Eça de Queirós, de novo.
Nascido em 1845, em 1866 Eça forma-se em Direito, em Coimbra, mudando-se, então para Lisboa onde passa a cumular o exercício da actividade de advogado com a de jornalista. É nesta condição que, em 1867, assume a direcção do periódico "O Distrito de Évora". Temos, pois, então o jovem Eça, com 22 anos (!) a assinar este breve mas denso artigo. E que maturidade que ele revela!
Mas, lendo nós nos livros que a segunda metade do séc. XIX foi uma época de ouro em matéria de paz e de progresso (bastando referir esse nome grande do desenvolvimento do país que se chamou Fontes Pereira de Melo), não só vejo aqui um Eça bem exigente relativamente a um país real, profundo, pelos vistos bem diferente do de certas crónicas, como sobretudo vejo nele um espírito premonitório, intemporal, que quadra às maravilhas nos dias e na realidade política que hoje vivemos.
Ouçamo-lo:
«Política de acaso, política de compadrio, política de expediente
Ordinariamente todos os políticos são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?» Em "O Distrito de Évora", em 1867
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