA VÍBORA VENENOSA

Um amigo enviou-me o link para o recentíssimo blogue de Rui Namorado/RN, acerca de uma espectacular fábula que ele congeminou.

Mas antes (imediatamente anterior) da tal fábula – extraordinária, repito – RN deixara um post sobre o cowboy que se imagina o xerife desta aldeia global em que vamos sobrevivendo com dificuldade.

A deriva bushiana, e o anedotário que se lhe associa, tem sido tema de inúmeras intervenções e debates. Tem feito correr oceanos de tinta e tem gasto largos gigabytes. Mas poucos têm tido o “arrojo” de fazer uma censura mais fria e profunda deste fenómeno que é muito mais grave do que pode parecer numa apreciação mais superficial.
Tomarmos, relativamente a Bush, simplesmente a atitude que costumamos tomar com um qualquer outro tonto - encolhermos os ombos... Não chega.

Rui Namorado, no seu "O Grande Zoo", faz uma análise desse fenómeno burlesco que alguns "países amigos" vão alimentando: o insuportável bushismo.

Trata-se de um texto sério, sensível e sensato: “Bush – monarca universal?”

Matéria importante para ler e reflectir.





Ah, sim! O tal soberbo apólogo, de que eu tinha falado acima?
“O velho navio, os ratos e a prudência”, é o seu título e trata de uma matéria nada menos séria. Acerca do seu conteúdo não levanto nem uma pontinha do véu... Sei que vai ser basto difícil, mas todos vão acabar por descobrir do que se trata.

Não perca um e outro: textos a merecerem uma leitura atenta.

Blogue para anotar e visitar.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O PARTIDO DO DESASSOSSEGO


a imagem é de Kaos, embora ele se tenha esquecido de o marcar com a sua conhecida chancela,
e ilustra um seu post recente intitulado “A purga laranja”


Que a rei morto se siga rei posto, qualquer mortal entende.
Mas que a rei posto se siga, em simultâneo, outro "proposto"... Já só certos meios políticos podem entender.
Ainda os “sulistas, elitistas e liberais” digeriam a vitória do seu detrator, e já este pobre coitado lhe tinha a morder nos calcanhares um tal Aguiar Branco. Isto, que se saiba. Fora os outros que, sorrateiramente, se vão preparando para o assalto.

Não vejo (nem sei se alguém verá) o PSD livre de uma casta de barões e incontáveis sumidades, com uma linha de rumo coerente e minimamente estável, sem ser objecto de constantes assaltos, e frequentes depurações, doutra forma que não à mercê de puros jogos de interesse pessoal, com um projecto para o bem estar e o progresso da comunidade nacional.


A prática seguida pelos sociais-democratas é natural num partido para cujos dirigentes (e candidatos a) essencialmente "a política serve para ajudar os amigos, prejudicar os rivais e aplicar a lei aos indiferentes", na célebre expressão de Schilling.

Ah! Mas com Menezes, penso que sim: o PPD/PSD/PPD vai guindar-se à sub-cave da política e fazer com que não esmoreça muito a pomposa designação de “o maior partido da oposição”.

Por tradição e por má arrumação do espaço político português – dado que a maioria dos saudosos da “outra senhora” (muitos deles raivosos e desejosos de vingança) apostaram, sobretudo, neste partido, num tempo em que ele gozava, dentro do possível conservantismo, de alguma credibilidade – por tradição, repito, este PPD/PSD/PPD irá manter-se nessa honrosa posição de um dos maiores partidos da lusa pátria.
Por tradição, insisto.
Por enquanto, quero dizer.

Não só, mas muito, também, atendendo ao novo líder da sua bancada parlamentar, ao seu gabarito e à sua indiscutível credibilidade, este partido vai longe. Longíssimo. Vai atingir o apogeu. A consagração. A glória dos maiores.
Enquanto andou por aí, a criatura, além de ter sacudido as badanas, talvez tenha cortado o cordão umbilical com a incubadora, é possível que tenha renunciado a alguns dos tantos e suaves colos, e pode ter ganho umas migalhas de senso, de equilíbrio emocional, de competência, de responsabilidade, sobretudo de maturidade...
Será?

A verdade é que ele ameaçou que um dia havia de voltar.
E voltou.
E para fazer mais uma das muitas purgas que o partido laranja é useiro e vezeiro em realizar – recordo parafraseando João Pestana, o autor da imagem que ilustra este post.

Até quando?

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

SOMBRA

A sugestão do PPP para os seus “jogadores”, esta semana, é a “Sombra”

Boa sugestão. Daquelas que dão pano para mangas.
Se há expressão que não seja unívoca, esta é, seguramente, uma delas.
A propósito dela, a nossa imaginação pode vaguear desde o espaço etéreo, até múltiplas situações aqui, no planeta.
Tantas são elas que até a certos “fantasmas” e “espíritos” chamamos de sombras.

E não são, também, os guarda-costas sombras dos seus protegidos?

Uma sombra, que pode ter contornos mais ou menos definidos, é uma projecção. De algo ou alguém.

Estamos mais habituados a ver projecção de imagens físicas. As suas sombras, quero dizer.

A situação de sombra mais vulgar é aquela que é definida pela ausência ou pela diminuição de luz, num espaço, por interposição de um objecto entre ele e a fonte luminosa.
É a que nos alivia dos rigores dum Sol escaldante, por exemplo.




Mas há sombras tão manifestas como as dessas imagens físicas, que não têm suportes tão visíveis aos olhos comuns.
Um filho pode – e é quantas vezes – ser a sombra do pai. Um discípulo exemplar, sombra do seu mestre.

Até organizações, instituições, podem ser a sombra do espírito, do querer, do enorme poder de alguém. E, em frequentes casos, acabam por ser tão medonhas, elas... Como eles.

Por exemplo, sombra “agradável” mas profundamente iníqua, é a que é desencadeada pelo nepotismo, clientelismo e pelo culto de personalidade com o afastamento de critérios de competência e de rigor, que facilita situações de desigualdade, que fomenta a discricionariedade, que desenvolve puros favorecimentos. Que gera irresponsabilidades. Que garante imerecidos proventos.
E então é ver, por exemplo, (caso bem recente), o filho de um colunável banqueiro, desencadeando toda uma série de irregularidades, no banco de que o pai é figura máxima, infracções que a comuns mortais custariam um preço muito elevado e, a alguns, a própria sobrevivência, até.
Foi à sombra tranquilizante de um tal pai, que um tal filho pôde alardear a sua irresponsabilidade. E sem consequências.

