Recentemente, no Tiromante, um dos blogues do meu amigo RL, e um dos que visito todos os dias, ele deixou ali um vídeo dos Platters - "Smoke Gets In Your Eyes" – post que ele intitulou “ROMÂNTICOS” (e eu hoje repito), cujo texto se resumia à seguinte frase: “É sempre bom recordar”
moça dos anos 50,
quando “desperta” a feminilidade”
quando “desperta” a feminilidade”
Deixei, então, o seguinte comentário:
«Ora se é bom recordar...
"Adormecer" nos braços delas, elas no nosso ombro...
Hoje é um ponto do "percurso" que está eliminado à partida: não há "entretantos"...
Avança-se logo para os "finalmente"...
Mas não me parece que dê melhor resultado
nem que sejam mais felizes...)»
Recuando a esses idos da minha adolescência, e lembrando-me daquele comentário, dei comigo a matutar sobre as enormes diferenças, nessa matéria, que distinguiam esses dias de “ontem” e os de “hoje”.
Talvez os (namorados) de hoje estejam mais certos: ver-te e ter-te nos braços e consumar todos os impulsos... É obra de um momento. O amor está ausente. Nem se sabe bem em que consiste. Haverá, talvez, uma espécie de paixão, quando há.
O que há é uma atracção de dois corpos que urge concretizar. Por vezes, apenas.
Não há flirt, não há a “luta” da conquista, não há “mistérios” a desvendar aos bocadinhos quanto à substância, ao conteúdo, que está para lá do que qualquer olhar abarca, normalmente, ou do que uma eventual pequena “exploração” mais ousada, por vezes, revelava... Mesmo daquele que é visível na praia – o que já era um “avanço” extraordinário nos começos dos “ameaços”... E se não há a incerteza da conquista, não há, igualmente, o suspense da resposta...
Tudo acontece, hoje, em geral, como se de um interruptor se tratasse: clik e já está.
Talvez por isso, e porque depressa cansa o que não foi realmente conquistado, a prematura saturação... Daí a ansiedade de novas e diferentes experiências. Daí, talvez, uma certa instabilidade emocional que conduz a outros desequilíbrios.
Hoje vive-se centrado, apenas, no momento presente: cada instante é vivido, com intensa sofreguidão, numa plenitude em que tudo se realiza ou tudo se desfaz. Para lá desse fugidio instante, é a bruma mais cerrada. O absolutamente desconhecido.
Tudo é tão rápido e confuso que se torna inenarrável.
Não há lugar para o sonho. Não há tempo para reflectir. Não há espaço para a dúvida. Não é possível confirmar a certeza.
É o desencanto, a fugacidade, o desconforto, a morbidez, o egoísmo, a transitoriedade, o delírio, a indiferença total.
É o vazio.
Uma nota muito importante: estamos a comparar com os anos 50, na sua generalidade. A década de 60 estava lá ainda um bocado distante, como ainda havia que esperar, algum tempo, para que o cerco aos preconceitos, a uma moral de difícil explicação, quando não farisaica, ao fomento da regra do machismo e ao (conveniente) endeusamento da mulher como fada do lar, se fizesse e se libertassem...
Um outro disco dos “Platters”, o “Only you”, era, então, “o nosso” disco (para alguns dos jovens pares de namorados).
Compreendo o espanto, a incredulidade dos mais jovens...
Não estou certo de que fosse um defeito: mas é verdade que éramos, em geral, românticos.
O que não equivale a dizer que todos fôssemos ingénuos ou platónicos.
Para bastantes, o favorito era mesmo
The Platters - Only You (gravado em 1955)
Talvez os (namorados) de hoje estejam mais certos: ver-te e ter-te nos braços e consumar todos os impulsos... É obra de um momento. O amor está ausente. Nem se sabe bem em que consiste. Haverá, talvez, uma espécie de paixão, quando há.
O que há é uma atracção de dois corpos que urge concretizar. Por vezes, apenas.
Não há flirt, não há a “luta” da conquista, não há “mistérios” a desvendar aos bocadinhos quanto à substância, ao conteúdo, que está para lá do que qualquer olhar abarca, normalmente, ou do que uma eventual pequena “exploração” mais ousada, por vezes, revelava... Mesmo daquele que é visível na praia – o que já era um “avanço” extraordinário nos começos dos “ameaços”... E se não há a incerteza da conquista, não há, igualmente, o suspense da resposta...
Tudo acontece, hoje, em geral, como se de um interruptor se tratasse: clik e já está.
Talvez por isso, e porque depressa cansa o que não foi realmente conquistado, a prematura saturação... Daí a ansiedade de novas e diferentes experiências. Daí, talvez, uma certa instabilidade emocional que conduz a outros desequilíbrios.
Hoje vive-se centrado, apenas, no momento presente: cada instante é vivido, com intensa sofreguidão, numa plenitude em que tudo se realiza ou tudo se desfaz. Para lá desse fugidio instante, é a bruma mais cerrada. O absolutamente desconhecido.
Tudo é tão rápido e confuso que se torna inenarrável.
Não há lugar para o sonho. Não há tempo para reflectir. Não há espaço para a dúvida. Não é possível confirmar a certeza.
É o desencanto, a fugacidade, o desconforto, a morbidez, o egoísmo, a transitoriedade, o delírio, a indiferença total.
É o vazio.
Uma nota muito importante: estamos a comparar com os anos 50, na sua generalidade. A década de 60 estava lá ainda um bocado distante, como ainda havia que esperar, algum tempo, para que o cerco aos preconceitos, a uma moral de difícil explicação, quando não farisaica, ao fomento da regra do machismo e ao (conveniente) endeusamento da mulher como fada do lar, se fizesse e se libertassem...
Um outro disco dos “Platters”, o “Only you”, era, então, “o nosso” disco (para alguns dos jovens pares de namorados).
Compreendo o espanto, a incredulidade dos mais jovens...
Não estou certo de que fosse um defeito: mas é verdade que éramos, em geral, românticos.
O que não equivale a dizer que todos fôssemos ingénuos ou platónicos.
Para bastantes, o favorito era mesmo
The Platters - Only You (gravado em 1955)
2 comentários:
Importa-me lá que seja "velho"...
Nunca abdiquei de ser "romântico" e de praticar,até onde me é possível.
Mesmo na adolescência,respeitei sempre as miúdas.
Gostei das suas palavras sábias e,ao que vou assistindo,não me parece que as "mulherzinhas" de hoje se sintam mais felizes.
Hoje fala-se muito no "tempo" que as coisas demoram.
Calculo que o romantismo da nossa juventude seja,para eles e para elas,uma grande séca!
Demora tanto tempo...
E,ainda por cima,esse "tempo" não dá dinheiro...
Ao que sei,do nosso "machismo" não havia razão de queixas.
Elas sempre foram as nossas Raínhas.
Que VIVAM AS MULHERES!
Gostei muito.
Há ainda, em alguns novos, outra espécie de romantismo, acho que é intrínseco da natureza humana...
Mas é toda uma época diferente, de estímulos e pressas.
Abç
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