sábado, 31 de maio de 2008

CARPIDEIRAS



A direita – certa direita – adopta as nossas bandeiras. Aparentemente.
Não me refiro a uma direita assumida, consciente e civilizada, onde militam uns senhores respeitáveis e coerentes, cuja opinião devemos cotejar, ainda que com ela, e em muito grande medida, não possamos concordar.
Não é a essa direita que aludo.
Falo da direita manhosa, oportunista, impostora, alarmista, de conversa pastosa. Farisaica.

É essa direita que nos remete textos dos media, e ainda mails e vídeos que traduzem a insegurança, a inconformidade, o descontentamento, o desespero – da esquerda – com um governo que se autoproclama socialista. Como se fizessem parte desse coro de descontentes. Tudo, evidentemente, para iludir certos incautos e algumas almas mais cândidas...

A essa ala mais refinadamente reaccionária do leque ideológico se referia ontem, no Público, Vasco Pulido Valente, ao observar: «a direita agradece o serviço a Sócrates, mas, no fundo, não o engole.»
Pois é claro que não engole mas finge estar com ele descontente, pegando em (alguns) cartazes da esquerda desiludida com este PS e com este governo neoliberal, não, é evidente, para que o governo e “este” partido que o suporta, façam uma pausa reflexiva e alterem o seu rumo... Nada disso: antes pretendem é fazer alargar a “mancha”, o número dos descontentes, com vista à sua queda.
Actuam como carpideiras, não sei se pagas se, apenas, augurando, para si e para os seus, futuras e consoladoras prebendas. Mas carpideiras, afinal, da falência “deste” socialismo.

Trazem-me à memória uma citação que me enviaram por mail, recentemente, de um teólogo e escritor brasileiro, Frei Beto: «as carpideiras da falência do socialismo não se perguntam por suas causas nem denunciam o fracasso do capitalismo para os 2/3 da humanidade que, segundo a ONU, vivem abaixo da linha da pobreza. Assim, abraçam o neoliberalismo imaculado. E o adornam com o eufemismo de "democracia", embora ele acentue a desigualdade mundial e negue valores e direitos humanos cultivando a idolatria do dinheiro e das armas.»

Essa é que é essa.

Uns safados.

terça-feira, 20 de maio de 2008

MOÇÃO DE CENSURA



Esses gajos, os comunêstas, dão-me um gozo do caraças!
Se eu não fosse uma pessoa decente até diria que são todos uns ****** ** ****, mas não digo, porque sou uma pessoa com maneiras.
Esses ****** ******** ** * ****** ******** são mas é ***** ******** ** *******. Aliás, ****** * ******** ** ******* ******** ********. E mais, ** ******-** ******* ***** ** ***** * *************, pois então!
Esses sujeitos pensam qu’isto aqui na êlha é o regabofe lá do cont’nente.
Mas estão muito enganados. Aqui, como na Birmânia e noutras democracias exemplares, o poder existe e é respeitado porque é legitimado pelo voto popular... Não há cá moções de censura feitas por um bando de ******** e de ****** ** **** e de ********** ** ******* e outros ******** *** ******* ******** que tais.
Aqui não se brinca! E se algum ****** ** ***** ********* brincar, **** ****** ******, ai está, está!


- Gostava que informasse ..... ??????
(jornalista não acreditado pelo governo, logo com o som cortado)
- Eu conseguê ouver e até lhe respondo seu ***** ** *** ************** ****: não publico nessa ***** do Diário da República só se não me apetecer. Percebeu seu **** ** ******* * ** ** * *******?

quinta-feira, 15 de maio de 2008

TE ALBERTUM LAUDAMOS - "EXEMPLO SUPREMO NA VIDA DEMOCRÁTICA"

AJJ, numa das imagens de kaos



Por vezes torna-se necessário que aconteça o insólito para acordarmos de uma certa letargia.

O Diário da República não é propriamente um periódico destinado a crónicas e artigos de carácter partidário e a declarações encomiásticas de líderes políticos, de qualquer facção. Quem tiver o mínimo pingo de seriedade sabe que assim é.

Num Estado de Direito, esse não é, decididamente, o papel da “folha oficial”, o qual se circunscreverá a matéria legislativa ou regulamentar e a resoluções que respeitem o interesse nacional, sem aproveitamentos político-partidários e menos ainda sem carácter promocional e proclamatório de cultos de personalidade de quaisquer dirigentes políticos, seja qual for a sua ideologia.

