sexta-feira, 31 de agosto de 2007

NÃO HÁ MORTOS. MAS HÁ MUITO “SANGUE”

o "perigo" espreita de todos os lados...

Conforme noticiava o DD esta tarde, a edição online do Expresso avançava, esta manhã, que “Teixeira Pinto considera que já não tem condições para liderar a instituição financeira” que dirigia desde recentemente, o BCP.

Eles não brincam aos chefes.
Mesmo pertencendo à mesma pia congregação, travam, entre si, uma luta de morte pelo poder, pelo domínio de qualquer instituição.


imagem de Paulo Pimenta
o "braço protector" não é força de expressão

A “secreta” que os acolhe, não os une. Essa nunca foi a sua função.
O poder sempre foi a mola real que os impulsionou, aos que atingiram lugares de topo nos diversos patamares das diferentes hierarquias. A competição é a regra, por mais que se queira debitar o contrário em piedosas declarações.

Até nas instituições civis. E de âmbito bem temporal.

São demais, e seculares, os exemplos do que se afirma.

E se foram mais chocantes, e excessivos, na Idade Média, nem por isso hoje são menos frequentes ou mais humanizados.

O que são, por vezes - que não é agora o caso – é mais discretos.

A Igreja sempre pretendeu passar uma imagem e uma mensagem de humildade e de serviço do Homem. Mas nunca foi capaz de a praticar.
Certos fiéis, na base da sua estrutura, talvez o tenham, por vezes, conseguido.
Mais por efeito de um espírito de rectidão, de solidariedade e de universal moralidade.
As hierarquias, no entanto, essas nunca. Ou muito raríssimamente.

Basta estar atento para o confirmar.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O PAÍS EM QUE SÓ HÁ CHEFES

Aconteceu-me hoje, de novo.
É tão frequente que é impossível que haja alguém que nunca se tenha apercebido de tão importante peculiaridade: em Portugal não há empregados. Empregados do patamar mais baixo da respectiva escala de trabalho, quero dizer.
Daqueles cuja missão, tão nobre como as mais, mas menos sonante, é desempenhar uma tarefa sob as ordens de outrem.

No café, nos passos perdidos das grandes superfícies, na rua, no minimercado, na paragem do transporte, na tabacaria ou no dito transporte, as conversas que transbordam de duas ou três pessoas para o domínio mais alargado dos circundantes, indiferentes, distantes e alheios, são o pão nosso de cada dia.
Ao falar-se da ocupação do filho, do cunhado, do neto, do enteado, do sobrinho ou dum amigo, é infalível que se trata de alguém que “manda lá”, de quem “dirige aquilo” (referindo-se à entidade que lhe paga o salário).
“Sim, sim, ele é lá chefe”... “É ele que manda lá naquilo” – ouve-se, infalivelmente.

Não tenho a certeza, mas poderia apostar que nunca ouvi a nenhum desses que nos impõem as suas gratuitas, dispensáveis e sonoras opiniões, que nos devassam as sua vidas e (pior) a dos outros, dizer que “ele é, lá...”, um modesto empregado, a trabalhar sob a orientação de outra pessoa.

Tal e qual: um português, na boca de certo mundo, é sempre um chefe!
É, invariavelmente, um vencedor!
É, por norma, um campeão nato!

Bom, que na boca do próprio, acima dele, mais poderoso e melhor que ele, só mesmo os deuses do Olimpo e um ou outro raro e lendário herói...

E nós – que os conhecemos, a alguns - estamos fartos de o constatar...
Não é mesmo?

Bem verdade que, presunção e água benta...
Isso...

Os séculos, os desaires e os insucessos, a certos não lhes trazem qualquer emenda.

Passam a vida a fazer de conta...

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O MUNDO EM PROCESSO DE AUTOLIQUIDAÇÃO






Este Verão tem sido catastrófico para a Grécia, em termos de incêndios.
Com vítimas e prejuízos muito para além do que é habitual entre nós.

Tudo se passa com a agravante de a Grécia ser governada por um elenco ainda mais insolente do que o que dirige o nosso país.
Quando um membro do governo grego, dessa área de competência (?), perante a calamidade que assola o seu país, tem o arrojo de afirmar «continuamos com um problema. A situação é boa mas a batalha continua» é bem caso para, como Nuno Pacheco, nos interrogarmos: «problema de tradução? De legendagem? De pensamento? Como é possível chamar “boa” a uma situação de quase catástrofe? E reduzir a “um problema” tamanha calamidade?»

Seria de topete, não fora tão grave e de tão lastimável irresponsabilidade, a consideração.



Se, como diz ainda o mesmo jornalista, «os abutres do ganho fácil podem, neste desvario incendiário, acabar de vez com o seu próprio sustento», por outro, estes arremedos de “democratas” podem, com a sua insuportável empáfia, acabar com a democracia e serem, com ela, sepultados.

Os abutres – agora os da política – não perdoam a quem tenha servido a democracia. Mesmo que como mero pretexto, como muitos dos governantes têm, inconscientemente, feito!

O mundo avança, aceleradamente, para a sua autodestruição, material e moralmente.

Até quando?


terça-feira, 28 de agosto de 2007

«A CORRUPÇÃO ACTIVA DA LÍNGUA PORTUGUESA»

Da perda de valores só não falam os que a perderam...
A pressa de atingir altos patamares em matéria de ter, faz toldar, completamente, os do ser.
A materialidade de objectivos, de gostos e de móbeis, deixa no vazio, abandona à absoluta carência, o lado mais nobre de cada um de nós.

Para além da perda de muitos valores, as próprias palavras deixaram de corresponder a um “peso” que tinham, deixaram de equivaler a uma dimensão muito considerável e respeitada que era a sua.

Ou seja, deixaram de ter qualquer valor, tornaram-se imponderáveis, reduziram-se à maior insignificância. E inutilidade.

Na sua crónica de hoje, no Público, e a propósito de um recente caso concreto, Rui Tavares faz-nos convolar para uma matéria muito séria: «a corrupção activa da língua portuguesa». E adianta que, acerca de tal corrupção, o inquietante alarme, «o primeiro sinal é sempre o aparecimento da "honorabilidade". Esta magnífica palavra, tão do gosto de políticos medíocres e dirigentes de clubes de futebol, ocorre sempre em ocasiões embaraçosas.»
Nem mais.
Observação muito perspicaz.
No mesmo tom, de felina argúcia, de impiedosa mordacidade, Rui Tavares prossegue: «a honorabilidade tem pouco a ver com a honra, de que é uma prima afastada. A honorabilidade é antes uma espécie de verniz que reclama para si um tratamento respeitoso ou "honorável".»
E depois de ter recordado que, antes de mais, «a honra é uma obrigação para o próprio», o jovem historiador insiste numa pertinente sagacidade que atinge, logo de seguida, o seu vértice ao lembrar, com hilariante causticidade: «a honorabilidade é um penacho a ser respeitado pelos outros. Quando alguém clama pela sua "honorabilidade", não quer dizer que seja obrigatoriamente honrado; quer dizer que está convencido de que nós temos a obrigação de o tratar como se fosse.»
Os exemplos repetem-se. São de todos os dias.
Os referidos e outros bem próximos.

Fala-se seriamente de algo, mas é inevitável, na exposição de alguns, a expressão “muito sinceramente”...
Se é hábito a pessoa que discursa ser franca, sincera, verdadeira, transparente, qual a necessidade de fazer tal afirmação?
Ou trata-se de uma excepção?
Se é excepção... Parece bem pouco abonatória.
Se não é excepção, a redundância faz desconfiar que o seja. E muitas vezes acertadamente.

Ou então, e ainda no discurso vulgar, é também frequente a utilização da “palavra d’honra”...
E igualmente aí nos devemos questionar: só mediante tal introdução se deve aquilatar da seriedade de quem dessa forma se exprime?
Se não... Para quê suscitar a dúvida?

Corriqueira e muito popularucha é ainda a garantia: “seja ceguinho”...

Tudo, segundo creio, manifestações de algo pouco abonatório e aceitável...

Rui Tavares, ignorou estes casos banalíssimos. E bem. Para ponderar sobre mais importantes manifestações. A outro nível.
E, curioso, é que ele, embora não reflectindo sob o peso e a experiência de uma provecta idade, está cheio de razão. Não que ela (provecta idade) a muitos traga grande proveito e virtude... (Que sempre acabará por trazer a alguns. Não a todos, claro.)
Mas o jovem autor já reuniu grande parte desse capital, antecipadamente.
Basta-lhe ser ponderado, como é.

«A corrupção activa da língua portuguesa» continua a ser uma realidade cada vez mais “palpável”.

