Boa sugestão. Daquelas que dão pano para mangas.
Se há expressão que não seja unívoca, esta é, seguramente, uma delas.
A propósito dela, a nossa imaginação pode vaguear desde o espaço etéreo, até múltiplas situações aqui, no planeta.
Tantas são elas que até a certos “fantasmas” e “espíritos” chamamos de sombras.
E não são, também, os guarda-costas sombras dos seus protegidos?
Uma sombra, que pode ter contornos mais ou menos definidos, é uma projecção. De algo ou alguém.
Estamos mais habituados a ver projecção de imagens físicas. As suas sombras, quero dizer.
A situação de sombra mais vulgar é aquela que é definida pela ausência ou pela diminuição de luz, num espaço, por interposição de um objecto entre ele e a fonte luminosa.
É a que nos alivia dos rigores dum Sol escaldante, por exemplo.
Mas há sombras tão manifestas como as dessas imagens físicas, que não têm suportes tão visíveis aos olhos comuns.
Um filho pode – e é quantas vezes – ser a sombra do pai. Um discípulo exemplar, sombra do seu mestre.
Até organizações, instituições, podem ser a sombra do espírito, do querer, do enorme poder de alguém. E, em frequentes casos, acabam por ser tão medonhas, elas... Como eles.
Por exemplo, sombra “agradável” mas profundamente iníqua, é a que é desencadeada pelo nepotismo, clientelismo e pelo culto de personalidade com o afastamento de critérios de competência e de rigor, que facilita situações de desigualdade, que fomenta a discricionariedade, que desenvolve puros favorecimentos. Que gera irresponsabilidades. Que garante imerecidos proventos.
E então é ver, por exemplo, (caso bem recente), o filho de um colunável banqueiro, desencadeando toda uma série de irregularidades, no banco de que o pai é figura máxima, infracções que a comuns mortais custariam um preço muito elevado e, a alguns, a própria sobrevivência, até.
Foi à sombra tranquilizante de um tal pai, que um tal filho pôde alardear a sua irresponsabilidade. E sem consequências.
E a enorme quantidade de criaturas que, a seu bel-prazer, punham e dispunham sobre o que podíamos ver, ouvir, escrever e falar durante o infindável consulado de Salazar, à sombra de quem actuavam com arreganho e despudor?
imagem retirada da página oficial do governo dos Açores
Certos saudosistas do passado tentaram fazer reviver esses tempos mesmo depois de Abril.
Mais não são, também, que sombras de espectros que ainda pairam por aí.
Tentaram e conseguiram: em 1992, o subsecretário da Cultura, Souza Lara, vetou a candidatura do romance "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", de José Saramago, ao Prémio Literário Europeu
E aqueles vermes que, exactamente por vermos, ouvirmos, falarmos e escrevermos sobre o que o regime proibia, metiam cidadãos dignos e livres nos calabouços para os torturar e obrigar a vergar a sua verticalidade – ainda e sempre à sombra do todo-poderoso ditador?
(De entre tantos escolho um exemplo:
o de Germano Vidigal, operário, assassinado com esmagamento dos testículos,
depois de três dias de tortura no posto da GNR de Montemor-o-Novo)
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E, na Idade Média, os assassínios que não foram cometidos, à sombra da igreja de Roma, e pela Sacrossanta Inquisição, por se não acatarem as suas “indiscutíveis verdades”?
E durante o nazismo os milhões de judeus e outros marginalizados que foram pasto das chamas dos fornos crematórios, à sombra do poder de um louco que pretendia um apuramento da raça e cuja loucura não podia conduzir a outro fim que não fosse o seu próprio suicídio?
E as tenebrosas acções que se têm sucedido no planeta à sombra do poder de outros seres abjectos que, em África e na Ásia, levam por diante genocídios e chacinas perante um mundo estarrecido que não pára de protestar?
Execráveis, estas sombras.
Que o mundo civilizado e sensato tem de conseguir eliminar.
Até quando?
E as tenebrosas acções que se têm sucedido no planeta à sombra do poder de outros seres abjectos que, em África e na Ásia, levam por diante genocídios e chacinas perante um mundo estarrecido que não pára de protestar?
Execráveis, estas sombras.
Que o mundo civilizado e sensato tem de conseguir eliminar.
Até quando?
1 comentário:
Sem palavras...
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