Na verdade, o caciquismo tem outras formas e outros meios para se manifestar. Pois, se nem o jornalismo de referência com ele pactua com facilidade, muito menos o deverá acolher o Diário da República! Não lhe cabe o papel de transmissor do discurso panegírico de personalidades nem de montra de vaidades privadas. Nem que se tratasse de personalidades sensatas, credíveis, de modos e termos correctos, cuja respeitabilidade se impusesse – nem dessas -, quanto mais da que hoje é objecto deste apontamento, a ausência personificada de todas essas qualidades…

Parece óbvio e de acordo com o melhor senso.

E o que se diz do jornal oficial deve dizer-se, de igual modo, da Assembleia da República ou das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas, às quais nunca deverá caber o já mencionado papel de órgãos difusores de propaganda partidária nem de veículo de promoção dos respectivos dirigentes.

Chegaram cerca de cinco décadas de uso e abuso desses palcos sustentados pelos contribuintes.
Mas deixemos os preliminares. Vamos ao âmago da questão, à “notícia” de páginas 2628 e 2629 do DR a seguir transcrita:


2628 Diário da República, 1.ª série — N.º 92 — 13 de Maio de 2008


REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA
Assembleia Legislativa
Resolução da Assembleia Legislativa da Região
Autónoma da Madeira n.º 12/2008/M
Congratulação pelos 30 anos de governação do Dr. Alberto
João Jardim da Região Autónoma da Madeira

Passados 30 anos sobre a formação do primeiro governo
regional liderado pelo Dr. Alberto João Jardim, a Região
Autónoma da Madeira apresenta -se na actualidade com
um nível de desenvolvimento ímpar na história das regiões
insulares e ultraperiféricas.
A Região Autónoma da Madeira apresenta hoje um
visível e notável desenvolvimento económico -social, alicerçado
quer através do seu produto interno bruto, quer
através da melhoria real das condições de vida da sua
população, ostracizada e ignorada durante séculos pela
República Portuguesa.
Passados 30 anos a Madeira apresenta -se como um
exemplo de desenvolvimento económico com reflexos
positivos na qualidade de vida da sua população.
Toda esta obra, historicamente, tem um rosto e um
nome. Esse nome é o do Presidente do Governo Regional
da Madeira e líder do Partido Social -Democrata da
Madeira — Dr. Alberto João Jardim.
Um homem a quem a população da Madeira muito
deve pela firmeza das suas convicções e pela luta que
travou pela nossa Região e pelo seu povo, mas para com
o qual o povo madeirense foi sempre solidário e, apoiou
incondicionalmente, porque fiel ao seu pensamento de o
servir com a máxima lealdade.
Infelizmente a realidade é vista de forma deturpada por
uma minoria. Esses, os fundamentalistas da oposição, os
adeptos da política da terra queimada, ao longo destes
30 anos só vaticinaram desgraças para a Madeira e a sua
população.
Minoria que ainda não interiorizou o quanto de errado
são as suas políticas, sucessivamente rejeitadas pelo povo
madeirense, ao dar a maioria absoluta ao Partido Social-
-Democrata da Madeira e ao seu líder Dr. Alberto João
Jardim ao longo destes 30 anos.
Contudo, é com regozijo que vemos o reconhecimento
público da obra feita na Região Autónoma da Madeira
por figuras políticas do quadrante nacional, que mantêm
a equidistância necessária, não confundindo o Estado com
os partidos.
Corroboramos da sua visão quanto ao trabalho notável
e ímpar desenvolvido pelo Dr. Alberto João Jardim no
Governo Regional da Madeira, bem como das referências
elogiosas feitas à pessoa do Dr. Alberto João Jardim, qua-
lificando como um exemplo supremo na vida democrática,
um exemplo do que é um político combativo.
Assim:
A Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira,
nos termos da alínea a) do artigo 38.º do Estatuto
Político -Administrativo da Região Autónoma da Madeira,
conjugada com o artigo 166.º do Regimento, resolve aprovar
a presente resolução:
Regozijar -se pelo desenvolvimento alcançado pela Região
Autónoma da Madeira, em resultado dos 30 anos de
governação do Dr. Alberto João Jardim, superiormente
apoiado pelo povo madeirense.
Da presente resolução deverá ser dado conhecimento
ao Presidente da República, ao Presidente da Assembleia
da República e ao Primeiro -Ministro.
Aprovada em sessão plenária da Assembleia Legislativa
da Região Autónoma da Madeira em 22 de Abril de
2008.
O Presidente da Assembleia Legislativa, José Miguel
Jardim d’Olival Mendonça
.


quarta-feira, 7 de maio de 2008

INDISCRETAS NO PARTIDO LARANJA


Santana Lopes, em mais uma excelente composição de kaos



«O problema mais urgente é devolver ao PSD a "credibilidade" perdida”», declarou, de acordo com o senso mais comum, Manuela Ferreira Leite ao apresentar a sua candidatura

Mas o senso mais comum está decididamente arredado de muitas cabeças “bem pensantes”.
Assim, Santana Lopes (sem curar de saber quem contribuiu para tal quebra de credibilidade) afirmou, ontem, que se candidata à liderança do seu partido para,
«principalmente, ousar enriquecer Portugal», considerando que o país piorou com a governação do PS e não está condenado «ao fim das escalas».