Até quando?




segunda-feira, 27 de agosto de 2007

REMEDIADOS AQUI, POBRES ACOLÁ







Não falo do que não conheço. Não avento hipóteses incríveis. Nem imagino coisas inverosímeis... Não “pinto a manta”... Não invento histórias...
(Tudo – por exemplo – para denegrir o governo. Para o pôr em causa.)
Nada disso.

Um amigo meu mandou-me, hoje, por mail (informação que corre por aí), uma relação dos salários mínimos e médios em 14 países da União Europeia.
Segundo essa estatística, o limiar da pobreza nesse universo em análise vai dos 1 928 euros, no Luxemburgo, aos 387 euros de Portugal.
Por sua vez, o salário médio situa-se entre os 3 213 euros no Luxemburgo e os 645 euros em Portugal.

Ora, de acordo com os critérios da União Europeia, é considerado pobre aquele que ganha 60% do salário médio do seu país.
Portanto, em Portugal, muitos dos quadros superiores das nossas empresas, reformados na década de 90, não são pobres.
Mas, o europeu que existe em cada um deles, se estimar o seu rendimento de trabalho (a sua pensão de reforma) pela bitola de outros países, é pobre, sim, nessa avaliação.
São pobres para os luxemburgueses (cujo limiar da pobreza é dos aludidos 1 928 euros), assim como para os dinamarqueses (lp: 1 828 euros), e por aí fora. Alguns deles para uma boa meia dúzia dos tais países da União.

Já agora, é difícil definir se, nesses idos de 90, um reformado o era ou não compulsivamente. Sob coacção.
Em bom rigor, talvez não devesse ser como tal considerado, mas o cenário que os “teimosos” enfrentavam não era nada encorajador a fazer frente a semelhante intuito dos gestores das empresas.

O problema que na altura se punha, perante a lei (cavaquista) de então (apressada e zelosamente acolhida por todo o patronato) – fosse qual fosse a qualidade ou o gabarito do visado – era o de se ter “cometido o crime” de ter feito 55 anos de idade!
(Não faço blague. Falo muito a sério.)

Mas mais: tal acontecia, na generalidade dos casos, com penalização. Ou seja, a generalidade dos “criminosos” (que se tinham permitido a ousadia de nascer nos finais dos anos 30 do século passado), não eram reformados com vencimento médio dos 10 melhores dos últimos 15 anos de salários. Não: eram com menos 10 ou 15 % do valor encontrado.

Ponto muito importante a esclarecer: tudo isto se referia a matéria aplicável, apenas, no sector privado.
Tomaram bem nota?
Ou seja: falo de reforma. Não falo numa coisa bem diferente e bem menos dolorosa: aposentação.

(Como não falo nas aposentações dos deputados, dos políticos em geral, de certos funcionários em particular... Aí, sim, era difícil conter comentários bem “hilariantes”...)

A tabela que me foi enviada é, pois, a seguinte:


país limiar da pobreza salário médio
LUXEMBURGO 1 928€ (386 529$) 3 213€ (644 149$)
DINAMARCA 1 828€ (366 481$) 3 043€ (610 067$)
REINO UNIDO 1 634€ (327 588$) 2 723€ (545 912$)
ALEMANHA 1 604€ (321 573$) 2 674€ (536 089$)
BÉLGICA 1 506€ (301 926$) 2 510€ (503 210$)
FRANÇA 1 276€ (255 815$) 2 127€ (426 425$)
SUÉCIA 1 252€ (251 003$) 2 086€ (418 205$)
FINLÂNDIA 1 204€ (241 380$) 2 006€ (402 167$)
ÁUSTRIA 1 143€ (229 151$) 1 905€ (381 918$)
HOLANDA 1 031€ (206 697$) 1 719€ (344 629$)
IRLANDA 982€ (196 873$) 1 637€ (328 189$)
ESPANHA 725€ (145 349$) 1 208€ (242 182$)
GRÉCIA 700€ (140 337$) 1 167€ (233 962$)
PORTUGAL 387€ (77 587$) 645€ (129 311$)


Os políticos gostam muito da imagem e costumam falar de uma Europa a várias velocidades. Digamos que Portugal integra uma Europa que anda de marcha-atrás...

Até quando?


domingo, 26 de agosto de 2007

DO CAPITALISMO SELVAGEM ÀS TELECRACIAS ANTIDEMOCRÁTICAS




Falava, antes d’ontem, do capital.
Como fonte de grandes males e desequilíbrios para a humanidade quando não controlado, eficazmente, por um poder político independente e verdadeiramente ao serviço da causa pública.
Falava numa perspectiva realista, conquanto pudesse, a alguém, parecer a dos grupelhos de extrema-esquerda dos anos em brasa de 70.

Aludia, afinal, à mesma vertente que é hoje abordada por Mário Soares na sua quadrúplica a JMF, no pingue-pongue que com ele tem mantido acerca da evolução das “democracias”.

Recorda aí, o velho político, a bem pouco virtuosa e nada recomendável democracia liberal, na actual versão americana que o respectivo regime (maxime o partido republicano) não só pratica internamente como pretende impor a povos de outras latitudes e longitudes, doutras culturas e tradições.
Democracia que espezinha os Direitos Humanos (é “ensurdecedor” o “eco” de Guantánamo e de Abu Ghraib), que se verga ao poder económico, que compra partidos ou sensibilidades dentro deles, e determina escolhas eleitorais ao sabor dos seus venais critérios. São, afinal, as plutocracias que, rápido, resvalam para as telecracias (Céus! Que vias! Que processos!) antidemocráticas (tudo, segundo as calculadas previsões de Bernard Stiegler, o homem que na prisão se converte em filósofo).

E isto, insiste o ex-presidente, «para já não falar do descrédito ético - o pior de tudo, para o Ocidente - quanto aos valores e aos princípios proclamados, e na prática não cumpridos, em que tanto o capitalismo, na sua actual fase especulativa-financeira, como a democracia dita liberal, têm vindo a incorrer, nos últimos anos.»

Tenho pena é de não ver em Mário Soares um exemplo vivo e actuante – sempre - de político não impressionável por certos cálculos para garantir e “segurar” a democracia!

Uma coisa é camuflar uma situação com arrogante altivez (passe a enfática redundância), outra, a certeza dum rumo e o denodo em prossegui-lo.

Os jogos de poder não passam, essencialmente, disso mesmo: artifícios para o perpetuar. Nem sempre em benefício daqueles em nome de quem se jurou, na praça pública, fazê-lo.

A História regista os factos. A memória perdura. Não perdoa.


sábado, 25 de agosto de 2007

UM ADEUS SINGELO

foto de Sérgio Granadeiro
(EXPRESSO online de 25AGO07)





Claro que hoje o tema é, naturalmente, um: EPC

Foi a primeira coisa que ouvi em casa (já o Sol ia alto) depois dos bons-dias: morreu o Eduardo Prado Coelho.

A Lusa deixava, cerca das 10:44:50 de hoje, a notícia nas redacções dos media: Morreu o escritor Eduardo Prado Coelho.

E às 11:30 José Manuel Fernandes informava no Público online, o passamento desse colaborador, desde a primeira hora, do periódico de que é director.


Não é verdade que todo o mundo, depois de morto, seja bom e merecedor das nossas homenagens e admiração. Outros (e alguns dos mesmos), de saudade.
Não é verdade.

[Assim, nem depois de morto, “o outro” mereceria a minha admiração. Nem a saudade de “ninguém” (aqui inclusa a massa anónima dos cidadãos deste país). Muito menos ser considerado um português exemplar... Quanto mais o maior de todos eles, em todos os tempos.
Exageros de visionários. Que merecem tanto ser considerados como os mais fanáticos que o são].


Prado Coelho, porém, era merecedor de tal admiração e de tal preito.

Toda a bela tem senão. (Por isso mesmo é bela.)
Daí que, e por vezes, não estivéssemos, alguns, por um momento, pelo lapso de uma crónica, por exemplo, com EPC?
Nada mais natural.

Em recente “post” meu, neste espaço, intitulado «Quase “Requiem”», de 07JUN último, falava de Prado Coelho discordando, um tanto, dele. E comentava, aí, um amigo meu (RL):
«EPC faz-me lembrar sempre um "naco" saboroso que, há uns anos foi publicado pelo pai Jacinto.O filho Eduardo começava a dar os primeiros passos como crítico.Então o pai Jacinto, escreveu que o crítico EPC já tinha idade para levar umas bengaladas que, infelizmente, não lhe tinham sido dadas quando era pequenino...EPC não deve esquecer, felizmente, as palavras introdutórias de Camus, ao MITO DE SÍSIFO: ...responder a se a vida merece, ou não, ser vivida é responder a uma questão fundamental da filosofia".»
Premonitório, RL, no final desse seu comentário? Como, de certo modo, premonitório o título do meu “post”.
Até parece.

