quinta-feira, 23 de agosto de 2007

OS RICOS


O assunto tem sido abordado com alguma frequência: os ricos.
Miguel Sousa Tavares, na sua coluna semanal do expresso, neste último Sábado, voltou a ele.

Já não causa aquela provinciana “comichão”, a ninguém, que os ricos o sejam porque souberam licitamente amealhar o seu pecúlio, aumentar o seu património, por denodado esforço e, quem sabe, com um golpe de audácia ou, talvez, de alguma sorte...

São ricos, eles, mas produzem riqueza para o país.
Tudo bem e tudo normal, quando assim apreciado singelamente.


O que causa indignação ao mundo dos pobres, não é que existam os ricos. Mas será - se ela existir, e enquanto exista - a diferença de oportunidades que a sociedade (organizada: o Estado) faculta a uns e outros. Na justiça, no equilíbrio e na igualdade de oportunidades que oferece, ou nega, à colectividade dos seus cidadãos.

E a ideia tantas vezes repetida pelos analistas, e agora reiterada por MST, é a de que, desde sempre, a tendência dominante da nossa sociedade tem sido a de abandonar à sua sorte os que não têm recursos, ou os não têm em condições de proporcionar um mínimo de dignidade à sua (precária ou difícil) existência, enquanto que os que os têm para lá do necessário para uma vida desafogada, os ricos, estão, por norma, beneficiando da sombra protectora e incentivadora do Estado.
Ou, nas palavras (pesadas) do jornalista-escritor, “tivemos sempre – desde o tempo das Descobertas, passando pelo liberalismo, pela República e pelo Estado Novo – uma sociedade que colocou os pobres por conta da caridade e os ricos por conta do privilégio.”

Para que grande parte da população consiga sair do estado de pobreza, não se vislumbra vontade política nem acção nesse sentido, por parte do poder instituído.
Mas para que os ricos possam cada vez mais ver aumentar o seu potencial, aí sim, é bem patente a intervenção do Estado: multiplicam-se os respectivos benefícios e privilégios, tal como as condições que garantem esse progresso. E isto para além do que é justo e razoável, à margem de um equilíbrio que é o que deve pautar o poder público na consecução da felicidade e do bem-estar da colectividade que ele jurou prosseguir e garantir.

E MST, recordando, de novo, dados recentemente referidos pelos analistas, continua: impressiona que as fortunas acumuladas dos 100 mais ricos de Portugal represente 22% do total da riqueza do país e, pior, que o fosse entre uma e outra dessas categorias de cidadãos seja o maior da actual Europa comunitária. E acrescenta: “faz impressão pensar que, enquanto os trabalhadores por conta de outrem e a generalidade da classe média e média-baixa viu os seus rendimentos subir entre zero e três por cento no ano passado, os cem mais ricos aumentaram a sua riqueza em 36%.” E fizeram-no essencialmente através da especulação bolsista, não pelo desempenho das suas empresas, não pela criação de riqueza para o país.
Por fim, também ele - como outros, ultimamente - conclui quão grande é “a dimensão da injustiça social e fiscal” no nosso país, o que ressalta à chocante evidência se atentarmos em “quanto pagaram de impostos sobre os lucros as empresas ou fundações onde se abrigam os cem mais, para compararmos com os que, vivendo apenas do seu trabalho, pagam 42% de IRS”!...

Mais palavras?

Uma coisa é esse pobre e triste e mesquinho sentimento de inveja que eventualmente possa dominar alguns espíritos, outra a pungente e gritante injustiça que a realidade revela.



1 comentário:

aminhapele disse...

Se fosse possível uma "cunha":
eu gostava de passar a pagar 42% de IRS!

 

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