Relativamente à língua pátria, creio que mais importantes que os recentemente discutidos problemas ortográficos, mais graves são as questões semânticas, com que deparamos cada vez mais.

Sem necessidade de invocar os clássicos,
“ousar enriquecer Portugal”
ainda é vulgarmente entendido como ter a coragem de tornar rico, aumentando valor e qualidade a Portugal, engrandecê-lo, enobrecê-lo.

Mas é evidente que só pode ter essa coragem, em consciência, quem tenha algo para oferecer, porque os cultive, esse valor e essa qualidade, com que paute a sua vida. Só quem for rico desses valores, só quem tenha essa enorme qualidade, só um espírito abnegadamente grande, de reconhecido e nobre carácter, pode estar em condições de, credivelmente, propor semelhante oferta.

Quererá o partido social-democrata convencer-nos que pretende que Portugal abandone o “fim das escalas” designando para seu líder alguém que se encontra na zona mais negra e negativa dos seus cotados?

Restaria, pois, uma séria dúvida, se não fosse sobejamente conhecido o oferente: ousadia ou impostura? Ou baixíssimo despudor?

Há pouco, na incubadora... O “menino guerreiro” terá, tão depressa, deixado a chupeta e o colo (e os colos, muitos; variados, apetecíveis, confortáveis, oferecidos – talvez algum conquistado), para se tornar de um comprovadamente irresponsável e incompetente e megalómano e desequilibrado e instável e palrador de inconsistente verborreia e madraço e incapaz, num exemplo de saudável cidadania, de impoluto rigor na conduta, de bandeira de liberdade e progresso?

Vê-se logo que não. E o bando do costume que o apoia (conquanto mais feridente, talvez mais ajustado: gang - mas também há que pesar se será excessivo corja) donde ressaltam nomes de enorme gabarito, como José Raul dos Santos e outros mais “
closed” e badalados, esclarecem o verdadeiro intento.
Menezes?
Menezes – que nem deu pela traição – de momento apenas confirma tratar-se de um candidato que “tem credibilidade”.

E estes cavalheiros exprimem-se desta forma com um ar sério, sem esboçar o mais leve sorriso.
Espantoso.

Não é o líder do PSD (PPD/PSD como o reivindicador da extensão da memória de Sá Carneiro prefere, acintosamente, dizer) que me consome, neste “transe”... Lá agora! Com esse “sofrimento” e excitação posso eu bem.

O que me preocupa é o país, já tão pelas ruas da amargura: já se imaginou um eventual primeiro ministro de Portugal saído do mundo da boémia, irresponsável e sem qualquer credibilidade?
Melhor: já viram bem o que era voltar a ter o “menino-guerreiro”, de novo, a governar Portugal a partir da incubadora?

Creio que os portugueses de qualquer credo, raça, ideologia e condição não vão consentir em tamanho vexame, em tão grande desprestígio.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

O SIMPÁTICO DECOTE































Não. O mundo não é apenas aquela mancha negra que os media, e algumas aves agoirentas, teimam em apresentar-nos.

Para além da própria natureza (em tantos casos feérica, em imagens ímpares), entre a massa humana encontramos bons motivos para nos alegrar e acalmar nosso
stress.

Nem sempre a moda acompanha os intentos mais naturais e íntimos da mulher - realce da sua beleza (quando ela exista, óbvio) - nem o encanto que o homem dela (moda) espera que nelas se realce.

Não é, de todo, o caso do recente (já nem tanto como isso) decote que, por mais que se vulgarize, não cansa.

E tanto faz falarmos de uma Angelina Jolie, como de uma Alexandra Lencastre, como de uma jovem anónima...
Salvo, sempre, as devidas “distâncias”, é bom sublinhar!

Mesmo os espíritos mais conservadores, entre elas, permitem alguns “pecadinhos”, como um decote moderno.

Na verdade, essa confluência, e até, muitas vezes, um pouco mais que essa mera e bem demarcada linha de convergência dos dois altivos seios da mulher, dão-lhe um encanto diferente, numa repousante (mas discreta, naturalmente) e aprazível imagem...