Mas ali, no tal comentário, importante era a recordação da fortuita e pontual discordância paterna, relativamente ao “jovem” crítico e ensaísta.

Também, num mail, hoje, me dizia outro amigo: «... Lá ficámos sem o professor. Ultimamente, terá perdido a frescura analítica e a graciosidade literária de outros tempos, mas fará sempre falta. (...) C'est la vie»

«Verdade que sim, que é uma perda – respondia eu.
Curiosamente, aqui, nas Areias, onde estou, até o tempo se associou: o Verão interrompeu a sua intermitência de calores para chorar de mansinho (uma chuva miudinha, um dia cinzento, para o escuro).
Diz bem, JR, até porque lembrando Paris: "c'est la vie"...»

É mesmo a vida.
Se eu, com mais seis anos e escassos dias que ele, por cá continuo, ele mais que eu o mereceria, porque mais lhe deve e mais dele precisa a cultura do nosso país.
(Claro que quando afirmo “mais” lhe deve e “mais” dele precisa... Estou a ser presunçoso, pois que a mim, o país, nessa matéria, nada me deve. Foi tão só uma força de expressão.)

O escritor e ensaísta, que fizera, em 29 de Março, 63 anos, fora professor, até há pouco, no Departamento de Ciências da Comunicação, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa.

Além de que desempenhou vários cargos oficiais de relevo: como, por exemplo, e entre vários outros, professor no Departamento de Estudos Ibéricos da Universidade de Sorbonne - Paris III, e, pela mesma altura, conselheiro-cultural na Embaixada de Portugal em Paris.

A sua coluna quase diária (cinco dias por semana) no Público, intitulada genericamente, O Fio do Horizonte, era de leitura “obrigatória” para a generalidade dos leitores do diário.

Ainda ontem, nessa coluna, sob o título específico Comício de Verão, zurzia, e bem, em AJJ.
E anteontem, parecendo adivinhar não chegar lá, antecipava-se à comemoração do centenário do grande arquitecto brasileiro, Óscar Niemeyer, que passará em Dezembro próximo. O título dessa sua penúltima crónica era, exactamente, Niemeyer. E fazendo referência à ainda espantosa capacidade de resposta do arquitecto, recordava palavras suas que é difícil esquecer: “não é o ângulo recto que me atrai, nem a linha recta, dura e inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo...”

Importante nota biobibliográfica do autor, ora desaparecido, pode ver-se no
EXPRESSO online, de hoje.
E o testemunho, com palavras de circunstância ou com um verdadeiro apreço e saudade, podiam ler-se, também, a meio da tarde de hoje, no
DIÁRIO DIGITAL.

Singela, mas sentida homenagem, a minha.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O CAPITAL

Mugabe, um testemunho


O capital não é nenhum modelo de virtudes.
Além de que é cego, surdo e mudo.
Actua por puro instinto.

As hienas alimentam-se de carne podre. O grande capital dos destroços de vestígios de humanidade.
Tanto lhe faz ser veiculado por um aborígene do Zimbabwe, como por um indígena da lusa pátria.

O capital não se move pelos lindos olhos de ninguém.
Primeiro, porque, sendo cego, não os vê. Segundo, porque a filantropia não quadra com os seus objectivos. Terceiro, porque “essa mercadoria” não se hipoteca nem se penhora.

Além de que o capital não escuta argumentos de humanização... Pois se ele é surdo!...

Como, igualmente, não se pronuncia sobre a crua teia dos seus interesses... Pois se, também, mudo é!...

Os intentos do grande, e apátrida, capital, tanto podem ser conseguidos por uma somague como por um mugabe.
Tanto faz.

Quanto mais débil uma economia, maior o atraso de uma população, mais carente uma comunidade – mais fértil o seu terreno.

O capital exige que os regimes valorizem cada vez mais – cada vez mais exclusivamente - a perspectiva económica da política?
Para tanto é necessário aumentar o desemprego, fazer diminuir a segurança, manter o desequilíbrio e aumentar o fosso entre os muito ricos e os pobres?
Pois que assim seja.
É que é preciso não esquecer: quem assegura o futuro de tais políticos é o capital.

O capital quebra facilmente a espinha de alguns vertebrados?
É fácil a solução... Tornam-se invertebrados. (As alforrecas não correm perigo.)

Até quando?

(O editorial de Nuno Pacheco e a coluna de Vasco Pulido Valente, de hoje, davam bem que pensar...)

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

OS RICOS


O assunto tem sido abordado com alguma frequência: os ricos.
Miguel Sousa Tavares, na sua coluna semanal do expresso, neste último Sábado, voltou a ele.

Já não causa aquela provinciana “comichão”, a ninguém, que os ricos o sejam porque souberam licitamente amealhar o seu pecúlio, aumentar o seu património, por denodado esforço e, quem sabe, com um golpe de audácia ou, talvez, de alguma sorte...

São ricos, eles, mas produzem riqueza para o país.
Tudo bem e tudo normal, quando assim apreciado singelamente.


O que causa indignação ao mundo dos pobres, não é que existam os ricos. Mas será - se ela existir, e enquanto exista - a diferença de oportunidades que a sociedade (organizada: o Estado) faculta a uns e outros. Na justiça, no equilíbrio e na igualdade de oportunidades que oferece, ou nega, à colectividade dos seus cidadãos.

E a ideia tantas vezes repetida pelos analistas, e agora reiterada por MST, é a de que, desde sempre, a tendência dominante da nossa sociedade tem sido a de abandonar à sua sorte os que não têm recursos, ou os não têm em condições de proporcionar um mínimo de dignidade à sua (precária ou difícil) existência, enquanto que os que os têm para lá do necessário para uma vida desafogada, os ricos, estão, por norma, beneficiando da sombra protectora e incentivadora do Estado.
Ou, nas palavras (pesadas) do jornalista-escritor, “tivemos sempre – desde o tempo das Descobertas, passando pelo liberalismo, pela República e pelo Estado Novo – uma sociedade que colocou os pobres por conta da caridade e os ricos por conta do privilégio.”

Para que grande parte da população consiga sair do estado de pobreza, não se vislumbra vontade política nem acção nesse sentido, por parte do poder instituído.
Mas para que os ricos possam cada vez mais ver aumentar o seu potencial, aí sim, é bem patente a intervenção do Estado: multiplicam-se os respectivos benefícios e privilégios, tal como as condições que garantem esse progresso. E isto para além do que é justo e razoável, à margem de um equilíbrio que é o que deve pautar o poder público na consecução da felicidade e do bem-estar da colectividade que ele jurou prosseguir e garantir.

E MST, recordando, de novo, dados recentemente referidos pelos analistas, continua: impressiona que as fortunas acumuladas dos 100 mais ricos de Portugal represente 22% do total da riqueza do país e, pior, que o fosse entre uma e outra dessas categorias de cidadãos seja o maior da actual Europa comunitária. E acrescenta: “faz impressão pensar que, enquanto os trabalhadores por conta de outrem e a generalidade da classe média e média-baixa viu os seus rendimentos subir entre zero e três por cento no ano passado, os cem mais ricos aumentaram a sua riqueza em 36%.” E fizeram-no essencialmente através da especulação bolsista, não pelo desempenho das suas empresas, não pela criação de riqueza para o país.
Por fim, também ele - como outros, ultimamente - conclui quão grande é “a dimensão da injustiça social e fiscal” no nosso país, o que ressalta à chocante evidência se atentarmos em “quanto pagaram de impostos sobre os lucros as empresas ou fundações onde se abrigam os cem mais, para compararmos com os que, vivendo apenas do seu trabalho, pagam 42% de IRS”!...

Mais palavras?

Uma coisa é esse pobre e triste e mesquinho sentimento de inveja que eventualmente possa dominar alguns espíritos, outra a pungente e gritante injustiça que a realidade revela.



quarta-feira, 22 de agosto de 2007

SARKOZY

Sarkozy, visto por kaos (WE HAVE KAOS IN THE GARDEN)
O presidente francês Nicolas Sarkozy?
Não é nome que me provoque grande entusiasmo. Bem ao contrário, a sua eleição significou, para mim, mais um dos momentos, a somar a tantos, em que em França, de há mais de dois séculos para cá, pelo menos, se atinge o clímax do bluff.

