quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O PAÍS EM QUE SÓ HÁ CHEFES

Aconteceu-me hoje, de novo.
É tão frequente que é impossível que haja alguém que nunca se tenha apercebido de tão importante peculiaridade: em Portugal não há empregados. Empregados do patamar mais baixo da respectiva escala de trabalho, quero dizer.
Daqueles cuja missão, tão nobre como as mais, mas menos sonante, é desempenhar uma tarefa sob as ordens de outrem.

No café, nos passos perdidos das grandes superfícies, na rua, no minimercado, na paragem do transporte, na tabacaria ou no dito transporte, as conversas que transbordam de duas ou três pessoas para o domínio mais alargado dos circundantes, indiferentes, distantes e alheios, são o pão nosso de cada dia.
Ao falar-se da ocupação do filho, do cunhado, do neto, do enteado, do sobrinho ou dum amigo, é infalível que se trata de alguém que “manda lá”, de quem “dirige aquilo” (referindo-se à entidade que lhe paga o salário).
“Sim, sim, ele é lá chefe”... “É ele que manda lá naquilo” – ouve-se, infalivelmente.

Não tenho a certeza, mas poderia apostar que nunca ouvi a nenhum desses que nos impõem as suas gratuitas, dispensáveis e sonoras opiniões, que nos devassam as sua vidas e (pior) a dos outros, dizer que “ele é, lá...”, um modesto empregado, a trabalhar sob a orientação de outra pessoa.

Tal e qual: um português, na boca de certo mundo, é sempre um chefe!
É, invariavelmente, um vencedor!
É, por norma, um campeão nato!

Bom, que na boca do próprio, acima dele, mais poderoso e melhor que ele, só mesmo os deuses do Olimpo e um ou outro raro e lendário herói...

E nós – que os conhecemos, a alguns - estamos fartos de o constatar...
Não é mesmo?

Bem verdade que, presunção e água benta...
Isso...

Os séculos, os desaires e os insucessos, a certos não lhes trazem qualquer emenda.

Passam a vida a fazer de conta...

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