terça-feira, 29 de abril de 2008

A GERAÇÃO DE 60 E ABRIL





Tem alguma razão, de facto a “pequena” – comentava eu com um amigo meu sobre a coluna, de hoje, de Helena Matos no Público: «A ignorância da juventude é um espanto!»

A “minha anticomunista primária preferida” (a originalidade da expressão é desse meu amigo, e eu adoptei-a de imediato, mas respeitando-lhe o direito de autor) tem alguma razão, dizia eu. Alguma, se nos quisermos cingir à matéria relevada.
«A geração de 60 é uma geração que tem pouco de que se orgulhar em Portugal. Os de direita não foram capazes de reformar o regime. Os de esquerda não foram capazes de acabar com ele» - sentenciou ela.

A geração de sessenta não tem tão pouco, assim, de que se orgulhar em Portugal, penso eu.
Verdade que a direita não foi capaz de reformar o regime. Além de não ter capacidade para isso – tudo o leva a crer -, não tinha, sobretudo, vontade de o fazer.
Aí, sim, tem razão. Agora quanto à incapacidade de a esquerda o derrubar, aí não tem completa razão: foi em 60 que o regime começou a ser mais seriamente minado. É que derrubar um regime como o do Estado Novo, não é tarefa fácil, como qualquer iniciado em política aceitará. Mas que foi a geração aí (nesses idos) formada que o derrubou na década seguinte... É um facto. E mais: se essa derrocada acabou por ser empreitada mais fácil do que alguém imaginaria, foi porque a acção foi bem preparada e melhor planeada pelos tais bravos soldados, os tais jovens oficiais que, com o gérmen revolucionário de 60, a levaram a cabo.

A colunista tem uma fértil imaginação, mas alguma falta de substrato: nunca me apercebi (e fui testemunha e “actor” desse tempo e desse “palco”) de que essa geração tivesse imaginado “que iria ser eternamente jovem e adorada”, nem que presumisse, com a segurança que ela leva a supor, “que não iria cometer os erros das anteriores”, embora proclamasse que o tentaria a todo o custo.
Essa geração, de facto, “não entende nem aceita que o seu legado” tenha sido “contestado”, mas comprende (com mágoa, é certo) que tenha sido “ignorado”. E entende porque, vivendo os tempos que correm, vê quem lidera na política com maior eficácia e quem nos governa: uma pseudo-esquerda, uma espécie de partido socialista que acamarada e faz o jogo da direita.

A principal revolução que se operou em 60, foi a das mentalidades. Essa é que foi importante. Uma autêntica operação de sanidade mental. E tanto assim que, basta atentar em como a geração de sessenta foi o diabo em figura de gente que apareceu, a fazer-lhe frente e barreira, às gentes de direita, conservadoras, empedernidamente retrógradas e comprovadamente defensoras, porque praticantes, de um repugnante falso moralismo.

Não é preciso alinhar em qualquer raciocínio maniqueísta para atentar que entre a enorme massa de aderentes ao espírito de 60 e depois ao de Abril, havia os genuínos, os conversos e os camaleões, como em qualquer revolução que se desencadeie no mundo dos humanos.

Ou não conhecemos todos, por exemplo, aqueles radicais esquerdelhos que então usavam um palavreado explosivo contra os “capitalistas despudorados”, e hoje se acolhem, e aí prosperam, nessa coutada da direita que foi crescendo com a complacência (senão, mesmo, o apoio) de uma autoproclamada, mas incoerente e farsante “esquerda”, e que construiu uma calculada e conveniente globalização?

Exactamente: falo de Abril e de muitos camaleões que oportunisticamente passaram de assanhados anticapitalistas a militantes conservadores e neoliberais, muito alegre e proveitosamente.

Será que a “marota” da colunista também começou, no ocaso da sua adolescência, por ser uma esquerdista feroz e, virada a casaca, hoje assesta as suas baterias contra a esquerda?

Não seria o primeiro caso. Nem, seguramente, o último.

Mas isso é com cada um.
O que esquerda tem, entre outras coisas, é uma grande tolerância.
Isso, sim.


6 comentários:

aminhapele disse...