Quanto ao resto, desde que deixei de me impressionar com, e de arrastar para, certos preconceitos... Ou seja, e por exemplo, desde que deixei de ver nos ciganos uma raça antipática, de duvidosa seriedade e de ausência de escrúpulos, que, de negativo, hoje, a sua figura não me inculca ânimo nenhum negativo de especial.

É um, como tantos, “cristãos conversos”.

Um jogador como outros.

(Pouco, em meu entender. Zero, para ser mais explícito).


terça-feira, 21 de agosto de 2007

A SANHA DE VASCO GRAÇA MOURA

VGM retratado por kaos (WE HAVE KAOS IN THE GARDEN)

Os jornais enchem hoje as suas páginas com a história do acto de vandalismo praticado, no passado Domingo, no Algarve, destruindo um hectare de milho transgénico.

Não há grandes certezas sobre quem, exactamente, desencadeou tão reprovável acção.
Nuno Pacheco (em editorial do Público) fala de “algumas fotografias [que] mostram uma parada folclórica e multicor, óculos escuros, chapéus ou lenços enrolados nas cabeças, tambores em uso. Outras um grupo menos colorido e de ar ameaçador, caras semitapadas e um ou outro punho erguido”.

Tudo muito vago quanto aos autores do criminoso acto.
Tudo muito vago para um observador sensato e equilibrado. Não para um assanhado liberalóide de fancaria, como é Vasco Graça Moura (em artigo de opinião no mesmo diário).
Para um descabelado reaccionário, como VGM, uma (mesmo que desajustada) designação chega para fazer condenar ao degredo e à máxima pena os que se acoitam sob tal bandeira, ainda que abusiva ou oportunistamente.

VGM é do tempo, como eu, em que a PIDE e a direita trauliteira desencadeavam acções comprometedoras (assaltos, furtos e outros crimes e desacatos) com o aparente selo da esquerda para, precisamente, conseguirem que a generalidade dos inocentes e desprevenidos cidadãos condenassem tais “acções comunistas” que eles forjavam e encenavam.

VGM está sempre pronto a morder em tudo quanto lhe cheire a esquerda ou a democrata. Mas sabe, tão bem quanto todos sabemos, que a “esquerda” contra a qual ele investe é aquela que, daqui a nada, vem engrossar “o pelotão de desertores da extrema-esquerda que hoje engorda as engravatadas fileiras do liberalismo”. Que com ele emparceiram e fazem coro.

... A caravana prossegue sempre o seu caminho.


EM TEMPO: tinha já o texto acima concluído quando soube da intervenção de Miguel Portas sobre esta matéria, no DN do passado Domingo.
Pasmei. Não queria acreditar que MP fosse capaz de dar força e substância a um VGM.
Por inacreditável que parecesse, era verdade.

Só pode tratar-se de um lapso. (O de Miguel Portas, claro).

Lapso, é pouco. É suave: grave e grosseiro erro, direi antes. Tremenda calinada – em termos mais universalmente entendíveis e expressivos.

É evidente que o Bloco irá esclarecer este assunto. Para não desmerecer o capital de respeito que vem conseguindo.

Pela minha parte – com a enorme vantagem do descomprometimento em relação a qualquer partido, associação ou movimento político – lastimo o sucedido. E mantenho o maior repúdio pela sanha descontrolada e absurda do sr Graça Moura que mete no mesmo saco uma “esquerdalhice” irresponsável folclórica e inconsequente e uma esquerda sensata, responsável e a todos os títulos respeitável.
Como lastimo que certas figuras se deixem arrastar para o lodo onde se encontram todos os graças mouras e para onde estes os querem atrair.

Repito: não obstante, a caravana prossegue.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

“FUTURO PRÓSPERO”

Luís Afonso/Espaço público/Preto, branco... e também cinzento/Público

"FUTURO PRÓSPERO", é a passagem. "Reservado o direito de admissão", garante um guarda, perante a perplexidade de alguém que pretende passar e entrar...



Eu só teria trocado o título, a referência da passagem, por FUTURO DIGNO.

É disso que gosto nos cartoonistas: nós, os não dotados na arte do risco, podemos ter brilhantes ideias, mas a respectiva descrição, por mais pormenorizada e rica, perde sempre no confronto com a realidade que se quer mostrar. Até porque há pormenores que escapam.
Palavras, palavras, palavras e mais palavras.

Com o cartoonista tudo é mais transparente e fácil: uma palavra ou duas chegam. Depois há os “bonecos”. E a riqueza das suas expressões.
Mas isso é arte. É um dom da natureza. Não é nada que se compre ou se conquiste.

Repare-se que a rubrica Preto, branco... e também cinzento de Luís Afonso, se inscreve no Espaço público, em âmbito de opinião, do jornal Público, todas as semanas.
E aí temos, todos os domingos, um pequeno tratado, uma crítica bem acutilante e mordaz acerca de qualquer tema da actualidade, em duas ou três palavras e três ou quatro traços. Como só alguns eleitos são capazes de fazer. E o LA sabe... e de que maneira...

E o de ontem, já repararam?
Magnífico, não é?

(Notaram, também, é óbvio, como eu me alonguei para dizer tão pouco.
Ah! Tivera eu uma mão segura para um traço certo!...)

domingo, 19 de agosto de 2007

EM ROMA, SÊ ROMANO

Não é um mau princípio, o velho ditado.
É a melhor forma de passarmos incógnitos e ignorados, em qualquer parte. Despercebidos, como a todos (?) nos convém.

Imagine-se assistirmos a um ofício religioso (missa ou outra cerimónia) na igreja de S. João de Deus, em Lisboa, ou na igreja da Lapa, no Porto, por exemplo, e vermos, entre a assistência, uma moça envolvida num pareo... Já nem falo, claro, dos mais ousados: não é preciso que a roupagem encubra um corpo muito escultural para todos os olhos nele se “espetarem”...
Vem isto a propósito de algo não tão radical, mas, de todo o modo, objecto da geral curiosidade, alvo de distraídos mas não ignorados olhares: numa zona balnear e de veraneio, entre centenas de pessoas de jeans, calções, t-shirts, levis e outras marcas, pareos, shorts e outras ligeiras e por vezes mais bem reduzidas indumentárias, um cavalheiro, bem entradote em idade, de porte garboso e acentuada lordose, impecável no seu fato completo, sobrantes farripas, contornando a cabeça, bem empastadas, gravata e respectivo alfinete, sapato de bom calfe, engraxado a preceito, passeava-se calmamente, observando tudo à sua volta (mas sem se aperceber que era alvo de todos os olhares – de tal maneira destoava)...
Era, na verdade, uma ave rara, aquele senhor deambulando hoje pela zona do Magoito e do Arneiro de Marinheiros. Notava-se que se sentia seguro de si. Felizmente.
Nós, os outros que o observávamos, só queríamos isso mesmo: que ele se sentisse bem. E que estivesse à vontade... Mais à vontade, até, para sua maior comodidade.

Há alturas em que, impondo-se a floresta, é difícil ver a árvore.
Não era, hoje, o caso, decididamente.

sábado, 18 de agosto de 2007

“BLOGUES, O NOSSO PIO”


A sociedade é a arena da luta de interesses económicos, corporativos e de classe.

O blogger é o observador (talvez crítico ou o analista, se assim entenderem) que não encontra no seu caminho, nas suas abordagens do fenómeno social, quaisquer peias daquelas ordens. Apenas se rege pelo seu senso e pela sua verticalidade.

Sendo necessário e urgente e bastante – portanto – que seja sensato e íntegro.

E é tudo.

Depois... se tiver “engenho e arte”... Se souber moldar o conceito, utilizar o verbo, adequar a forma... Tanto melhor.

Não convirá, pois, que o blogger se comprometa com grupos, classes ou interesses daqueles que são patrocinados pelos mais instantes e dominadores poderes económicos de cada momento – por via, naturalmente, do poder político que, à sua sombra, se instalou e trava o seu combate.

Aí residirá a maior e mais importante diferença relativamente aos media tradicionais. E aí, ainda, o cunho que torna o blog como um espaço muito mais apetecível.

Assim, não será estranho que muitos bloggers não vejam com bons olhos – como eu não vejo -, a hipótese que certos dos seus pares (americanos e não só) se colocam de se constituírem em sindicatos ou outras associações corporativas. (V/ suplemento Digital, do Público, de hoje, pág 3).

Seria o primeiro passo para a subversão da candura e isenção de espírito do blogger, no entender de muitos.

Seria uma perda incontornável.

Nem sempre será um bem precioso. Mas, entre os meios de comunicação, o blog será sempre único.


Daí a imagem e respectiva legenda que trouxe para este post.

Achei a ideia soberba e por isso a transpus.
Não faço a mais pequena ideia de onde a colhi.