E a enorme quantidade de criaturas que, a seu bel-prazer, punham e dispunham sobre o que podíamos ver, ouvir, escrever e falar durante o infindável consulado de Salazar, à sombra de quem actuavam com arreganho e despudor?


imagem retirada da página oficial do governo dos Açores


Certos saudosistas do passado tentaram fazer reviver esses tempos mesmo depois de Abril.
Mais não são, também, que sombras de espectros que ainda pairam por aí.
Tentaram e conseguiram: em 1992, o subsecretário da Cultura, Souza Lara, vetou a candidatura do romance "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", de José Saramago, ao Prémio Literário Europeu




E aqueles vermes que, exactamente por vermos, ouvirmos, falarmos e escrevermos sobre o que o regime proibia, metiam cidadãos dignos e livres nos calabouços para os torturar e obrigar a vergar a sua verticalidade – ainda e sempre à sombra do todo-poderoso ditador?


crachat da PIDE

(De entre tantos escolho um exemplo:
o de Germano Vidigal, operário, assassinado com esmagamento dos testículos,
depois de três dias de tortura no posto da GNR de Montemor-o-Novo)
.
.
E, na Idade Média, os assassínios que não foram cometidos, à sombra da igreja de Roma, e pela Sacrossanta Inquisição, por se não acatarem as suas “indiscutíveis verdades”?

E durante o nazismo os milhões de judeus e outros marginalizados que foram pasto das chamas dos fornos crematórios, à sombra do poder de um louco que pretendia um apuramento da raça e cuja loucura não podia conduzir a outro fim que não fosse o seu próprio suicídio?

E as tenebrosas acções que se têm sucedido no planeta à sombra do poder de outros seres abjectos que, em África e na Ásia, levam por diante genocídios e chacinas perante um mundo estarrecido que não pára de protestar?

Execráveis, estas sombras.
Que o mundo civilizado e sensato tem de conseguir eliminar.

Até quando?

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

NÃO É FICÇÃO

Recebi há uns meses por mail.
Já o “mastiguei” várias vezes.
Documento “frio”, esmagador. Arrepiante.

Por mais que alguns não admitam, é para ser levado muito a sério.
Escusado será lembrar que, embora aqui se fale do Brasil, o fenómeno não se restringe a esse país, aos seus políticos e à sua política.

Marcola é o nome de guerra de um moço de 38 anos (Marcos Willians Herbas Camacho, de seu nome num mundo a que já não pertence), chefe do gang brasileiro que pôs S. Paulo a ferro e fogo em 12.05.06, e que passou mais de metade da sua vida na prisão.
Iniciou a sua carreira aos nove anos de idade, no centro de S. Paulo, e hoje é quem dirige o PCC/Primeiro Comando da Capital, uma poderosa e muito activa organização de criminosos do Brasil: “Marcola perdeu a mulher com dois tiros na nuca e assumiu o poder no PCC sem fazer alarde” - Solange Azevedo e Eliane Brum, in Época, jornal brasileiro online. Que mais adiante esclarece: “O PCC de Marcola estendeu seus tentáculos do interior dos presídios até as ruas graças a uma poderosa rede de centrais telefónicas operadas por mulheres de criminosos”.
A dada altura da entrevista Marcola fala de Beira-Mar: trata-se do nome de guerra (Beira-Mar, por ter nascido numa favela com esse nome) de outro brasileiro, um dos maiores traficantes de armas e drogas da América Latina (Luís Fernando Costa).
Marcola fala também a dado passo do CV, o Comando Vermelho, que é ainda o símbolo do crime organizado.

Não sei se os senhores do grande capital e do mundo já terão lido uma peça destas. Mas algum dia – talvez tarde – vão saber disto a preceito.
Só me interrogo sobre o seguinte: um dia vai-lhes tocar uma macieza destas... Como vão reagir?

E se juntarmos, a estes exércitos, outros, de outros excluídos? E o dos que têm fome?

Marcola fala em não retorno. Em insolubilidade da situação.

Mas é claro que tem de ser possível uma solução. O que não pode é ser violenta.

(É melhor não deixar que o cow-boy dos States e outros rapazes que por aí esfregam as mãos, sedentos de demonstrações de força, não se metam nisso. Ou antes: eles vão acabar por ter mesmo de se meterem – mas doutro jeito!)


A entrevista é do jornal O Globo, conduzida por Arnaldo Jabor.

Não é longa (6 questões), mas dá muito que pensar.






«Entrevista do Marcola
23/05/2006

Estamos todos no inferno. Não há solução;
pois, não conhecemos nem o problema.

- Você é do PCC?
- Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível... Vocês nunca me olharam durante décadas... E antigamente era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução é que nunca vinha... Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez: alocou uma verba para nós? E nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas... Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo... Nós somos o início tardio de vossa consciência social... Viu? Sou culto... Leio Dante na prisão...

- Mas... A solução seria...
- Solução? Não há mais solução, cara... A própria idéia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma "tirania esclarecida", que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC...) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios...). E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psico-social profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível.Não há solução.

- Você não tem medo de morrer?
- Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar... Mas eu posso mandar matar vocês lá fora... Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba... Estamos no centro do Insolúvel, mesmo... Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado n’uma vala... Vocês, intelectuais, não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante... Mas, meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse País. Não há mais proletários ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.

- O que mudou nas periferias?
- Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$ 40 milhões, como o Beira-Mar, não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório... Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no "microondas"... ha, ha... Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.

- Mas o que devemos fazer?
- Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas... O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, "Sobre a guerra". Não há perspectiva de êxito... Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas... A gente já tem até foguete antitanques... Se bobear, vão rolar uns Stingers aí... P’ra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas... Aliás, a gente acaba arranjando também "umazinha", daquelas bombas sujas mesmo... Já pensou? Ipanema radioativa?

- Mas... não haveria solução?
- Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco... Na boa... Na moral... Estamos todos no centro do insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês... Não tem saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabe por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogna speranza voi che entrate!" Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno.»

terça-feira, 23 de outubro de 2007

AINDA O TRATADO

Aparentemente asséptico, “politicamente correcto”, a coluna de hoje de Vital Moreira é a argumentação de um europeísta.

Tenta convencer-nos por uma afirmação que está longe de ser confirmada - as condições de federalismo não existem – e por uma confissão meramente futuróloga de que tais condições “não existem num futuro previsível”...

Não sei. Não vejo jeito de que tal aconteça – quando é que o Norte vai olhar para o Sul com olhos realistas e com evidente demonstração de sentido de responsabilidade?
Claro que falo sobretudo no sentido global, mas também relativamente à Europa. Até pelo papel que, na matéria, deveria por ela ser liderado.

Têm razão de crítica – diz o Prof – quanto ao que agora se conseguiu, os soberanistas e a esquerda radical, e não têm os partidários de “mais Europa” por se não ter ido mais longe.

Para além do evidente sonho com o bloco central, que VM ainda acalenta, pelos vistos, tal significa que tantos, que não somos radicais de nenhuma das bandas, ficamos a vogar no éter, numa indefinição redutora.
Impossível.

