terça-feira, 2 de outubro de 2007

LAICISMO E LAICIDADE

Sabem qual é a diferença entre a imagem do cardeal patriarca de Lisboa entre os mais destacados convidados, na galeria respectiva, na Assembleia da República, na tomada de posse de Cavaco, ao lado de Mário Soares (donde talvez a sonolência do ex-presidente, tamanha que até saiu sem cumprimentar o novo presidente)... E um doente, numa clínica ou num hospital, na sua cama, rezando ou conversando com um ministro da sua religião?

O cardeal patriarca cumpria um protocolo do Estado, absolutamente desadequado à época que vivemos e ao Estado laico que é o nosso.
Isto é, o prelado era objecto de um privilegiado destaque que um estado não confessional se não deveria permitir.
Como cidadão inteligente, e especialmente conhecedor dos termos da Concordata, o patriarca até deve ter estranhado. (Mas claro que não seria de esperar, da sua parte, a recusa da benesse, em benefício da mesma inteligência e rigor!)

O doente internado exerce um direito fundamental universalmente reconhecido de, pela positiva, não ser discriminado em razão do seu credo.


Não é a primeira vez que, ultimamente, se vê referência ao assunto, confundindo (falta-nos saber se propositadamente) situações, num reconhecido “furor laico”. Mas o artigo de ontem, de Pedro Afonso, no Público, merece o meu apoio. E muitos lho terão confirmado, também. Estou bem certo disso.
Falava, e muito bem, aquele médico psiquiatra do “furor da laicidade”, invocando, exacta e explicitamente, a questão da assistência religiosa nos hospitais.
Na verdade, parece estar na mira do governo considerar atentatória da neutralidade religiosa do Estado, e da sua laicidade, a entrada dum ministro duma qualquer religião numa enfermaria a pedido de um doente.

É lastimável que seja o próprio Estado a querer impor, com a sua despropositada e doentia fobia laicista, uma desaconselhada confusão entre laicismo e laicidade. Seja, nas palavras do colunista, com as novas regras, que se sabe estarem a ser preparadas, “o laicismo – que se antagoniza à equilibrada laicidade do estado – acaba por ser escandalosamente promovido”.

Em suma: o caso do protocolo deve ser corrigido.
O caso do doente, é para ser respeitada a sua opção.

Sem excitações e sem confusão.

1 comentário:

JR disse...

Não podia estar mais de acordo.

JR

 

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