Da net, sem dúvida.
Mas por mais voltas que dê não sou capaz de reencontrar a referência ao autor.

Espero que ele, com a costumada benevolência dos bloggers, me releve a falta.

Mas a homenagem, essa, aqui fica.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

“OPUS DIABOLI”?




Terá caído como uma bomba, para alguns: Paulo Teixeira Pinto “apeou-se” da Opus Dei.

Significará que temos o sr mais solto, mais livre?

E as indulgências?
E os castigos divinos?

Bom, se a “Prelatura da Santa Cruz e Opus Dei ou simplesmente Opus Dei” “procura difundir a chamada universal à santidade e o valor santificador do trabalho quotidiano”, e o actual líder do BCP tomou aquela decisão, é porque deixou de atender aos apelos à santidade e deixou de considerar tão etéreo o valor do trabalho de cada dia.

Daí que, necessariamente, se trate de um “opus diaboli”?

Talvez não.

Os positivistas concluem, tão apenas: o homem desceu das nuvens.

A bombástica (?) notícia não me move a mínima curiosidade.
Move-me tanta como se o Fernando Santos deixasse de usar a medalhinha “miraculosa”, como se a D. Simpliciana deixasse de acorrer à Santinha da Ladeira, como se a Florbela Queirós tivesse deixado “as cartas” e tivesse voltado ao teatro, como se “seu” Antônio Birijá tivesse desistido da macumba.

Incoerente, eu?
De forma nenhuma: é que não estou a revelar espanto com a notícia...
Estranho – ah, isso sim - é o espanto que o “espanto” causou.



LOUÇÃ, O CARRASCO

foto Tiago Melo



Há pouco, Vasco Pulido Valente dedicou uma das suas habituais crónicas no Público ao BE, em geral, e ao seu líder coordenador, em particular.
Excedia-se, manifestamente, em considerações em torno da postura e da maneira de se exprimir do dirigente bloquista e deleitava-se, venenosamente, na eventual perspectiva de um confortável e tranquilo futuro dos seus companheiros nas alas do PS, chegada uma idade mais veneranda e mais provecta.

Claro que dispararam as entrevistas a Francisco Louçã, que acorreu a todos os pedidos de comentário ou de resposta aos “excessos” de PV.
Desta vez foi Pedro Correia a entrevistá-lo para o DN, ontem.

Numa outra declaração sobre a matéria, Louçã mostrara-se um pouco agastado. Não desta vez, considerando, com evidente bonomia, que VPV não é mais que um “burguês enfastiado” que imagina ter deixado a trás de si, quando deixou a política, o caos.

(Ao contrário, quem hoje se mostrou muito afobado com o desenrolar deste acontecimento, foi o próprio VPV, na sua habitual coluna do Público. Mas, revelando inconsciência de tal facto, concluía, aí, com um acintoso: “Quem protesta demais...” Que lhe assentava às maravilhas.)

De comentário em observação, de observação em crítica, de crítica em constatação de autoritarismo, de constatação de autoritarismo em comprovação de sinais de preocupantes desvios, a aludida entrevista, em todos os seus fios, emaranha-se num nó inevitável: “mas o PS proclama-se socialista...” – ata, por todos nós, o entrevistador.
Louçã, agarra a mão, segura a oportunidade, mas não atira, logo, a matar. Com laivos de ironia, primeiro, confirma tão singelamente: “o PS é o partido da privatização da energia ou da água” – assim como quem encolhe os ombros e conclui: que mais é preciso para classificar tal socialismo?
Bom... Mas de seguida (e imagino que mudando de cor, de feição, de expressão) atira com extrema dureza, com rara mas serena violência, impiedoso: “o PS é um partido que vacila perante os fortes e mostra-se capaz de atingir os fracos com a maior brutalidade.”


Para mim, é líquido que ele visava ESTE “partido socialista”...
E, na realidade, relativamente a ele é um juízo terrível. É a sentença mais aniquiladora. É o desmascaro mais cruel.

Dá que pensar! A muitos deles! A alguns de nós.



quinta-feira, 16 de agosto de 2007

INSÓLITO





A política traz-nos surpresas e reflexões inquietantes.

Nada que as novas sensibilidades na matéria não tenham, de há muito, entendido.
Mas quem persista em raciocinar em moldes de uma certa lógica, motivado pelo lastro de uma razoável experiência, imbuído de certos valores, guiado por velhos princípios, apoiado em ancestrais práticas... Não pode deixar de ficar perplexo.
Varado, é o termo.
Senão, vejamos.

Os jornalistas são, de há muito, em qualquer democracia aberta, um seu importante pilar. É difícil, mesmo, entender o exercício de cidadania plena sem o caminho desbravado pelo jornalismo sério, consciente e responsável. E INDEPENDENTE.

Mas, desde tempos imemoriais, quem defende a liberdade de expressão, pedra de toque e alimento daquele jornalismo?

Percorra-se desde quando se queira, e de ponta a ponta, a longitude ideológica, e sempre encontraremos a defendê-la a esquerda. (Deixemo-nos de conversas: a uns, nunca lhes conveio; para outros, deixou de fazer sentido. Mas é a expressão que melhor se quadra à situação).

Aqui chegados, e aportados aos dias de hoje, que verificamos? Aqui, em Portugal? Hoje, século XXI?

Pasmamos com esta coisa tão insólita: um presidente da República, da direita (eleito parece que não por engano, nem por acaso – embora mais por cedência da esquerda que por virtudes da sua área de influência), veta o novo estatuto dos jornalistas.
Bom – poderia um ET observar – está bem: presidente de direita, mas que não cedeu a uma rasteira feia de uma direita mais radical!...
Pois é aí que está o ponto: lei cozinhada por uma maioria, por um partido socialista que, como é geralmente sabido, tem, em princípio, um toque – pelo menos – de esquerda. Que ESTE nem isso tem.


Há, a propósito, a tendência para uma conclusão perigosa e precipitada: estaremos perante um PS e um governo menos de esquerda que um presidente de direita!

Nah! Não corro assim tão depressa a conceder um tal benefício da dúvida ao presidente. Vários motivos e, sobretudo, vários cálculos estarão na base (estratégica) deste veto. Que não, seguramente, a defesa da liberdade de expressão. Nah, nah! Isso, não.

E lá vamos cantando e rindo...
Até quando?



quarta-feira, 15 de agosto de 2007

DISCRETAMENTE... O “ANCIÃO”



Senhor director,
Teve a amabilidade de se referir a este humilde cidadão, aqui há atrasado, num dos seus editoriais.
Não que haja tanto quanto isso a esclarecer, acerca dessa sua amável intervenção.
Mas sempre aproveitarei a oportunidade para mais um tempinho de antena – coisa que me vai rareando, desde aquele desaire recente de que não quero nem lembrar-me.
Mesmo que o sr director me não tenha oferecido a deixa, não perderei a ocasião que, aos olhos de muitos, parecerá oportuna.
Etc. e tal...

Não foi assim?
Mas bem podia ter sido, esclareceria o Inimigo Público.

Imagine-se a velha raposa, o nosso matusalém, cheio de rodriguinhos, fazendo, no Público de hoje, em artigo de opinião, o papel de modesto... Que, não sei quantos,
“não me considero com nenhuns deveres para com a História, sobretudo com H grande”... Que, não sei que mais, “a minha posição, coerente comigo próprio, que, julgo, tanto lhe [JMF] desagrada [?], e o leva, creio, a não querer compreender algumas minhas respostas ao Diário Económico, aliás [modéstia à parte, e numa ligeira derrapagem] no seguimento de outras que dei antes e dos artigos que regularmente escrevo, na imprensa portuguesa e estrangeira”.
O quê? “Tiques autoritários” do actual governo? Ó sr director... Só contaram para você!
Claro que toda a gente vê – toda a gente falou – que “não são mais do que isso, pequenos tiques.” Toda a gente sabe...
As minhas posições, ao longo dos anos, quanto aos americanos?
Ora o sr director – e alguns portugueses e algumas portuguesas, é verdade – é que não avaliou bem...

E o misto de modéstia forçada e de prosápia qb, prossegue, em vários registos.

A cereja?
Mesmo no final:
“Aceite, senhor director, os cumprimentos deste "ancião", que tende a ser visto como "a voz avisada, cheia de energia e experiência", para usar as suas próprias palavras”.

Então adeusinho, até depois. Desculpe a intromissão forçada e mais qualquer coisinha, senhor director.
E passasse bem – como diria o meu avô.


terça-feira, 14 de agosto de 2007

A VERDADE... COMO O AZEITE...





