terça-feira, 22 de dezembro de 2009

“CENTRAL DE NEGÓCIOS”

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«A atmosfera continua carregada. Afinal de contas,
as eleições foram apenas um intervalo no ciclo,
já quase banal, de casos judiciais envolvendo actores
políticos, negócios pouco claros, jogos de influência
e acusações de corrupção. Parece mesmo que existem
ao mesmo tempo dois governos. Um público, que aparece
à vista de todos no Parlamento ou na televisão, a discutir
com a oposição ou a anunciar medidas. Outro oculto,
que longe dos olhares públicos intervém no mundo dos negócios,
capta financiamentos, influencia decisões empresariais.
Qual dos dois é o verdadeiro? Um e outro não estão distantes
quanto parecem. Não só a influência do Governo oculto se
estende aos negócios dos media como a propaganda do Governo público
se tornou num formidável instrumento de ocultação.
O problema de fundo é político - e ético.»

Miguel Gaspar, “O Governo Oculto”, in Público, TR 10.11.2009
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Qual “donzela” de duvidosa pudicícia, mas que quer passar por cândida e respeitável criatura, o ministro Silva Pereira, no “Prós e Contras” de 9 de Novembro último, não gostou, achando-o ofensivo e deselegante, que Aguiar Branco tivesse referido o governo como “central de negócios”. Bom, deselegante… Talvez. Estou em crer que poderia ter adocicado a expressão.
Mas lá que é o que a maioria das pessoas – mesmo as melhores intencionadas e as de maior tento na língua – pensam… Isso creio estar fora de dúvidas.
Mesmo tendo dado a volta ao quarteirão dos conceitos, da sintaxe e das boas maneiras, Miguel Gaspar, no dia seguinte, se logrou fugir à expressão, não conseguiu escapar ao seu conteúdo ao referir-se ao governo público e ao oculto.

Aliás, e sem mais rodeios, já na legislatura anterior, e relativamente à AR dominada por maioria do partido que ora nos governa de novo, dizia então Paulo Morais, no JN de 4.2.09: o Parlamento, que “deveria ser o coração da democracia (…) transformou-se numa central de negócios, ao serviço de quem domina os directórios partidários”.
Claro que o tiro daquele colunista tinha vários destinatários, mas atingia, em cheio o, então e agora, partido do governo.

Não vale a pena tentar escamotear o problema com base no vocabulário utilizado ou ludibriar o cidadão atento e responsável: ele sabe bem distinguir quem serve a República de quem se serve dela. Ele não tem dúvida de quem unicamente possui o mérito que lhe atribui o cartão de militante partidário. Ou de quem o faz prevalecer. Que, logo se vê, é coisa que só com a lealdade partidária tem algo a ver, não com os superiores interesses nacionais.

A democracia não pode pactuar com tais critérios. Tem de os denunciar e combater.
Urge, pois, criar mecanismos que os penalize de forma frontal, pesada e exemplar.

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1 comentário:

aminhapele disse...

Parece uma intrigalhada dos pequenos e médios invejosos...
Que diabo,a mala não chegou a eles ou a que têm já não lhes chega?!
Será que um sobrinho-neto da porteira do Sócrates,algures no Cazaquistão,é que é o dono da mala?!

 

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