A muitos dos cidadãos da Europa (sobretudo aos do subúrbio que é Portugal) por enquanto ainda os preocupa mais o desemprego que os penachos que os senhores da Europa querem conservar.

Depois, onde está a dúvida de que a maioria dos europeus querem intervir, referendar os seus destinos, fazer ouvir a sua voz? Basta ver os noticiários e as sondagens.
Por alguma razão os acelerados europeístas têm medo dos referendos como o diabo da cruz.

Com estes “eurófilos” à perna, o que se pretende é que o polvo tenha mais uns braços: mais gabinetes, mais burocracia, mais poder, mais assuntos resolvidos no silêncio das carpetes dos gabinetes.

Uma Europa de burotecnocratas e funcionários em lugar de uma Europa dos cidadãos, é o que estes senhores tratadistas pretendem.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

AS DERRAPAGENS E A LEI DE LAVOISIER, segundo Rui Moreira

Hoje foi a habitual coluna do Presidente da Associação Comercial do Porto que me fez ficar a matutar.

(Todas ou quase todas elas me ficam cá todos os dias a bulir, a enzonzinar a mioleira. Por vezes a revolver-me as entranhas. Mas há, muitas vezes, uma que se destaca...)

De facto, as derrapagens nas contas das obras (e não só nas públicas, mas sobretudo nestas) parecem ser uma fatalidade de que não há maneira de fugir!

Mas é evidente que toda a gente lhes conhece as causas.
Os conluios, as complacências, as conivências, as vesgas compreensões de argumentos absolutamente coxos.
A gula insaciável dos empreiteiros. O cúmplice encolher de ombros dos gestores.
A corrupção, sem mais rodeios nem adocicamentos.
Já sem máscaras e disfarces, muitas vezes. Às claras. Absolutamente despudorada.

São várias as mais badaladas. Mas de entre elas leva enorme vantagem a da estação do Metro da Praça do Comércio (ou Terreiro do Paço, se preferirem), que dos inicialmente previstos 165 milhões de euros passará a custar, afinal (até ver) 299.
Ou seja - e socorro-me, de novo, do colunista - aqueles 2 025 de túnel custam (até próxima derrapagem) a irrisória quantia de 1 500 euros por centímetro ou então 30 euros per capita. É obra!...

Mas para os gestores da coisa pública, que importância pode ter uma situação dessas?
Que a gente dê por isso: nenhuma.

Mas... e as polícias?
Ora, as polícias, algumas...
Além de que as polícias não agem a seu bel-prazer (embora pareça, quando instruídas pelos guarda-costas do primeiro-ministro), mas perante lei que os responsabilize e exemplarmente os puna. Além de que são necessários tribunais capazes de os condenar e punir.

Acho, pois, que é de aceitar a sugestão de Rui Moreira e de gravar nas paredes da estação de uma das obras mais emblemática da situação aqui descrita (a da Praça do Comércio) o princípio de Lavoisier que afirma que "na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma", que tem nela uma das suas mais acabadas demonstrações: o erário público (os nossos impostos) “é desbaratado impunemente mas não se perde, porque é transformado nos fabulosos lucros de alguns”.

Não fosse o assunto tão sério e preocupante e até acharíamos alguma piada ao vídeo seguinte. E vamos sorrir, na mesma, enquanto mete ridículo a situação.

Vejam-se, então, os patos bravos em exercícios de derrapagem


domingo, 21 de outubro de 2007

A SÉRIO?

Recebi como anexo a um mail.
Creio que sim, que será a sério...
Transcrevo o texto como recebido.


«O Reitor do Santuário de Fátima
Monsenhor Luciano Guerra
Sobre o divórcio, o aborto, o preservativo e a sexualidade


(Extractos da entrevista feita por Pedro Almeida Vieira e publicada no “Notícias de Sábado”, suplemento semanal do “DN”, de 6 de Outubro)


Jornalista: Havia vidas desgraçadas quando não existiam divórcios…
Monsenhor LG: Havia e hoje também há. No tempo em que não havia divórcios, havia situações bastante dolorosas, mas a pessoa resignava-se. A mulher dizia: calhou-me este homem, não tenho outra possibilidade, vou fazer o que posso. Ao passo que hoje as pessoas querem safar-se de uma situação e caem noutras piores.

Jornalista: Na sua opinião, uma mulher agredida pelo marido deve manter o casamento ou divorciar-se?
Monsenhor LG: Depende do grau da agressão.

Jornalista: O que é isso do grau da agressão?
Monsenhor LG: Há o indivíduo que bate na mulher todas as semanas e há o indivíduo que dá um soco na mulher de três em três anos.

Jornalista: Então reformulo a questão: agressões pontuais justificam um divórcio?
Monsenhor LG: Eu, pelo menos, se estivesse na parte da mulher que tivesse um marido que a amava verdadeiramente no resto do tempo, achava que não. Evidentemente que era um abuso, mas não era um abuso de gravidade suficiente para deixar o homem que a amava.

Jornalista: A questão do aborto é outro dos temas em que a Igreja recebe críticas …
Monsenhor LG: Aí é um caso limite em que não há qualquer hipótese da Igreja Católica vir a ceder. A Igreja entende que não temos direito sobre o nosso igual. A vida existe porque Deus quer.

Jornalista: Não faria sentido que, exactamente para evitar abortos, a Igreja tivesse outra postura em relação ao uso de preservativos?
Monsenhor LG: Não creio que em relação ao preservativo seja fácil. Além disso, sabemos que não há capacidade para distribuir a toda a população mundial, sabendo-se ainda que entre 20 a 30 por cento da Humanidade vivem com menos de um dólar por dia, que é o preço de um preservativo.

Jornalista: Porque é que a Igreja se mostra sempre tão rígida, se Deus nos criou com o corpo que temos, as sensações e as necessidades….
Monsenhor LG: Não é uma questão da Igreja Católica nem doutras religiões. A sociedade entendeu que a melhor forma de preservar a paz, no fundo o progresso, foi tirar as mulheres da frente dos homens. O perigo não são as mulheres, o perigo está nos homens.

Jornalista: Isso parece-me uma evolução. Há uns séculos, a mulher é que corporizava o mal, o desejo…
Monsenhor LG: Atenção, corporizava no sentido em que se entendia estar a propensão activa no homem. Se o homem não se impressiona com a mulher, a mulher não se impressiona com o homem. O perigo está nos homens, está no macho.

Jornalista: Fala-me disso e recordo-me de um sermão do século XVII em que um padre culpava os decotes das mulheres pela seca porque os homens não estavam atentos nas missas…
Monsenhor LG: Digo-lhe uma coisa. Tenho para mim que a falta de aproveitamento dos nossos jovens está na sexualidade que lhes absorve a atenção, mesmos sem estímulos externos, o principal dos quais é a mulher. Você sabe como é a imaginação de um jovem. Ponha agora uma rapariga ao lado e vai ver como ele se distrai mais rapidamente do que com um homem. Quanto mais você se concentrar num prazer menos tem concentração para aquilo que não lhe dá prazer. É por isso que os drogados, coitados, acabam por se drogar noite e dia, porque estão sempre a pensar naquilo. É uma obsessão»








O assunto da mensagem era: inteligência em movimento.
Nem mais. É que é isso mesmo: inteligência em movimento. Retrógrada, mas em movimento.