«Às quatro da madrugada foi como se tivesse caído uma bomba em Washington, resumia o US News and the World. No site do Wall Street Journal, caía a manchete que ninguém imaginava: Karl Rove demite-se.»

À americana é assim: muita parra e pouca uva.

Afinal que se passou?

No fim de contas, de que renomada figura, carismática, de primeira plana, de grande projecção no mundo, se trata?

«Karl Rove abandona Casa Branca» – era o título de um telegrama de Rita Siza, de Washington, publicado na edição de hoje do Público, que nos relatava o magno acontecimento.

A que se seguia um destaque:
«Presidente Bush perde o seu mais importante e fiel conselheiro político, a quem chamou "o arquitecto". Os comentadores notaram que sai sem fanfarra nem glória»






foto Jim Bourg/Reuters/Público

Não sei, e muitos não saberão, de quem se trata. Não é nome que faça parte dos nossos conhecimentos políticos mínimos.
Mas é americano e faz parte da plêiade de criaturas que gravitam à volta da Administração Bush?
Então é importante qb. Para os americanos. Certos fieis. Certos basbaques.

E que tal o sobredito sr Rove?

Nós – melhor dizendo, alguns de nós – pensamos sempre coisas interessantes de tais criaturas.

Houve alguém que disse que ele é
“divertido”, que “está sempre bem disposto”, que é “um convicto defensor do presidente” e que deu um “enorme contributo” para o partido dele – tudo qualidades em si excepcionalmente raras, muito mais num americano, e mais ainda num elemento do partido republicano.
Feito raro. No entanto Karl R. conseguiu congregar todas essas altas e raras virtudes em si.

Mas há sempre quem se deixe de banalidades e de incensações a condizer, e esclareça:
"Foi o arquitecto de uma estratégia política que deixou o país mais dividido, os grupos de interesse mais poderosos e o povo mais desligado do seu governo desde que há memória" – como referiu o senador democrata Barack Obama.

Pois. Nós, os que pensamos as tais coisas, não somos bruxos, coisa nenhuma. Agora cá!

E, felizmente, há pessoas que não têm medo da verdade. Que é como o azeite...

Ora, não estaremos fartos de saber que são de tal jaez os assessores, de tal quilate os conselheiros dos senhores do mundo e de todas as guerras?

Claro que estamos!
Até fisionomicamente eles parecem gémeos: gorditos e de níveos semblantes – tantas as horas consumidas sob as luzes artificiais dos gabinetes...

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

DIFICULDADES




O "preto, branco...e cinzento", do cartoonista Luís Afonso, integra, como se sabe, o “Espaço Público/Opinião” das edições de Domingo do Público...

Opinião, portanto.

Desapiedada, verrinosa. Sempre.

Como urge.

Como eu gosto.

Como eles precisam.


(Não é que o amigo do Zé Carlos está cheiérrimo de razão?!!! É que é assim mesmo: uma pessoa pasma!)

(Estava a ver comprometida a publicação, aqui, do cartoon de ontem... Em boa hora que tudo se resolveu.)

MADRAÇOS?





José Manuel Fernandes tem razão. No seu serôdio neoliberalismo, está bem sintonizado com a nossa realidade social. Na verdade, se a culpa dos jovens de hoje, pelo facto de não conseguirem trabalhar, não é deles, é dos pais deles, como na fábula.

Os portugueses, noutros países, reagem bem a quem os leva a correr riscos e a empreender. Por que hão-de, em Portugal, continuar a sonhar, como sucede com demasiados jovens, com a segurança de um pacato emprego no Estado ou numa empresa pública?” É como reflecte, hoje, com certa ligeireza e muita convicção nos mecanismos “miraculosos” de uma economia abertamente liberal e desregulada (com retracção do estado social e o desenvolvimento do Estado penal, ainda também, deve recordar-se), o director do Público.

De facto, os exércitos de jovens licenciados, e de outros, que mourejam por esse país além, não trabalham porque não querem. Que necessidade têm eles, hoje, mais que ontem tinham outros (atente-se bem neste pormenor), em procurar essa enseada tranquila onde aportam as empresas de sucesso? Ou, vá: sem grandes problemas?
Falta-lhes lá ímpeto externo, capital e condições para cerrarem os dentes, fecharem os olhos e irromperem mercado fora sem recear riscos ou temer dificuldades!

Com certeza, sr director.

A conjuntura – em ambas as vertentes – e a nossa particular situação estrutural não são de molde a refrear os ânimos. Nada disso. Pelo contrário, não é sr Fernandes?

Até se querem convencer – os coitados – que o simplex está aí, mesmo. (Ainda não atentaram bem que não por enquantex... E, em muitos aspectos primaciais, nem se sabe para quando)

Todos nós sabemos muito bem que muitos dos nossos jovens, a grande maioria deles, não são nenhuns madraços. Não são, exactamente, aquelas lerdas criaturas que os “inteligentes” deste país calculam. São responsáveis e competentes. O que não têm é nenhuma oportunidade.

Não é o mercado que os assusta. Não é a competição, que resulta da competência, que lhes tira o sono.
São os “cozinhados” que os srs fazem: leis, mercados, competências, perfis, capitais e todos os mais temperos...

Fora das fronteiras do poder, para além da sua muralha de influência, não sobra nada para o mais ousado, trabalhador, competente. Salvo alguma raríssima excepção. Entenderam bem, srs fernandes?

Claro que na pele do tal lobo da fábula está sempre o senhor do capital, dos empregos, aquele que está sempre especialmente “vocacionado” para seleccionar “os mais capazes”... Claro. Mas isso!...

Lérias, srs fernandes e “mailos” seus “compadres”! Lérias!

Até quando?

E depois?





domingo, 12 de agosto de 2007

VASCO, O RESMUNGÃO


Um dos nossos mais bem conhecidos cronistas sociais oxfordianos é VPV. E, de todos, afirmam alguns, o mais iconoclasta. Donde a sua proverbial malapata com as figuras públicas.

Li um dia algures que VPV aliava “uma extrema inteligência escolar a uma enorme carga cultural”. (Achei o máximo)

É bem conhecido de todos o ódio de particular estimação, a especial relação admiração-ódio, que nutre pelos políticos. Se não em todos os seus escritos, pelo menos em um de cada dois.

Vasco (VPV, claro está) ou o anti-determinismo resmungão – desaforou um dia Mendo. Mendo Castro Henriques, já se vê.

O pior é quando PV se engana e dirige os maiores encómios (sim, nele, sempre por puro lapso) a alguém para, logo de seguida, e no mais repentino instante (a alguns parece sem tino) lhe lança os maiores enxovalhos! (Recorde-se, vg, Cavaco).

Eram uns patuscos, esses oxfordianos, com Espada à cabeça (Carlos Espada, só podia ser). E escreviam doideiras com muito inconscientes inconsistências, como a do “estalinismo social”… E os meninos do coro a aprender, e as meninas a correr (a Filomeninha, vg), e os iniciados no liberalismo novecentista a treinar…

Mais que lustrosos estão hoje. E de pantufas.
Mordiscam aqui e ali, como o Vasco (VPV, quere-se dizer)… Mas nada que faça doer!

Entre o inofensivo e o destrambelhado, grande parte das vezes.

Por vezes, com surpreendente e agradável mordacidade.

sábado, 11 de agosto de 2007

«REFERÊNCIAS CENTRAIS»

o velho político no traço cáustico de Kaos
José Manuel Fernandes alude - e repisa – hoje acerca de um “mundo em que nos habituámos a ver Soares virado de pernas para o ar, e este a perder as suas referências centrais.”

Não estranho.
Não estranho a volubilidade de Soares.
Como não estranho a estranheza de Fernandes.

Não estou seguro de que Fernandes fale de “referências centrais” com o mesmo conteúdo que, alguns (muitos) de nós outros, lhe atribuímos…
Um esquerdelho radical que, num repente, se converte num neoliberal… Deixa naturais dúvidas.

Não estranho a instabilidade de Soares porque um pimpão não tem grandes condições para reflectir. Mário Soares afirmou-se, repetidamente, republicano e socialista. E é considerado o campeão da liberdade e da democracia.
Com elevada dose de exagero, em consequência de calculada força mediática.
Não o considero, no entanto, a melhor referência em tais matérias.
A sua firmeza nesses domínios não é a mais sólida e exemplar.
Mais lídimo representante de tais virtudes foi um Salgado Zenha, a que ele encarniçadamente se opôs.
E que conseguiu marginalizar.
Ou um Vasco da Gama Fernandes. E vários outros.