Ora aí está de volta a prosa da nossa querida HM,jornalista lacoste e,já nem me lembro da autoria,da famosa geração rasca!
A senhora está cheia de confusões naquela cabecinha.
Eis como termina a sua prosa:
"...Mas talvez seja tempo de falarmos sobre o que fizeram e o que nos fica como legado daqueles que um dia,em meados do século XX,juraram e acreditaram que nunca iam deixar de ser jovens."
De quem é que a senhora estará a falar?!
Não conheço alguém que tenha feito tal juramento!
Mas legado,pelo menos um,é evidente:
A senhora tem o direito de escrever os disparates que lhe apetecem e ainda lhe pagam para tal!!!
E nós,por enquanto,vamos comprando o jornal.
Mas isso diverte-nos,minha querida HM!
Qual será o seu legado?!

bettips disse...

Estava eu aqui com os meus botões/teclas.. e eis senão quando, direitinho, alinhadinho em todas as opiniões, indignado que chegue,
o meu amigo deixou-me duas mágoas: 1ª) não ter lido a "coluna"; 2ª) para poder gostar "ainda mais" do que dizes!
(já para mim e como sabeis, a tolerância é zero, vão zurzir quem tem de o ser! Por ex. a dama de ferro e os seus semelhantes que andaram sempre com o poder ao colinho para o terem bem preso...)
Abraços

bettips disse...

...não há dúvida que "somos filhos da madrugada" e o resto que se lixe!
Mais um abraço aí "na pele"!

José Ricardo disse...

Sabe, o problema do 25 de Abril foi ter ocorrido em Portugal.

O 25 de Abril teria sido sempre bom onde quer que ocorresse. Ou seja, é intrinsecamente bom. Mas há coisas que, sendo boas, sendo em Portugal, nunca serão tão boas como se tivessem sido noutros sítios. Imagine, por exemplo, o plano Marshall em Portugal...

Portanto, o problema não está na esquerda nem na direita, na geração de 60 ou na geração de70. É tudo uma questão de genética!

JR

Unknown disse...

A esquerda bem tentou que o País fosse mais justo e solidário. E ainda se acreditou que conseguisse, tais foram os avanços que se fizeram. E alguns "restos" ainda perduram. Mas não teve força, tantas foram as resistências interiores e exteriores, como sabemos. E ela também sabe. E está contente! Tão contente que se permite escrever assim.Tens razão, ZL. Carlos

Jorge Carreira Maia disse...

Caro JLF,

Há uma geração de pseudo-liberais, de que a senhora em referência faz parte, gente relativamente nova, mas não tanto quanto isso, e de uma pesporrência infinita. Habitam na blogosfera e debitam certezas como a velha cassete do PC. Muitos deles a única coisa que têm de sólido é o ódio à liberdade, fundamentalmente à dos outros. Detestam, enquanto bons liberais, aqueles meses de PREC, que foram uma espécie de ajuste de contas. Mas são incapazes de denunciar a falta de liberdade existente antes do 25 de A.

Seja como for, há algumas coisas que estes indivíduos têm dificuldade em aceitar. O 25 de Abril é mesmo uma data histórica para Portugal. Por dois motivos: 1. permite a instauração pela 1.ª vez no país de uma verdadeira democracia representativa; 2. Implica, devido ao desfecho da questão colonial, uma alteração na orientação política do país: de África para a Europa. O 25 de Abril é também um marco na história mundial: é ele que dá início à 3.ª vaga de democratizações que se prolonga pelo Leste Europeu e pela América Latina.

Nada disto tem a ver com a moral. Mas esses senhores são profunda e insipidamente moralistas.
O 25 de Abril não foi asséptico. A História é sempre suja. Mas aquilo que está em causa nestes pseudo jovens intelectuais não é um olhar distanciado e objectivo. A única coisa que está em causa é o ressentimento dos derrotados que querem vingar-se da história (mesmo que não o sejam pessoal ou familiarmente, embora muitos o sejam). Estes discursos são os discursos de gente ressabiada com o facto de o belo mundo do professor Caetano ter caído.

Abraço,
JCM

 

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