Finalmente percebemos que a questão do preservativo não é pelo seu uso, em si, que não é aprovado. Estávamos todos equivocados com o pensamento da hierarquia católica: é antes porque uma grande maioria da população tem menos de um dólar por dia, logo não tem dinheiro para a dita protecção...

(Olhem se Monsenhor Guerra calha a estar no Templo, quando Cristo por lá passou de chicote na mão!!!...)


Depois, o perigo “está no macho”.
Além disso, valha-nos Deus: um soco ou outro... Pelo amor de Deus, qu’importância pode isso ter?


É difícil classificar, em termos decentes, e com alguma serenidade uma entrevista destas. Pois que ela revela uma grande falta de decência, de seriedade intelectual, de honestidade, de verticalidade.
DE INTELIGÊNCIA!

A ausência total de decoro e o farisaísmo atingem as raias do paroxismo do delírio de certas criaturas. Como é aqui o caso.

Se não fosse palavra muito feia e muito pesada, diria de sua reverência que é de uma inexcedível hipocrisia.


E têm quem os siga!
E têm quem os oiça!
E têm quem os aplauda!

FANATISMO? RADICALISMO?

No século XXI.

I.





II.

Antigamente (séculos atrás) não era assim. Os processos eram mais artesanais, menos refinados.
Não se chamava, então, terrorismo: chamava-se cruzada.
Não havia aviões e suicidas profissionais.
Havia cavalos, cavaleiros, archeiros e lanceiros. E havia sempre uma espada para o golpe de misericórdia
Os mercenários eram diferentemente remunerados. E não se consumiam na miragem das setenta mil virgens celestiais, mas iam aproveitando as que encontravam pelo caminho. Barbaramente.
Não se destruía menos, mas mais devagar. Ou se, acaso, se destruía menos, era porque menos havia para assolar.
Não se matava menos, mas mais pausada e requintadamente.

(Quase tão requintadamente como durante a SANTA INQUISIÇÃO)


imagem Kacper Pempel/Reuters/Público

Jaroslaw K. num comício
Assim, sim!


Hoje... Sobram os símbolos. A ideologia ultra-conservadora, o nacionalismo exasperado, a postura misógina, o machismo descerebrado e impenitente, a intolerância, a perseguição e a discriminação impiedosa.
Tudo em nome do Senhor!
“Louvado seja” – dizem em coro.


sábado, 20 de outubro de 2007

O TRATADO DA MADRAGOA/MOSCAVIDE



Vai longe a Europa de Monnet, Schumann e De Gasperi. A Europa do consenso e da igualdade.

Mas passados tantos anos, testadas tantas experiências, feitos tantos discursos, produzidas tantas normas... O que é, afinal, hoje a Europa. Antes: a União Europeia?
Para além de uma zona de comércio livre e de uma instituição de burocratas, sim, o que é hoje a UE?


Talvez sejam em maior número os eurocépticos do que os “eurófilos”.
O eurocepticismo prende-se com o receio de um Estado federal.
As várias pátrias seculares, contruídas a pulso por velhos independentistas e forjadas em ferozes confrontos bélicos e nessa amálgama de vontades, sangue, conquista e traições vão lá agora confiar em vizinhos de quem sempre desconfiaram e a quem, não raro, disputaram o poder?!

E houve europeístas com mais precisos e marcantes objectivos, como “a obsessão gaullista, retomada por Chirac e Giscard, de uma Europa superpotência competindo com os EUA” – recorda hoje Pacheco Pereira

A verdade, actualmente, é que o novo Tratado vem reforçar a posição dos maiores países, dos mais populosos.

Aliás, explica de novo PP, “nenhum tratado alterará uma Europa que hoje se concentra numa França mais proteccionista e numa Alemanha que já não precisa de ninguém (ou seja, da França) para ter uma política externa própria e quer uma Europa ao modelo dos seus Länder”.
Daí que, segundo o mesmo historiador, o presente tratado se destine “apenas a encontrar uma solução de poder para que este permaneça do lado do "motor" franco-alemão, impedindo-o de se dissolver no Leste, onde há demasiado americanismo, liberalismo, instabilidade, questões nacionais por resolver e fronteiras muito, muito incómodas, e num Reino Unido com os mesmos pecados, menos a instabilidade e as fronteiras”.

Mas perante este quadro, de grandes “figurões” da política europeia, caberá perguntar: por que luta, por que se bate um pequeno país como Portugal?
Não acredito, não é possível que seja, apenas, pela provinciana prosápia de dar o nome a um documento...

E aí, pese embora o meu espanto, estou de acordo com José Manuel Fernandes: “aquilo que os portugueses exigem de Sócrates e do líder da oposição”, “é que lhes expliquem o que, como pequeno país, ganhámos num acordo que é desfavorável aos pequenos países. Um acordo que retira poderes da Comissão Europeia (o habitual "advogado" dos pequenos) para os entregar a um Conselho e a um Parlamento Europeu onde o peso dos grandes será muito maior do que é hoje”.

De acordo com a analista Isabel Arriaga e Cunha, o espectro que se temia (teme) era o do Conselho de Ministros da EU. E explica: “Será sobretudo na formação de "minorias de bloqueio" das decisões (...) que o novo peso dos grandes mais se fará sentir: os quatro países tidos como os "forretas" no plano orçamental - Alemanha, Reino Unido, Holanda e Suécia - poderão sempre bloquear qualquer decisão na matéria, o que não acontece com as regras actuais. Esta é uma má notícia para os países fortemente dependentes das transferências europeias, como Portugal”.

“Uma certa "Europa" (ou, se quiserem, uma facção de "eurófilos" sem conserto) sonha em se transformar numa grande potência, capaz de equilibrar a América e de moderar a Rússia” – conclui, agreste, Vasco Pulido Valente.