Hoje, Soares insiste num toque anti americano. Outra das suas incoerências e reviravoltas conjunturais. Ele que tão amigo foi dos americanos!... Ele que tanto enalteceu Frank Carlucci e com ele privou!...
É a força e o sabor das circunstâncias.

As conjunturas, nele, têm mais peso que as suas convicções. É de todos sabido.

Onde, pois, a surpresa?

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

“SERENÍSSIMO” PRESIDENTE

Sergei



Na tradicional mornice (este ano bem nublada e fresca) de Agosto, quadra bem um presidente plácido, melífluo e, sobretudo, inócuo.
Bem diferente, na verdade, o Cavaco dos dias que correm.

Descreve-o, assim, hoje, esse campeão do humor, o Inimigo Público:
“o primeiro-ministro crispado de 1985 a 1995 que contava as vírgulas do orçamento de Estado e lembrava Vlad, o Empalador, deu lugar ao presidente afável de 2007, entre a Serenella Andrade e o Dalai Lama”.

Nem mais.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

FOTOGRAFIA


“O MSNBC.com, site do empreendimento conjunto entre a Microsoft e a NBC, lançou o que já está sendo considerado pelos media americanos um dos mais completos projectos de jornalismo cidadão criado por um veículo de massa”.

Uma das realizações da parceria, já bastante divulgada, parcial ou globalmente, é a que ficou designada de “2005 em imagens (msnbc)”.

Imagens espectaculares, quer opte pela “editors’ choice” quer pela “readers’ choice” – e aconselho que veja os dois conjuntos de slides. E uma outra sugestão: veja ambas as escolhas (cujo conteúdo, em parte se repete) no modo “full captions”.

Bom! Os amantes de fotografia têm, aqui, matéria para grande deslumbramento, material revelador de grande técnica e qualidade artística.

Quede-se, pois, por minutos, e deixe-se fascinar.


(A passagem dos slides é acompanhada por música)

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

QUE FELICIDADE A NOSSA!

quiosque/Maluda/CTT (1989)



No Público, hoje, era a sensaboria dos dias de morna participação e da ausência dos nomes sonantes da crítica e da opinião.
A dado passo, tropecei num artigo de António Vilarigues que lembrava – imagine-se a lata! – que AJJ “deve ser levado a sério, muito a sério mesmo” – não me parecendo adivinhar-lhe o mais leve trejeito de ironia.
Foi quanto bastou para arrumar, por hoje, o jornal do Fernandes.

Sedento de coisas sérias, de notícias, mesmo, daquelas que a história vai registar, fui à cata do Correio da Manhã.
Que ânsia! Mas como é compensador!

Assim, além do, já de si, enorme benefício de ficar bem informado sobre o que de mais importante se passa no mundo – todas as desgraças e todos os sobressaltos das fílmicas e novelescas famílias nas maiores parangonas – dá-se ainda o caso de agora ter uma secção sazonal, que se designa de VIDAS DE VERÃO! De várias e suculentas páginas.

E aí temos as últimas sobre Britney Spears.
E ainda acerca da Gisele, a modelo, brasileira, que fazia subir… As acções!
Outra matéria a beneficiar do rigoroso jornalismo do diário de maior expansão no nosso país, é o que aborda o enigma que recentemente envolveu Vítor Baía e o filho, e que nos deixou num indizível desassossego: Vítor Baía nega – reza o rigoroso e ansiado exclusivo – não ter cumprimentado o filho Diogo durante o concerto dos Keane, no último Domingo, no Porto. E desfaz as confusões que perturbaram a nossa doce tranquilidade: é que Baía apareceu ali com a mulher, Elisabete, enquanto o filho ia acompanhado pela mãe, Alexandra. Agora que o ídolo cumprimentou o rapaz… lá isso cumprimentou.
Vidas complicadas. Mas tudo serenou, já, e o governo reatou o conselho de ministros, os comboios voltaram a circular, a Bolsa retomou a actividade, sem mais solavancos, os portugueses serenaram.
Outro destaque – e este de página inteira – é o que nos dá novas sobre Santana Lopes. “Já não faço grandes noitadas” – confessa, com certa ponta de irónica malandrice, o grande líder…

E muita, muita mais matéria…

Na verdade, como pode qualquer português que se preze sobreviver sem conhecer o que de importante se passa no seu país e no mundo, sem ver o CM?

Manifestamente impossível.
Por alguma razão o CM é, só, o diário português de maior tiragem!

Que felicidade a nossa!



terça-feira, 7 de agosto de 2007

DALILA TEM OPINIÃO, MAS SANSÃO NÃO GOSTA

foto Sérgio Azenha



Muito se tem dito e escrito a propósito da demissão de Dalila Rodrigues.
Pulido Valente chegou, mesmo, a verberar de indisciplina a atitude da ex-directora do MNAA – conquanto concedendo, é certo, no respeitante ao meritório trabalho por ela ali desenvolvido.

Creio que tudo vai da postura que o observador tome, na análise da situação.
Se a observarmos numa perspectiva das particulares exigências do exercício do cargo, da sua específica preparação, das respectivas, e muito elevadas, competências técnicas, da reconhecida capacidade de gestão e do apreciado dinamismo que Dalila Rodrigues soube imprimir à sua direcção, no curto lapso de três anos, nessa circunstância de tal forma sobram referências elogiosas que se torna menos aceitável a decisão superior que a visou com o afastamento.
Parece não restar grande dúvida que o modus legendi do processo, por parte da ministra, não foi o melhor, no sentido do superior interesse da cultura. Daí o desacerto, bastante provável, da sua actuação.

Mas convenhamos: qual o quadro superior, no sector púbico ou numa empresa privada, que não negoceia uma função destas?
Quando o representante da tutela (ou da administração de uma empresa) e o candidato a um posto se sentam a uma mesa para acertar convergências ou desmontar dificuldades e aplaná-las… É porque cada qual tem o seu quê em que admite qualquer renúncia, é porque cada um deles tem uma particular exigência a defender no exercício de tal missão. É porque há que atender ao perfil, às qualidades e ao currículo do candidato.

Assim sendo, as questões de obediência hierárquica prendem-se com problemas de outra ordem, de política geral do governo. Não com os detalhes que se constatou serem o epicentro da convulsão.

Os comentários da ex-directora foram – tudo parece indicá-lo – no âmbito da matéria que fora objecto de negociação: prioridades, apoios mecenáticos, estratégia inovadora, medidas aprovadas e não implementadas.

Assim sendo, tudo – e todos – apontam para a gratuita e precipitada perda de uma muito qualificada directora do nosso mais importante museu.


BECKETT, PARA ALGUNS, À LETRA






Há políticos que, sem o terem entendido em toda a sua profundidade, parecem ter adoptado o lema de Beckett, na sua extravagante letra: “tenta outra vez. Falha outra vez. Falha melhor”.
Não era, de todo, o que se passava com o dramaturgo e poeta irlandês, mas os santanas lopes que povoam a nossa praça, eles mesmos ou travestidos de menezes e outros heterónimos, não desarmam. Vão somando fracassos e insucessos sobre desastres e falhanços. Uma festa. E, como o outro, da Madeira, riem-se, felizes, mirando-se num espelho especial que alguém lhes ofereceu…

Assim gosto deles!
Já que o povo não tem pão de sobra, que tenha, ao menos, circo qb.


segunda-feira, 6 de agosto de 2007

MAGNAS DECISÕES









Persegue-me uma terrível dúvida (ai, o sr presidente da República é capaz de nem imaginar como deve ser bom não ser assaltado por dúvidas!), desde há semanas. Consome-me a mais dolorosa inquietação: qual dos dois gurus do Millennium sobreviverá às diabólicas jogadas de bastidores? Jardim? Teixeira?

É que é já hoje, a eleição!
É como se eu tivera comprado uma cautela, das que custam uma “nota preta”, e aguardasse, agora, o rolar das esferas, o sorteio da Santa Casa.

É terrível demais, para um cidadão comum, que nem eu, poder suportar tamanha incerteza.

Os cartéis anunciaram-se. As armas estão contadas. As estratégias definidas. Os dispositivos de ataque/defesa montados.

As ameaças sobem de tom. Fala-se em luta suicida. É o apocalipse que se adivinha.

As mentes perturbam-se. O amanhã permanece submerso.

Ou porque a época futobolística ainda está atrasada, as novelas, de pousio, os noticiários sem chama, o tempo tão instável como os políticos, a verdade é que o povo não fala noutra coisa, nos cafés, entre a bica e o bagaço; no clube do bairro entre duas jogadas de dominó; na papelaria, entre dois comentários sobre uma vizinha mais afoita; na rua, entre dois dedos de conversa; no talho, enquanto o talhante pica a carne para duas freguesas (“isto é que vai uma carestia!”); no mini mercado lá da rua, no elevador lá do prédio, na cabeleireira ou no banco ali do jardim…

Resolvam-se, senhores, para nosso sossego, para tranquilidade de todo o mundo.







