sábado, 20 de outubro de 2007

O TRATADO DA MADRAGOA/MOSCAVIDE



Vai longe a Europa de Monnet, Schumann e De Gasperi. A Europa do consenso e da igualdade.

Mas passados tantos anos, testadas tantas experiências, feitos tantos discursos, produzidas tantas normas... O que é, afinal, hoje a Europa. Antes: a União Europeia?
Para além de uma zona de comércio livre e de uma instituição de burocratas, sim, o que é hoje a UE?


Talvez sejam em maior número os eurocépticos do que os “eurófilos”.
O eurocepticismo prende-se com o receio de um Estado federal.
As várias pátrias seculares, contruídas a pulso por velhos independentistas e forjadas em ferozes confrontos bélicos e nessa amálgama de vontades, sangue, conquista e traições vão lá agora confiar em vizinhos de quem sempre desconfiaram e a quem, não raro, disputaram o poder?!

E houve europeístas com mais precisos e marcantes objectivos, como “a obsessão gaullista, retomada por Chirac e Giscard, de uma Europa superpotência competindo com os EUA” – recorda hoje Pacheco Pereira

A verdade, actualmente, é que o novo Tratado vem reforçar a posição dos maiores países, dos mais populosos.

Aliás, explica de novo PP, “nenhum tratado alterará uma Europa que hoje se concentra numa França mais proteccionista e numa Alemanha que já não precisa de ninguém (ou seja, da França) para ter uma política externa própria e quer uma Europa ao modelo dos seus Länder”.
Daí que, segundo o mesmo historiador, o presente tratado se destine “apenas a encontrar uma solução de poder para que este permaneça do lado do "motor" franco-alemão, impedindo-o de se dissolver no Leste, onde há demasiado americanismo, liberalismo, instabilidade, questões nacionais por resolver e fronteiras muito, muito incómodas, e num Reino Unido com os mesmos pecados, menos a instabilidade e as fronteiras”.

Mas perante este quadro, de grandes “figurões” da política europeia, caberá perguntar: por que luta, por que se bate um pequeno país como Portugal?
Não acredito, não é possível que seja, apenas, pela provinciana prosápia de dar o nome a um documento...

E aí, pese embora o meu espanto, estou de acordo com José Manuel Fernandes: “aquilo que os portugueses exigem de Sócrates e do líder da oposição”, “é que lhes expliquem o que, como pequeno país, ganhámos num acordo que é desfavorável aos pequenos países. Um acordo que retira poderes da Comissão Europeia (o habitual "advogado" dos pequenos) para os entregar a um Conselho e a um Parlamento Europeu onde o peso dos grandes será muito maior do que é hoje”.

De acordo com a analista Isabel Arriaga e Cunha, o espectro que se temia (teme) era o do Conselho de Ministros da EU. E explica: “Será sobretudo na formação de "minorias de bloqueio" das decisões (...) que o novo peso dos grandes mais se fará sentir: os quatro países tidos como os "forretas" no plano orçamental - Alemanha, Reino Unido, Holanda e Suécia - poderão sempre bloquear qualquer decisão na matéria, o que não acontece com as regras actuais. Esta é uma má notícia para os países fortemente dependentes das transferências europeias, como Portugal”.

“Uma certa "Europa" (ou, se quiserem, uma facção de "eurófilos" sem conserto) sonha em se transformar numa grande potência, capaz de equilibrar a América e de moderar a Rússia” – conclui, agreste, Vasco Pulido Valente.

Ah, mas para concluir mesmo, não posso deixar de trazer para aqui uma tirada soberba de Pacheco Pereira: “Os europeístas tecnocráticos são outras variantes de gente contente. Eles acreditam que a racionalidade europeia é superior à das nações e tem uma certa razão prática. Os burocratas, se deixados à Lei de Parkinson, tratarão em primeiro lugar de si próprios, tratarão de alargar a burocracia, mas em seguida combaterão aquilo que acham ser a "incompetência" dos políticos. Está tudo no Sim, Senhor Primeiro-Ministro esse compêndio televisivo da democracia real. Combaterão a política e essa impureza para a dignidade do bom governo que são as eleições e os votos. Eles produzirão milhares de leis, regras, regulamentos, directivas, estudos, pareceres, notas de orientação, produtos do puro saber burocrático regulamentador, que, para além da pequena pecha de implicarem sempre mais burocratas, mais escritórios, mais "agências", são produtos iluminados de um mundo perfeito onde os barcos têm duplo casco, o silicone mamário é resistente, tudo é biodegradável, as ovelhas têm transporte adequado, os peixes estão protegidos dos pescadores, a carne, as maçãs, o vinho, o queijo, estão isentos de todas as doenças conhecidas, são inodoros, não têm sabor, brilham em embalagens etiquetadas como deve ser, e os trabalhadores devem ser muito bem tratados pelo "modelo social europeu", menos os canalizadores polacos. Centenas de Sir Humphreys no topo e milhares de Bernards na hierarquia garantem esta Europa.”

Nem mais: o mundo é cada vez mais talhado à medida dos burotecnocratas.

1 comentário:

aminhapele disse...

Está-se porreiro,pá!

 

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