Ah, mas para concluir mesmo, não posso deixar de trazer para aqui uma tirada soberba de Pacheco Pereira: “Os europeístas tecnocráticos são outras variantes de gente contente. Eles acreditam que a racionalidade europeia é superior à das nações e tem uma certa razão prática. Os burocratas, se deixados à Lei de Parkinson, tratarão em primeiro lugar de si próprios, tratarão de alargar a burocracia, mas em seguida combaterão aquilo que acham ser a "incompetência" dos políticos. Está tudo no Sim, Senhor Primeiro-Ministro esse compêndio televisivo da democracia real. Combaterão a política e essa impureza para a dignidade do bom governo que são as eleições e os votos. Eles produzirão milhares de leis, regras, regulamentos, directivas, estudos, pareceres, notas de orientação, produtos do puro saber burocrático regulamentador, que, para além da pequena pecha de implicarem sempre mais burocratas, mais escritórios, mais "agências", são produtos iluminados de um mundo perfeito onde os barcos têm duplo casco, o silicone mamário é resistente, tudo é biodegradável, as ovelhas têm transporte adequado, os peixes estão protegidos dos pescadores, a carne, as maçãs, o vinho, o queijo, estão isentos de todas as doenças conhecidas, são inodoros, não têm sabor, brilham em embalagens etiquetadas como deve ser, e os trabalhadores devem ser muito bem tratados pelo "modelo social europeu", menos os canalizadores polacos. Centenas de Sir Humphreys no topo e milhares de Bernards na hierarquia garantem esta Europa.”

Nem mais: o mundo é cada vez mais talhado à medida dos burotecnocratas.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

IMPOSSÍVEL? TALVEZ NÃO

De vez em quando fica-nos a sensação de não haver ninguém mais infeliz e azarado que nós: porque o elevador encalhou noutro andar, porque alguém nos ultrapassou, deselegantemente, na fila do supermercado, porque pedimos um café bem quente e ele veio morno, porque chove e esquecemos o guarda-chuva, porque o jornal atrasou, porque o autocarro ia lotado, porque a papelaria não tinha a revista que nós queríamos, porque o jantar atrasou 10 minutos, porque a imagem da televisão tremelicava, porque a conta da electricidade ultrapassava o habitual, porque o acesso ao site foi de desesperante lentidão, porque a mão nos dói, e o pé nos incomoda, e o dedo está um pouco inchado, e o secador do cabelo avariou, e a máquina do tabaco não devolveu o troco todo, e o Multibanco tinha mais que uma pessoa na fila, porque só temos duas mãos e precisávamos de quatro mãos para despachar aquele trabalho e dar conta de tudo, porque a impressora enguiçou, e o computador bloqueou, porque um filho tossiu, e o outro espirrou, porque não chegámos a tempo do programa de televisão preferido, porque o barulho incomoda... porque tantas pequenas coisas incomodam...

Pois é! Por muito, muito mais, a alguns nem um queixume se ouve!
Somos uns eternos piegas. E nunca nos apercebemos que, afinal, somos, mas é, na generalidade, uns felizardos.

Impossível? Só parece.
Ah! Mas a vontade!
Veja! Que incrível!


quinta-feira, 18 de outubro de 2007

BANCOS







Os bancos, como qualquer empresa, visa o máximo de lucro. E só convidam para os seus banquetes (por lembrar o título da coluna, de há dias, de Campos e Cunha: “bancos e banquetes”, numa leitura que não só é possível, como não é abusiva) quem muito bem entenderem.
Os tristes dos depositantes que se calem e que se virem, se não estiverem bem. E os pobres dos pequenos accionistas que vão bugiar, se não tiverem peso suficiente para discutir o jogo.
Campos e Cunha dizia, bem claro, que o podia preocupar a falência de um banco. Nunca os lucros, por maiores que fossem, que pudesse atingir, pois que era para isso que ele existia.
Claro que hoje entende-se melhor o raciocínio do sr ex-ministro: factores com vocação para conduzirem um banco à falência, não são quaisquer. Estão, naturalmente, excluídos, os que visam perdoar milhões, de empréstimos e ou de juros, aos seus maiorais, familiares e amigos.
Lucros, sim, e quanto maiores, melhor – repetia o sr Prof. Nem que apenas em proveito dessa ou dessas raras famílias – podíamos depreender, na ausência de distinção. Porque é evidente que o seu contributo para a riqueza do País, para a economia da comunidade... é uma panaceia, uma mentirola piedosa, uma afirmação esdrúxula e sem conexão com a realidade.
Pequenos ou grandes aforradores? Pequenos accionistas?!
Que se danem.

É que é preciso não esquecer que:
- um banco não é uma instituição de caridade – quando uma mão dá, a outra não fica esquecida de receber (e sempre muitíssimo mais do que deu);
- nem é uma confraria modelar – a ética é o salve-se quem puder e quem melhor se puder impor;
- como não é uma sacristia – o incenso não é o seu odor característico. Talvez, antes, e muitas vezes, o da pólvora;
- mas antes se assemelha a uma casa de meninas – o pudor não é a sua especialidade;
- além de que não é uma escola de democracia – à transparência de processos substitui-se a neblina de alguns interesses;
- nem uma escola de virtudes – as regas do jogo alteram-se ao bel-prazer dos seus gestores.

Uma curiosidade: o Prof Campos e Cunha faz sempre acompanhar estas suas reflexões de um PS, no final. De que consta: “declaração de incompatibilidade: não tenho acções de bancos, nem directa nem indirectamente”

Algumas criaturas doutros tempos (outros valores), como eu e tantos, poderiam ser levados a pensar: pois, o prof prega, prega, mas ainda lá tem a sua ética.
Puro engano. Para que se não deixe passar por ingénuo, lá está bem expresso que é por meras razões legais (incompatibilidade) que o afirma.

Fique descansado sr dr. Entendemos.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

OS AVANÇOS DA TURQUIA


A Turquia parece encontrar-se numa encruzilhada difícil: não sabendo se virar-se para o passado, se avançar, decididamente, para o futuro, resolveu saltar, a pés juntos, para o “progresso”.
Na verdade, acaba de eliminar o tratamento igualitário entre homens e mulheres e propõe que estas sejam consideradas "seres vulneráveis que necessitam de protecção".
Não será justo chamar-lhe um passo (tímido, muito menos) de avanço no melhor sentido. Foi antes um solavanco, um arranque impetuoso na direcção do mais espectacular progresso.

Em qualquer parte do mundo actual (das populações mais evoluídas às mais atrasadas), uma criança é, mais por natureza que por definição, um ente frágil e vulnerável que necessita de protecção.
É assim, em toda a parte, por mais carenciado ou abastado que seja o ambiente que a acolhe.
Mas há Estados (cúpulas máximas na organização e estruturação das sociedades) cujos líderes e respectivos representantes e colaboradores, levam longe demais o seu pendor para o proteccionismo em tal área.
Nada nem ninguém os demove do sábio progresso e do mais venturoso equilíbrio da sociedade. O mundo que está para lá dos seus muros está irremediavelmente perdido, às avessas. Na escuridão total.
É assim que grande parte dessas crianças, nesses países, sob a tutela de tais governos, chegada a idade adolescente, depois a adulta, deixa de necessitar dessa protecção: os cidadãos do sexo masculino.
Mas, e as criaturas do sexo feminino, meu Deus?!...
Pese embora os mais credíveis dados científicos afirmarem que elas são, em todos os aspectos, de um mais precoce desenvolvimento que os homens... Nada de confiar. Nada garante que tais seres se possam deixar entregues ao seu normal progresso. Que não continuem a exigir a mesma protecção para a sua “manifesta” vulnerabilidade – como o mundo está cansado de provar.
E da mesma indigência e congénita diminuição as consideram certos credos, como o catolicismo e o islamismo.
Os doutores e os padres da igreja de Roma, em épocas de mais conturbada misoginia, até afirmavam que o seu crânio não tinha cérebro, mas meras lombrigas e aranhas. Mais: que nem alma tinham. Pobres seres inacabados que tinham de ter o correspondente tratamento.
E que não podiam usufruir de confiança, já que falhas de capacidade.
E isto para não falar, ainda, nos métodos de eugenia, relativamente a elas, especialmente, que sempre foram mais ou menos utilizados e que hoje ainda o são nesse mundo de homens tão prodigiosos como o de que acabo de falar.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

UMA VOZ NO DESERTO?