Não sabemos, nós os homens, se se trata de “vestido
evasé de zibelina de seda, decote bateau com pala e mangas longas bufantes de gazar” – como diria o estilista brasileiro – ou de que outra forma de catalogar a peça se fala. Sabemos, apenas (e elas “sabem que nós sabemos que elas sabem que nós sabemos”) que é uma “gracinha”, inocente e agradável.

Há os decotes que se revelam generosos e com grande exuberância, e os que se apresentam mais discretos.
Mas sempre “simpáticos”.

E quando não é um vestido ou uma
t-shirt que ela vista, mas uma camisa, ela não esquece que a peça deve ser, de preferência, branca, justa, sublinhando bem o corpo, com vários botões estrategicamente abertos!..
.
.
.
.
.
.
.

Bom, mas não era só essa simpática moda que eu queria, hoje, abordar no meu apontamento.
Mas algo que ela me fez recordar.

Aqui há tempos (não há muito... decorria a década de 50) tive no meu sétimo ano, como professor de Latim, o Padre Raul Machado.
(Latinista e linguista muito competente, viria, no segundo ano de existência da nossa televisão, 1958, a começar a apresentar, aí, um programa de sua autoria, a que chamou “Charlas Linguísticas”, de vasta e interessada audiência, que espicaçava a nossa cultura. Às Quartas-feiras, salvo erro).







O P Raul Machado, conquanto discreto, era pessoa aberta e nada dado a falsos pudores ou a moralismos bolorentos. Como todos (ou quase todos, já não me recordo exactamente) os padres, nesse tempo, ele usava sempre o seu fato preto e cabeção.
A minha turma (da então alínea E, do 3º ciclo do liceu) convidou vários dos seus professores, do colégio, para um jantar de finalistas. Entre eles o professor de Latim.
Recordo-me do nome de alguns desses professores, mas não me recordo de quais aceitaram estar presentes no repasto. Mas lembro-me muito bem que o P. Raul Machado declinou, muito delicadamente (era um Senhor) o convite. E a dada altura da conversa interpela-nos, ao grupo que, em nome da turma, o convidava, mais ou menos nestes termos: “e então onde vai ser o festim?” Ao que um de nós respondeu: “na Tia Matilde (restaurante então muito concorrido), no Rego”. E, muito pronto, acrescenta o reverendo professor, que até nem era muito dado a brejeirices: “bom, além do mais, além de não poder estar presente, devido a outros compromissos, vejam bem: não me ficava bem, a mim, ir ao rego da ti Matilde!... Ou não acham?”

domingo, 4 de maio de 2008

UM PESSOA TALVEZ MENOS CONHECIDO




Recentemente enviaram-me um poema de Fernando Pessoa, de 1907, quando ele andava nos 19 anos.
Poema em que assina como Alexander Search.

Alexander Search não é um heterónimo, segundo creio, pois não tem nada de autónomo relativamente a F Pessoa. Pelo contrário, tem tudo a ver com o autor, a começar pela data de nascimento, já que também Search nasceu a 13JUN1888. Pseudónimo, portanto.
Embora haja autores que se referem a este suposto nome (A Search) dizendo tratar-se de um dos vários heterónimos de Pessoa.
A heteronímia, porém, como estou em crer que corresponde ao rigor, consiste na criação, por parte de um autor, de novas entidades a que correspondem diferentes personalidades, cada qual com diferentes particularidades, diferentes actividades, com vida, qualidades, tendências e ciclos de vida próprios. (O que logo ressalta de Álvaro de Campos, de Ricardo Reis ou de Alberto Caeiro).

Fernando Pessoa adopta o pseudónimo de Alexandre Search provavelmente em 1906 e no ano seguinte criaria o pseudónimo francês Jean Seul. Dois dos muitos, e de diversas nacionalidades, pseudónimos/heterónimos em que o autor se multiplicava.

Ora, é de F Pessoa, enquanto Alexander Search, dos tempos dos ““English Poems” (obra publicada em três volumes, por uma sua editora, em 1921), que me deram a conhecer, recentemente, este seu poema:



Justiça

Segundo eu suponho, houve um país
Onde todos tinham torto o nariz.

E o nariz torto de cada um
Não entristecia, de modo nenhum

Mas neste país um homem nasceu
Com nariz direito e assim cresceu;

Os homens, por ódio, nesse país
Mataram o homem do belo nariz.