Já pronta esta crónica, chegou-me a notícia, online, de que


“O presidente da mesa da assembleia geral do BCP declarou esta segunda-feira encerrada a reunião magna de accionistas que decorria no Porto, devido a problemas informáticos, e marcou o reinício dos trabalhos para 27 de Agosto, novamente no edifício da Alfândega”.

Pois, meus amigos, é que hoje eleições sem meios informáticos…

Não é possível! Isso era d’antes.
Por isso: ponto final.






Não se faz!
Como não nos havemos todos de revoltar?






domingo, 5 de agosto de 2007

FUNCIONÁRIOS

Rafael Bordalo Pinheiro




Argumenta Vasco Pulido Valente, hoje, na sua coluna no Público, que, antigamente, os funcionários públicos ganhavam mal por duas razões: porque a sua nomeação, na quase generalidade dos casos, era uma recompensa de fidelidades políticas e de outros laços com elas aparentados, e ainda porque eram, na sua quase totalidade, pessoas sem mérito de competência, qualidade e currículo.

Isto, o que transparecia, e era verdadeiro espelho, da personalidade e da ronceira actuação dos funcionários.
Sublinha, até, PV, que, após o boom económico que se seguiu à última Grande Guerra, “ser funcionário público passou mesmo a ser uma vergonha, um sinal de mediocridade, resignação e falhanço”.

Não terá sido tanto assim, já que os teóricos e os ideólogos do regime salazarista, sustentavam, antes, que ser funcionário era altamente prestigiante. Pedro Soares Martinez, um dos campeões da propaganda corporativista desses idos, e que nos olhava do alto do seu imenso (?) saber (?) e respeitabilidade (?), meio constrangido e sobranceiro, se não vestíamos com o gosto e o rigor do seu padrão e se não usávamos gravata condizente, Martinez, dizia, afiançava, mesmo, que era de tal modo socialmente importante o funcionalismo de Estado que tal prestígio compensava, e largamente, os salários mais minguados que o acompanhavam.
Ou melhor: tal prestígio representava um valor tão acrescido que, somado ao do vulgo (empregados da privada), o suplantava, e de que forma, exponencialmente!

Claro que muito antes do dr Macedo, outros representantes dos avatares do funcionalismo se recusaram a aceitar tal míngua de remunerações, sobretudo se comparadas com as da função privada.

As lucubrações martinezcas nunca convenceram os espíritos mais positivos; e estes, durante largo tempo, a mais não aspiravam que atingir os níveis remuneratórios dos empregados das empresas privadas.

Com o dealbar de Abril, contudo, a situação inverteu-se da forma que todos nós bem conhecemos, atingindo as raias do escândalo e da injustiça, com louros, benefícios e regalias que galgaram o racional e o sensato, de tal modo o respectivo mérito se mantinha, na generalidade dos casos, em níveis mais que irrisórios ou apagados.

Depois…
Depois foi o que se viu: um fartar vilanagem.
Depois…
Depois alguém prometeu pôr cobro à situação.

Mas quê! … Como calar uns e “sustentar” os outros?

Claro: é a porca da política que continua no seu máximo. Não obstante as anunciadas intenções.

Até quando?

O PESO DA "LINHA" E A INCÓMODA VERDADE

Luís Afonso/Público/Preto, branco... e também cinzento/DM 05AGO07
"Linha Oficial"

Imperdível e impagável a acutilante mordacidade de Luís Afonso.
O seu cartoon de hoje, no Público, é a confirmação da sua atenção e do seu contundente comentário a uma situação degradante que todos preocupadamente acompanhamos.

Curiosamente, e talvez por pura coincidência (“… pero que las hay… las hay!...”), o “escrito na pedra”, desta data, do mesmo diário, recorda-nos uma máxima de George Orwel: “num tempo em que a mentira está generalizada, dizer a verdade é um acto revolucionário”.
Repare-se na actualidade do escritor inglês da primeira metade do séc XX e na sua adequação ao traço de Luís Afonso.

Espero que desta vez o “boneco” do cartoonista consiga vencer certas resistências e perdurar no Flash, para além do normal acesso dos assinantes do mencionado periódico.
Até porque é por uma boa causa.







sábado, 4 de agosto de 2007

MR MAGOO




Nos anos 50 era freguês, mais ou menos frequente, da pastelaria onde a malta (o meu grupo) se reunia, um velhote baixinho, calvo e muito pitosga. Claro que logo o baptizámos de Mr Magoo. O velhote atravessava a esplanada e entrava na pastelaria resmungando sempre com alguém, por qualquer (desconhecida) razão, ou por razão nenhuma. E era também habitual o nosso Mr Magoo “rosnar”, sempre, a propósito de tudo e de nada, a mesma expressão: “é um paradoxo”. E ainda bem não repisava, mesmo, protestando contra alguém em concreto que, perplexo, sem descortinar o menor motivo, o olhava incrédulo: “é um paradoxo, não há dúvida. Um paradoxo. Sabe o que é um paradoxo? Claro que não sabe o que é um paradoxo!...” E prosseguia no seu caminho, barafustando sempre.

Propunha-me, hoje, escrever duas linhas acerca de Marques Mendes.
A verdade é que já lá vão mais de uma dúzia de linhas, e de Marques Mendes apenas mencionei o nome.
Mas porque motivo me terá ocorrido Mr Magoo: realmente, o líder do PSD não é velhote, nem calvo ou pitosga…
Ah, sim, já me lembro: era a propósito de paradoxo.

Exacto: bem vistas as coisas, trata-se de uma questão paradoxal e inexplicável a invocação de Marques Mendes, na entrevista dada hoje ao Diário de Notícias, das três ideias em que diz alicerçar-se a sua forma de fazer política: coerência, consistência e credibilidade!

Na verdade, será a mesma pessoa o presidente do PSD que há dias acompanhou Alberto João Jardim, na via sacra das tasquinhas e da romaria do Chão da Lagoa, descrito mais abaixo, no post de 30 de Julho, e o entrevistado de hoje daquele diário?

Reveja-se o mencionado post da passada Segunda-feira: o Marques Mendes de que ali se fala será, porventura, a tal personalidade que hoje se proclama politicamente coerente, consistente e credível?

Há políticos que são um espanto.

Um paradoxo, diria Mr Magoo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

“QUOSQUE TANDEM…”, JOSÉ ?




Não queria alongar-me muito porque a matéria é basto melindrosa e eu, não pertencendo à classe, não estou absolutamente – por inteiro, quero dizer – dentro do assunto. Mas pelo que me é dado observar, quer pelo se pode colher dos meios de comunicação social, quer pelo que várias outras vozes nos fazem chegar aos ouvidos, é bem patente existir uma tramóia mal disfarçada na história dos professores titulares.
Ao entardecer, já mesmo no lusco-fusco, do ano lectivo, 31 de Julho, eis que o Ministério da Educação publica a listagem de uma nova categoria de professores, os ditos professores titulares.
A ideia que o Ministério pretende fazer passar é a de que, com a nova categoria, se visa premiar os professores mais competentes.
Vendo bem, porém, não é isso que se verifica. O que ressalta da tal listagem – aos olhos de quem a saiba ler e analisar - é que foram promovidos os professores que mais de perto contactaram com o poder, mediante cargos exercidos, na área do ensino, sim, mas em prejuízo da sua evolução profissional, à revelia das suas capacidades e desempenhos verdadeiramente profissionais. De professores, é óbvio.
Promoções, portanto, conquistadas por burocratas. Não por professores.
Ou seja, o poder – o Governo, entenda-se – premiou, sim, como sempre, os que com ele privavam. Neste caso os burocratas-professores. Não os professores, qua tale, pelo seu saber, pelas suas competências científicas, pela sua intervenção directa na formação de futuros homens e mulheres. Na sala de aula. Não nos gabinetes.

As vozes já se levantaram. E vão continuar a fazer-se ouvir.

Mas quando?
Ah, bom! Durante as férias, durante a noite do ano escolar. Dando tempo a que os espíritos se acalmem. A que os ânimos, justamente revoltados e prejudicados, arrefeçam.

Tudo planeado, por este Governo, ao milímetro.
Ao segundo, como demonstra este facto.
Não – dizem as cada vez mais numerosas vozes críticas – em benefício da comunidade, na sua generalidade. Os objectivos nacionais são, quantas vezes, ultrapassados por outros. Por vezes, indizíveis.

Até quando?
 

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