Li algures, um dia destes – não me perguntem onde, que já esqueci – assim numa passagem meteórica.

(Esqueci? Como assim?
Sei que não há perigo de contágio, mas há sítios por onde não passo, ou, se tenho de passar, (ou se calho a fazê-lo) é a fugir... Tudo o que me lembra outros tempos não atrai a minha atenção).

Mas anotei que quem postava era um Carlos Botelho. Que falava do congresso, não sei se do PPD, se do PSD, se do PPD/PSD se do PSD/PPD, sei lá, talvez do PPD/PSD/PPD ou então do PSD/PPD/PSD...

E dizia:

“Neste momento, Aguiar Branco fala ao Congresso.

Diz, para quem o quiser ouvir, que a distinção entre "bases" e "elites" não passa de demagogia.
E diz, para quem o quiser ouvir, que convém que o PSD tenha cuidado com a imagem que mostra para o exterior.
Diz ainda, para quem o quiser ouvir, que o Partido deve estar atento à sua credibilidade e que as pessoas não devem escolher o PSD apenas por ser um mal menor.

Alguém o terá ouvido?”


O sr, que eu não conhecia, mas que alguns são capazes de conhecer, bem vociferava e, corajosamente, reconhecia no seu partido “um mal menor”... (Ficou por definir, mas era fácil de intuir qual era o “mal maior”. Mas nem aqui havia certezas ou unanimidade).
Recorda o autor do post, e insistentemente (quase acintosamente) que o dito sr fazia certas afirmações (de que destacava três)... “Para quem o quisesse ouvir”...
A assistência não era de monta, e os ouvintes para aquele orador menos eram ainda.
(Deve ser desesperante!)

À primeira frase, acima referida, um cavalheiro que não quis identificar-se, respondia, da fraca assistência, repetida e convictamente: “”bases” e “elites”, demagogia? Olhe que não, dr, olhe que não!”

À segunda frase (“cuidado com a imagem”), um outro, que se via tratar-se de figura grada e a quem tratavam por “sr engº” respondia (como é seu hábito): “três coisas fundamentais (e estendia a mão espalmando os cinco dedos bem visíveis) é preciso não esquecer: uma imagem e um discurso para cada momento e circunstância...

À terceira frase, uma criatura que andava por ali, comentava alto e bom som: “credibilidade”, “responsabilidade”, “maturidade”... deixem isso comigo!”


Ah! Mas o que eu melhor compreendo é a angústia do autor da postagem e a sua ansiedade tão bem espelhadas naquele “alguém o terá ouvido?”

Em situações que consigo imaginar, é dramático.



ATENTOS, VENERANDOS E OBRIGADOS

São irreverentes?
Inocentes?
Descontentes?
Indecentes?
Recorrentes?
Inconvenientes?
Impenitentes?
Incoerentes?
Descontentes?
Imprudentes?
Displicentes?
Dissidentes?
Impertinentes?
Estridentes?
Insolentes?

Sei lá... Podem ser tudo. Até levados da breca.
Mas uma coisa afianço: não são pobres e mal agradecidos.
Isso – santa paciência – isso é que não.
Veja-se que até se não esqueceram de agradecer os 3% do défice!
É obra!
É estar atento, venerando e obrigado!
Que mais se pode exigir?

Apreciem.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

AL GORE, NOBEL DA PAZ?

Al Gore bem podia mostrar-se surpreendido. Bem devia agradecer, como agradeceu, penhoradíssimo.

(Eles, às vezes, fingem que não sabem... Mas claro que sabem o que é verdadeiramente justo e merecido, e o que não é. Mas “esquecem-se”, em certos casos.)

Al Gore viu o filme todo e nem queria acreditar, ainda que não fosse inédito.

Fui um dos muitos e muitos a quem a nomeação para Nobel da Paz até nem surpreendeu. Foi a constatação da politização, mais outra vez, do Prémio.

Imagine-se que uma instituição, com uma carga mais ou menos positiva de seriedade, atribuía um Prémio de Boa Conduta e de Boas Maneiras a AJJ?
Só mesmo quem conhecesse a façanhuda criatura toparia o frete que se acabava de fazer.

Na verdade, Al Gore não merece muito menos o prémio que o actual xerife do Império.

Ambos têm uma folha bem recheada. Mas a de Gore... Talvez um tudo-nada menos suja e carregada.

Claro que o trabalho para que, abaixo, remeto, não foi feito pelo lobby da candidatura do ex-presidente ao prémio.

Mas os tons rosa já nos foram transmitidos em quantidade suficiente.
Falta, mesmo, é uma história mais completa e verdadeira.

O autor do manifesto que trago para estas páginas, começa por esclarecer que duas falhas ocorreram e que levaram à decisão do comité: uma, não ter encontrado na sua lista de candidatos nenhum autêntico defensor da paz; outra, desconhecer o currículo do ex-vice-presidente.
E parte, logo, de uma primeira evidência: Al Gore nem é um homem de Paz, nem pode aspirar a salvar o planeta com a sua visão ecologista.

Os pontos nos ii, logo à partida, como convém.

Leia, então,
ALGUMAS VERDADES INCONVENIENTES ACERCA DO ACTUAL NOBEL DA PAZ, AL GORE

Aviso que é uma sequência de textos. Não muito curtos. É para ir lendo aos poucos. Calmamente, pois vale a pena.


domingo, 14 de outubro de 2007

SEXUALIDADE

Uma passagem pelo “A VER O MUNDO” de JCM, sempre empenhado com a actualidade e com as questões mais candentes, dirigiu-me a atenção para a matéria da sexualidade tratada num blogue onde a profundidade das questões debatidas e a qualidade científica dos autores dos posts, fazem do DE RERUM NATURA, um blogue de referência e de visita obrigatória.