Alexander Search

1907


sábado, 3 de maio de 2008

ROMÂNTICOS









Recentemente, no Tiromante, um dos blogues do meu amigo RL, e um dos que visito todos os dias, ele deixou ali um vídeo dos Platters - "Smoke Gets In Your Eyes" – post que ele intitulou “ROMÂNTICOS” (e eu hoje repito), cujo texto se resumia à seguinte frase: “É sempre bom recordar”

moça dos anos 50,
quando “desperta” a feminilidade”

Deixei, então, o seguinte comentário:
«Ora se é bom recordar...
"Adormecer" nos braços delas, elas no nosso ombro...
Hoje é um ponto do "percurso" que está eliminado à partida: não há "entretantos"...
Avança-se logo para os "finalmente"...
Mas não me parece que dê melhor resultado
nem que sejam mais felizes...)»

Recuando a esses idos da minha adolescência, e lembrando-me daquele comentário, dei comigo a matutar sobre as enormes diferenças, nessa matéria, que distinguiam esses dias de “ontem” e os de “hoje”.

Talvez os (namorados) de hoje estejam mais certos: ver-te e ter-te nos braços e consumar todos os impulsos... É obra de um momento. O amor está ausente. Nem se sabe bem em que consiste. Haverá, talvez, uma espécie de paixão, quando há.

O que há é uma atracção de dois corpos que urge concretizar. Por vezes, apenas.

Não há
flirt, não há a “luta” da conquista, não há “mistérios” a desvendar aos bocadinhos quanto à substância, ao conteúdo, que está para lá do que qualquer olhar abarca, normalmente, ou do que uma eventual pequena “exploração” mais ousada, por vezes, revelava... Mesmo daquele que é visível na praia – o que já era um “avanço” extraordinário nos começos dos “ameaços”... E se não há a incerteza da conquista, não há, igualmente, o suspense da resposta...

Tudo acontece, hoje, em geral, como se de um interruptor se tratasse: clik e já está.

Talvez por isso, e porque depressa cansa o que não foi realmente conquistado, a prematura saturação... Daí a ansiedade de novas e diferentes experiências. Daí, talvez, uma certa instabilidade emocional que conduz a outros desequilíbrios.

Hoje vive-se centrado, apenas, no momento presente: cada instante é vivido, com intensa sofreguidão, numa plenitude em que tudo se realiza ou tudo se desfaz. Para lá desse fugidio instante, é a bruma mais cerrada. O absolutamente desconhecido.
Tudo é tão rápido e confuso que se torna inenarrável.
Não há lugar para o sonho. Não há tempo para reflectir. Não há espaço para a dúvida. Não é possível confirmar a certeza.
É o desencanto, a fugacidade, o desconforto, a morbidez, o egoísmo, a transitoriedade, o delírio, a indiferença total.
É o vazio.

Uma nota muito importante: estamos a comparar com os anos 50, na sua generalidade. A década de 60 estava lá ainda um bocado distante, como ainda havia que esperar, algum tempo, para que o cerco aos preconceitos, a uma moral de difícil explicação, quando não farisaica, ao fomento da regra do machismo e ao (conveniente) endeusamento da mulher como fada do lar, se fizesse e se libertassem...

Um outro disco dos “Platters”, o “Only you”, era, então, “o nosso” disco (para alguns dos jovens pares de namorados).
Compreendo o espanto, a incredulidade dos mais jovens...

Não estou certo de que fosse um defeito: mas é verdade que éramos, em geral, românticos.
O que não equivale a dizer que todos fôssemos ingénuos ou platónicos.


Para bastantes, o favorito era mesmo


The Platters - Only You (gravado em 1955)





sexta-feira, 2 de maio de 2008

“FALAM AOS OLHOS DO MENINO”




De tão pouco que sei, melhor é dizer que não sei nada: de Noel Nascimento apenas sei que nasceu no Estado do Paraná, Brasil, em 1925, e que, além de ter sido magistrado, é autor de muitos poemas, contos e romances.
E sei que tinha na minha “gaveta” um belo poema dele:


«Falam aos olhos do menino
campos e bosques em tons verdes
e nos tons das flores.
Cantam-lhe historinhas as nuvens,
passando imagens.
Ao entreabri-las
o Sol, exímio harpista,
no horizonte dedilha
as cordas de cores do Arco-Íris.»

quinta-feira, 1 de maio de 2008

DEPOIS SEGUIU-SE MAIO


... Seguiu-se Maio, e o eco da explosão da esperança de responsável liberdade que, dias antes, os cravos detonaram!...


...
Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.
.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
.
Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.
...

(excerto do longo poema «As Portas que Abril Abriu» de José Carlos Ary dos Santos, JUL/AGO 75)


 

Web Site Counter
Free Dating Services

/* ---( footer )--- */