Argumenta Vasco Pulido Valente, hoje, na sua coluna no Público, que, antigamente, os funcionários públicos ganhavam mal por duas razões: porque a sua nomeação, na quase generalidade dos casos, era uma recompensa de fidelidades políticas e de outros laços com elas aparentados, e ainda porque eram, na sua quase totalidade, pessoas sem mérito de competência, qualidade e currículo.
Isto, o que transparecia, e era verdadeiro espelho, da personalidade e da ronceira actuação dos funcionários.
Sublinha, até, PV, que, após o boom económico que se seguiu à última Grande Guerra, “ser funcionário público passou mesmo a ser uma vergonha, um sinal de mediocridade, resignação e falhanço”.
Não terá sido tanto assim, já que os teóricos e os ideólogos do regime salazarista, sustentavam, antes, que ser funcionário era altamente prestigiante. Pedro Soares Martinez, um dos campeões da propaganda corporativista desses idos, e que nos olhava do alto do seu imenso (?) saber (?) e respeitabilidade (?), meio constrangido e sobranceiro, se não vestíamos com o gosto e o rigor do seu padrão e se não usávamos gravata condizente, Martinez, dizia, afiançava, mesmo, que era de tal modo socialmente importante o funcionalismo de Estado que tal prestígio compensava, e largamente, os salários mais minguados que o acompanhavam.
Ou melhor: tal prestígio representava um valor tão acrescido que, somado ao do vulgo (empregados da privada), o suplantava, e de que forma, exponencialmente!
Claro que muito antes do dr Macedo, outros representantes dos avatares do funcionalismo se recusaram a aceitar tal míngua de remunerações, sobretudo se comparadas com as da função privada.
As lucubrações martinezcas nunca convenceram os espíritos mais positivos; e estes, durante largo tempo, a mais não aspiravam que atingir os níveis remuneratórios dos empregados das empresas privadas.
Com o dealbar de Abril, contudo, a situação inverteu-se da forma que todos nós bem conhecemos, atingindo as raias do escândalo e da injustiça, com louros, benefícios e regalias que galgaram o racional e o sensato, de tal modo o respectivo mérito se mantinha, na generalidade dos casos, em níveis mais que irrisórios ou apagados.
Depois…
Depois foi o que se viu: um fartar vilanagem.
Depois…
Depois alguém prometeu pôr cobro à situação.
Mas quê! … Como calar uns e “sustentar” os outros?
Claro: é a porca da política que continua no seu máximo. Não obstante as anunciadas intenções.
Até quando?
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