Hoje é impossível deixar um flash fugidio: é preciso fazer uma séria reflexão.
«Vivemos o mais sombrio 25 de Abril depois daquele que há 37 anos» comemorámos euforicamente.
Conjugando esta sensação ontem transmitida por Boaventura Sousa Santos com as sombras que cada vez mais se adensam sobre o regime, como têm, transversalmente, opinado tantos e tantos cidadãos, é altura de sossegarmos o ministro das Finanças lembrando-lhe onde pode cortar mais (passe a ironia).
Não é por muito se ter batido nessa tecla que, governo e “sus muchachos”, deste PS mais os seus neoliberais gémeos do PSD, se convenceram mesmo que o povo não é mentecapto. Nem lhes convém interiorizar isso, antes bem ao contrário.
E quando virá o dia em que seremos capazes de afirmar: acabou o recreio e o receio?
É que o povo está com os olhos abertos e disposto a tudo para mudar o rumo de toda a espécie de abusos a que vai assistindo.
E todos os “governantes” (ou seja - na sua quase totalidade e de uma forma geral - os que se governam) falam vagamente em cortes de despesas, sem as identificar, e em aumentos de impostos.
Mas porque não aceitam eles a sugestão das reduções com as mordomias dos três ex-Presidentes da República (gabinetes, secretárias, adjuntos, assessores, suportes administrativos, carros e motoristas) com o que suponho eles (dois, pelo menos) concordariam face ao momento que se vive?
Assim como a sugestão de diminuição de deputados e o fim das escandalosas mordomias que lhes respeitam?
Assim como a sugestão de acabar com as “baldas” e os gastos desnecessários em que se traduz a manutenção das centenas de Institutos e Fundações públicos?
E porque não acabar com as empresas municipais cujo alcance parece ser apenas o de aumentar os proventos de alguns funcionários municipais?
Porque não se procede a uma reforma drástica das Câmaras e das Assembleias municipais que nem, pelo menos, a do Mouzinho da Silveira em 1821?
Simultaneamente, porque não se aproveita para reformular o número das Juntas de Freguesia e não se acaba com as senhas de presença?
E na mesma onda porque se não põe termo à distribuição de carros a presidentes e assessores das Câmaras assim como à contratação de motoristas particulares 20 h/dia, com o agravamento de horas extraordinárias, na sua generalidade para uso em funções não oficiais?
E não será tempo de acabar com as frequentes e escandalosas renovações da frota automóvel nos organismos públicos? E já agora de colocar chapas de identificação de serviço público para refrear ânimos e evitar escândalos nas utilizações dos mesmos?
Não será tempo de acabar com iguais escândalos que se verificam com as frequentes deslocações de avião, em classe executiva, e com instalações em hotéis de 5 estrelas quando, entre os contribuintes, alguns não têm uma morada condigna?
Não será de pôr termo, quanto antes, aos milhares de pareceres jurídicos, caríssimos, pagos sempre aos mesmos escritórios que têm canais de comunicação fáceis com o Governo, no âmbito de um tráfico de influências que há que criminalizar, autuar, julgar e condenar.
Não será de pôr termo às obscenas reformas que premeiam escassa e fugaz dedicação a instituições oficiais, muitas delas cumulativas?
Não será de controlar seriamente os gastos de muitos milhões com o serviço público de televisão que resultam, sobretudo, para pagar salários milionários a alguns dos seus funcionários?
Não será já tempo, desde há muito, de acabar com o regabofe da pantomima das PPP (Parcerias Público Privado), que mais não são do que formas habilidosas de uns poucos patifes se locupletarem com fortunas à custa dos papalvos dos contribuintes, fugindo ao controle seja de que organismo independente for e fazendo a "obra" pelo preço que "entendem"?
Não será altura de “Criminalizar, imediatamente, o enriquecimento ilícito, perseguindo, confiscando e punindo os biltres que fizeram fortunas e adquiriram patrimónios de forma indevida e à custa do País,
manipulando e aumentando preços de empreitadas públicas, desviando dinheiros segundo esquemas pretensamente "legais", sem controlo, e vivendo à tripa forra à custa dos dinheiros que deveriam servir para o progresso do país e para a assistência aos que efectivamente dela precisam”?
Quando se aplica a lei, rigorosamente, para não deixar um único malfeitor de colarinho branco impune fazendo com que paguem efectivamente pelos seus crimes, adaptando o nosso sistema de justiça a padrões civilizados, onde as escutas VALEM e os crimes não prescrevem com leis feitas à medida e à pressa?
Quando é que finalmente se aplica e cumpre a lei no respeitante à promiscuidade entre os Ex-ministros e as suas ex-tuteladas?
Quando chega o dia de os contribuintes receberem de volta os milhões que taparam o buraco do BPN e do BPP?
E porque vem a talhe de foice, quando se virá a exigir a Rendeiros, Loureiros, Oliveiras e Costa, Varas e outros que tais que, não tendo onde caírem mortos, de início, de repente se encheram mediante ilegalidades, truques e artimanhas – quando se lhes pedirão contas?
Quando se deixará de poupar os banqueiros e se lhe exigirá que cumpram os seus deveres relativamente aos milhões de lucros das suas instituições?
Como vêem, senhores (maus) representantes do povo e senhores (maus) governantes… O que não falta é matéria para corrigir e enfileirarmos por um país de gente decente e feliz!
Projecto original ideal do 25 de Abril, quem não se recorda da célebre trilogia dos três “D”: descolonizar, democratizar e desenvolver?
O projecto ainda está nas covas: descolonizar cumpriu-se, para desgosto de alguns: mas levámos a que as diversas independências florissem perdendo o estatuto de colónias. Porém, em matéria de democratizar retrocedemos, assim como na de desenvolver.
No fundo, ABRIL CONTINUA POR CUMPRIR.
VAMOS EXIGIR QUE SE CUMPRA ABRIL!
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1 comentário:
Muitos cumpriram Abril. No seu dia a dia. Muitos têm benefícios inimagináveis; e falo dos que menos tinham.
Mas não chegou nem chega.
Tudo o que apontas são "facilidades" e mordomias - ganhas sabe-se lá como - ou sabe - que deveriam ser cerceadas: diria mesmo "cortar as unhas rentes" como diria a minha avózinha.
Só por justiça e equidade.
Abçs da bettips
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