A igreja de Roma, quanto mais próxima das sua raízes filosóficas e do humanismo com que olhava e acompanhava os seus fiéis se manteve, mais se aproximava dos genuínos ensinamentos de Cristo, antes de os mesmos serem avaliados pelos doutores da instituição que ele fundara e cuja hierarquia, cada vez mais virada para preconceitos de conveniência, ia moldando aos seus propósitos de cada vez mais acentuada misoginia, conquanto fale da mulher em termos de mais ou menos calculada e farisaica respeitabilidade, mas mantendo, na prática, por ela, a repulsão e o desprezo que a prática não se cansa de sublinhar.


“Durante o apogeu da cristandade não havia qualquer proibição eclesiástica em relação ao uso de métodos contraceptivos, inclusive o actualmente tão execrado preservativo. Assim, a Europa medieval estava inundada de tratados médicos recomendando métodos para evitar a concepção – recorda um dos textos para que se remete. E, não muito depois, constata:
“O carácter epidémico da sífilis foi muito rapidamente reconhecido, embora as causas do contágio demorassem algum tempo a ser entendidas. Mas quando o foram, implicaram profundas revoluções sociais - nomeadamente no que respeita à ingerência religiosa em matéria de sexualidade”

Natural que hoje pasmemos com o fátuo arcaísmo da actual hierarquia da igreja de Roma, quando os riscos que se correm não serão os mesmos, mas também não serão nem em menor quantidade nem nada menos graves. Muito pelo contrário.


A remissão é feita, neste caso, para dois posts do DE RERUM NATURA.
Aí se trata dos métodos contracepcionais desde a mais remota ancestralidade até aos mais consentâneos com as graves consequências trazidas pela sexualidade mal interpretada e mal vivida, até há séculos atrás, quando a igreja de Cristo se empenhou viva e eficazmente no acompanhamento e na superação do problema.
Tudo em chocante contraste com as mais canhestras manifestações das mais recentes hierarquias da igreja de Roma.

E descendo à consideração de um dos aspectos do problema, o blogue detém-se, desta vez, na análise, apenas, do preservativo nesses dois posts.

Breve história do preservativo: antiguidade

Breve história do preservativo - II


Nunca é demais abordar tão importantes – e vitais – questões.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

“BANCOS E BANQUETES”, DIZ MUITO BEM SR PROF

“Quase todas as sociedades tendem a amarfanhar e a desprezar os seus casos de sucesso. A inveja é um sentimento crescente nas sociedades mediatizadas em que quem sai da mediania é para abater.”

Casos de sucesso, arduamente conquistados, numa labuta diária, são a dos nóbeis e dos cientistas que duramente conquistam o sucesso e a projecção dos seus nomes.
A esses ninguém o amarfanha, ninguém os despreza, ninguém nutre por eles qualquer espécie de inveja.

Os políticos que forjam, descarada e destemperadamente, as melhores condições do seu futuro, esses não provocam sentimentos de inveja, mas uma indignação justíssima, até porque, relativamente à sociedade em geral, defendem regras e princípios que esquecem despudoradamente na resolução dos seus casos pessoais.

É o princípio da verdade e da transparência que estão em causa e são pura e simplesmente ignorados.

O mesmo se passa com os empresários (banqueiros, especialmente incluídos), que com um percurso atapetado de pétalas, sem obstáculos ou dificuldades – pelo contrário, cheio de mordomias e facilidades – levam de vencida os seus negócios fabulosos.
Também não é inveja o sentimento que esta situação suscita: antes, igualmente, de indignação, por terem um tratamento altamente privilegiado e protector.

O sr Prof Campos e Cunha refere (eu atrever-me-ia a dizer, com ingénua displicência, sabendo embora que só na aparência assim é – como quase tudo em política) que os banqueiros “cumprem a sua obrigação de defender o investidor e utilizar os mecanismos legais para terem lucros líquidos mais elevados. É essa a sua obrigação e eles cumprem.”

Impressionou-me o argumento: o povo, acossado pelo aumento de custo de vida, pelo aumento das cobranças fiscais (na quase generalidade conseguida à sua custa) e pela diminuição dos seus rendimentos, e lutando ainda contra uma constante degradação dos serviços (saúde, educação, outros), vê-se e deseja-se para subsistir com o mínimo de dignidade.
Pois, tamanha e paralela é a tarefa que aos banqueiros se apresenta e eles têm a felicidade de conseguir vencer. Sós.
Ambos lutam arduamente, e não obstante a maior dificuldade dos seus objectivos e do percurso que lhes conduz, os banqueiros conseguem (talvez com a ajuda de Deus) atingir a sua meta.

Há duas afirmações que o Sr Prof Campos e Cunha fez sem esboçar um sorriso nem uma hesitação:

“os bancos estavam semifalidos na hora da privatização e transformaram-se em empresas rentáveis e, mesmo, muito rentáveis.”
Não se diz aí, mas noutro lugar da sua coluna: a banca “passou de um sector arcaico, burocrático e protegido para um sector moderno, competitivo e habituado à concorrência internacional.”
Como?
Por obra e graça do Divino Espírito Santo. A protecção de que ali se fala... Foi por distracção que se referiu.

Depois: “Apesar de notícias de quebra nos lucros dos principais bancos portugueses” – afirma sem titubear, o Prof.
Deve tratar-se de outro planeta, aquele onde os economista habitam...

Curiosíssimo é ainda o argumento fantástico que se segue:
“Se os bancos pagam menos IRC do que alguns gostariam, então a "culpa" é da lei e de quem a aprovou, não dos banqueiros. Estes cumprem a sua obrigação de defender o investidor e utilizar os mecanismos legais para terem lucros líquidos mais elevados. É essa a sua obrigação e eles cumprem.”
Isto, tudo leva a crer, sem uma ponta de vergonha. O descaro total.

Claro que todos respeitamos o saber de tão gradas figuras da economia.
Mas vivemos um dia-a-dia que está em flagrante contradição com tão sábias análises e previsões.

O mundo real será o que se projecta nos seus “laboratórios” ou será aquele que a vida nos revela?

E a nós, aos mais ingénuos (nós, sim, ingénuos) coloca-se uma importante questão: o mundo existe por mor da economia, ou vice-versa?
É o mundo que tem de adaptar-se à economia?
Nesse caso, como resolver o problema da crescente fome no mundo?
Neste momento esse número atinge a preocupante cifra de mais (muito mais) de 800 milhões de cidadãos com fome...

