sábado, 25 de agosto de 2007

UM ADEUS SINGELO

foto de Sérgio Granadeiro
(EXPRESSO online de 25AGO07)





Claro que hoje o tema é, naturalmente, um: EPC

Foi a primeira coisa que ouvi em casa (já o Sol ia alto) depois dos bons-dias: morreu o Eduardo Prado Coelho.

A Lusa deixava, cerca das 10:44:50 de hoje, a notícia nas redacções dos media: Morreu o escritor Eduardo Prado Coelho.

E às 11:30 José Manuel Fernandes informava no Público online, o passamento desse colaborador, desde a primeira hora, do periódico de que é director.


Não é verdade que todo o mundo, depois de morto, seja bom e merecedor das nossas homenagens e admiração. Outros (e alguns dos mesmos), de saudade.
Não é verdade.

[Assim, nem depois de morto, “o outro” mereceria a minha admiração. Nem a saudade de “ninguém” (aqui inclusa a massa anónima dos cidadãos deste país). Muito menos ser considerado um português exemplar... Quanto mais o maior de todos eles, em todos os tempos.
Exageros de visionários. Que merecem tanto ser considerados como os mais fanáticos que o são].


Prado Coelho, porém, era merecedor de tal admiração e de tal preito.

Toda a bela tem senão. (Por isso mesmo é bela.)
Daí que, e por vezes, não estivéssemos, alguns, por um momento, pelo lapso de uma crónica, por exemplo, com EPC?
Nada mais natural.

Em recente “post” meu, neste espaço, intitulado «Quase “Requiem”», de 07JUN último, falava de Prado Coelho discordando, um tanto, dele. E comentava, aí, um amigo meu (RL):
«EPC faz-me lembrar sempre um "naco" saboroso que, há uns anos foi publicado pelo pai Jacinto.O filho Eduardo começava a dar os primeiros passos como crítico.Então o pai Jacinto, escreveu que o crítico EPC já tinha idade para levar umas bengaladas que, infelizmente, não lhe tinham sido dadas quando era pequenino...EPC não deve esquecer, felizmente, as palavras introdutórias de Camus, ao MITO DE SÍSIFO: ...responder a se a vida merece, ou não, ser vivida é responder a uma questão fundamental da filosofia".»
Premonitório, RL, no final desse seu comentário? Como, de certo modo, premonitório o título do meu “post”.
Até parece.

Mas ali, no tal comentário, importante era a recordação da fortuita e pontual discordância paterna, relativamente ao “jovem” crítico e ensaísta.

Também, num mail, hoje, me dizia outro amigo: «... Lá ficámos sem o professor. Ultimamente, terá perdido a frescura analítica e a graciosidade literária de outros tempos, mas fará sempre falta. (...) C'est la vie»

«Verdade que sim, que é uma perda – respondia eu.
Curiosamente, aqui, nas Areias, onde estou, até o tempo se associou: o Verão interrompeu a sua intermitência de calores para chorar de mansinho (uma chuva miudinha, um dia cinzento, para o escuro).
Diz bem, JR, até porque lembrando Paris: "c'est la vie"...»

É mesmo a vida.
Se eu, com mais seis anos e escassos dias que ele, por cá continuo, ele mais que eu o mereceria, porque mais lhe deve e mais dele precisa a cultura do nosso país.
(Claro que quando afirmo “mais” lhe deve e “mais” dele precisa... Estou a ser presunçoso, pois que a mim, o país, nessa matéria, nada me deve. Foi tão só uma força de expressão.)

O escritor e ensaísta, que fizera, em 29 de Março, 63 anos, fora professor, até há pouco, no Departamento de Ciências da Comunicação, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa.

Além de que desempenhou vários cargos oficiais de relevo: como, por exemplo, e entre vários outros, professor no Departamento de Estudos Ibéricos da Universidade de Sorbonne - Paris III, e, pela mesma altura, conselheiro-cultural na Embaixada de Portugal em Paris.

A sua coluna quase diária (cinco dias por semana) no Público, intitulada genericamente, O Fio do Horizonte, era de leitura “obrigatória” para a generalidade dos leitores do diário.

Ainda ontem, nessa coluna, sob o título específico Comício de Verão, zurzia, e bem, em AJJ.
E anteontem, parecendo adivinhar não chegar lá, antecipava-se à comemoração do centenário do grande arquitecto brasileiro, Óscar Niemeyer, que passará em Dezembro próximo. O título dessa sua penúltima crónica era, exactamente, Niemeyer. E fazendo referência à ainda espantosa capacidade de resposta do arquitecto, recordava palavras suas que é difícil esquecer: “não é o ângulo recto que me atrai, nem a linha recta, dura e inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo...”

Importante nota biobibliográfica do autor, ora desaparecido, pode ver-se no
EXPRESSO online, de hoje.
E o testemunho, com palavras de circunstância ou com um verdadeiro apreço e saudade, podiam ler-se, também, a meio da tarde de hoje, no
DIÁRIO DIGITAL.

Singela, mas sentida homenagem, a minha.

1 comentário:

LEÃO DA ESTRELA disse...

Quando se diz que o Sporting é um clube das elites, isso também tem muito a ver com o facto de ter adeptos e simpatizantes intelectuais como EPC, sem pejo de assumir que gostam de futebol e que têm um clube. EPC, que cultivava uma atitude aristocrática, não tinha preconceitos pseudo-intelectuais. Era capaz de escrever sobre o “nosso” Sporting e, mesmo assim, ser lido por quem detesta futebol. Porque quando escrevia sobre futebol abordava o fenómeno como uma pessoa normal. Com coração, cabeça e estômago. Também por isso, sendo um homem assumidamente de esquerda, chegando, às vezes, a escrever como se de um “spin doctor” do PS se tratasse, era lido e respeitado em todos os quadrantes políticos. Porque era livre nas suas escolhas, nos seus elogios e nas suas críticas. Desde a fundação do jornal “Público”, em 1990, EPC escrevia diariamente sobre as grandezas e as misérias da cultura, da política e da sociedade portuguesas, a partir dos episódios do quotidiano. Tinha amigos de estimação. E inimigos também. Como qualquer ser humano marcante e perene.

 

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