Mas faz-se uma apologia, bem pouco discreta, do lucro. De cada vez maior lucro.


quinta-feira, 11 de outubro de 2007

NOVOS “ENTORSE” E GROSSEIRA DESFOCAGEM DA IGREJA CATÓLICA

No Público de TR 09OUT07, Vital Moreira verbera a estropiada campanha da Igreja Católica e seus apoiantes contra a reforma do regime de assistência religiosa nos hospitais.
Reforma muito tímida, é certo. E tão receosa que até parece revelar um inexplicável temor reverencial.
A campanha, desencadeada sob a batuta da própria Igreja, e orquestrada pelos seus mais cegos seguidores, é característica das lutas de gente sem escrúpulos, habituada a dominar a todo o transe, com ou sem título, com legitimidade ou sem ela, sem peias, sem estribeiras, sem razão, sem maneiras, sem a mínima seriedade. Como sublinha o Prof, «fiel à sua tradição "constantiniana"».
No seu histerismo, a Igreja Católica, os seus “barões” e as suas hordas, não discutem com apelo à inteligência e à serena verdade. Nada disso: lançam toda a espécie de confusas atoardas, de grossas aleivosias, de indemonstráveis insinuações, a coberto de falsas afirmações e de outras excitações.

Diz-se, do outro lado da barricada, que o Estado revela ainda alguma insegurança e que mantém, até, algumas concessões inadmissíveis. Basta um exemplo: porque vai, por ora, o Estado suportar as despesas que resultam da assistência religiosa dos enfermos hospitalizados, se fora dessa situação tal encargo não é da sua conta?

É um trabalho muito lúcido, o do Prof de Coimbra. (Muito mais sereno que este meu desabafo). É um artigo que urge ler, para ficar inteirado (e bem documentado) sobre todo este despropositado alvoroço, acerca de toda esta ardilosa campanha, sobre esta vergonhosa excitação histérica de alguns católicos.

Acerca do dislate, VM resume: «aos interessados seguiram-se os prosélitos. (...) E aos prosélitos seguiram-se os comentadores de várias extracções, que, sem se questionarem sobre a credibilidade das acusações, se apressaram a verberar uma imaginária ofensiva "laicista" e "jacobina" contra a Igreja Católica e contra os direitos dos doentes internados nos hospitais.»
E mais adiante: “Vem longe o dia em que a Igreja Católica renuncie a instrumentalizar o Estado ao seu serviço e a largar o lugar cativo à mesa do Orçamento”. (Esta passagem fez-me lembrar uma outra, de Oliveira Martins, acerca de outros condes, viscondes e monsenhores que também não desgrudavam da mesa do orçamento).

O artigo do Prof Vital Moreira analisa detalhadamente a controvérsia. E sem se esquecer de mencionar nomes. Desmonta as invenções propaladas e descreve a verdade do que está em preparação para regulamentar, finalmente, uma matéria que está com décadas de atraso nessa reforma.

Porque é um sinal dos tempos, porque é um texto paradigmático (além de lúcido, sereno e bem documentado) e porque merece ser lembrado, é por isso que o transcrevo no APOSTILA:
“AINDA OS CAPELÃES”.


quarta-feira, 10 de outubro de 2007

SILÊNCIO

À margem e em paralelo a uma sugestão.
Jogo em que não entro, no blogue que o lança, por não reunir condição importante. O blogue é o
PPP, a todos os títulos interessante e de muito rica criatividade.
É, de certo modo, um blogue quase gémeo do
BETTIPS. (Foi “pela mão” da Bet que fui, um dia, conhecer o PPP)
Blogues onde a imagem e a palavra (uma e outra sempre originais) se conjugam de forma impressiva e agradável.
Visito-os com muita frequência. E sempre com muito prazer e proveito. Daí que, obviamente, os recomende com entusiasmo.

Mas se ali (PPP) não posso jogar, por razões que respeito, nada me impede de o experimentar aqui.
O tema, esta semana, é o silêncio






Se nos fosse dado auscultar, lá longe, o Universo, creio que nos assustaríamos com o seu silêncio absoluto.
Como, se conseguíssemos, em especiais condições, observar a sua espectacular beleza, até a nossa respiração se suspenderia dando também azo ao mesmo – agora maravilhado – silêncio.










Silêncio tumular é a expressão que utilizamos para o que para nós é o silêncio paradigmático: total. Mas não absoluto.




Há muitos pontos no nosso planeta que estão super poluídos, em matéria de sonorização. O ruído faz parte do nosso dia a dia. Não o estranhamos. Estamos habituados a conviver com ele.
Estranhamos, sim, é a sua falta.

O homem, do que dispõe, para se exprimir e distinguir dos outros, é exactamente da quebra do silêncio. Fala. Em última instância grita.
O Homem grita quando nasce. E grita quando tem uma morte violenta.
O nascer e o morrer são, em princípio, acontecimentos dolorosos para o homem. E se ele, então, não grita, por certo que geme: outra forma de, quebrando o silêncio, se exprimir.

Mas também grita quando põe uma máscara de autoridade. E grita quando se rebaixa na sua condição.

Mas a forma mais comum de o homem se manifestar é falando.
É a falar que o homem expõe os seus pontos de vista, as suas razões. Falando o homem transmite o que se passa na sua cabeça, o que a sua inteligência produziu.

Quando o homem quer alinhavar ou alinhar os seus pensamentos, ou meditar nas suas consequências, recolhe-se. Opta pelo voluntário silêncio.



O eremita, ou o monge, impõe-se a si próprio uma vida de silêncio, para melhor poder “escutar” os “apelos da divindade” ou para mais facilmente “dialogar com ela”.

O silêncio voluntário, e sem pressões, apura o nosso sentir; apela à nossa interioridade.
Que significa o nosso fechar de olhos e o silêncio que o acompanha ao inspirarmos, com delicada suavidade, o odor de uma flor?
Uma vivência interior muito mais rica proporcionada pelo “perfume” dessa planta.

(Claro que silêncio humano é também o que resulta da solidão e do sofrimento. Que é muito pesado. Mas esse exige uma diferente abordagem)

Ao silêncio opõe-se a expressão do sentir do homem. Do seu pensamento. Que, entre várias formas, pode utilizar a palavra.
“Silenciar” o pensamento do homem ou perscrutar-lho, não está muito nas mãos dos seus semelhantes consegui-lo.
Mas esses tais semelhantes conseguem, com bastante facilidade, é calar o homem. Silenciá-lo.


E com cada vez maior frequência essas criaturas que se assemelham ao homem vão conseguindo, até, em muitos casos, silenciar-lhe o pensamento: mediante sevícias requintadas e torturas indescritíveis. A morte, até.
A tentativa de reduzir o homem ao silêncio é a experiência de o transformar em zero. De o anular.





Como o intuito de o obrigar a falar, para denunciar outras consciências livres, é outra forma de o diminuir, tentando vergar a sua verticalidade.
Com muitos, tais intentos não resultam. Esses podem ficar diminuídos, estropiados, quem sabe; podem até, em última instância, morrer. Mas os tais semelhantes (criaturas semelhantes ao homem – homúnculos, isso sim) não conseguem é a colaboração do homem nesses seus inconfessáveis propósitos.


O silêncio humano, esse só vale, portanto, desde que voluntário.
E pode atingir valores indescritíveis.
 

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