quarta-feira, 9 de julho de 2008

DE NOVO: ESQUERDA/DIREITA

selo postal em memória da filósofa germano-americana



Voltando à questão da velha dicotomia, esquerda/direita, lembrei-me de uma colherada que meti (respeitosamente e a medo) num post do filósofo Jorge Carreira Maia (JCM). Isto já lá vai mais de um ano.

Carreira Maia deixava-nos, no seu blogue “A VER O MUNDO” um tópico da sua reflexão acerca d “
O ESTADO, A POLÍTICA ESQUIZÓIDE E A JUSTA MEDIDA”.

Eu, coitado de mim, que de filósofo não tenho nada, nem a arte nem, muito menos ainda, o saber, mas porque me vira envolvido numa querela acerca da matéria, dias antes, afoitei-me a meter a foice nesta complicada seara.

E comentei:

“Há dias fui apanhado de surpresa. Daí este atrevimento.
Parece-me redutora e drástica a delimitação da área das tradicionais esquerda e direita confinando-a à “querela liberal-marxiana”... No fundo, é muito isso. Mas de há muito que não é só.
Então o discurso político na visão da filósofa prussiana (vg, em A Condição Humana), no que aos tais rótulos se refere, é inócuo? Tem de confinar-se àquela “querela” o esforço que cada um dos contendores põe no duelo em que pretende persuadir o outro, impor-lhe a sua opinião e arrebatar-lhe a admiração? Ou foge da tal classificação? Ou terá de rotular-se de centrista?
Ficam-me dúvidas...

(Curioso é que, sem querer, me deixei envolver, recentemente, em tal discussão entre dois caloiros da faculdade de Direito, da Clássica.) (E vi-me aflito para segurar as pontas...) ”

Ao que JCM contrapôs:
“A esquerda e a direita são anteriores cronologicamente falando à querela liberal-marxiana. Mas serão anteriores logicamente? A lógica inerente à divisão do «parlamento» francês em esquerda e direita não seria já a que está presente no iluminismo escocês e em Marx?É certo que houve tentativas de fugir à querela, mas não foram ao centro que elas existiram, mas no nazismo e no fascismo italiano. Também Salazar tentou fugir à querela. Não por ser fascista, não o era (por muito que isso incomode a demagogia política. Salazar era um anti-revolucionário, coisa que não era partilhada por Hitler e Mussolini), mas por ser anti-liberal e anti-marxista, tentando uma espécie de fuga para o passado e o tradicionalismo, cruzado com um sonho imperial. Mas em Salazar foi apenas uma tentativa, acabou por proteger as forças económicas que estariam na base do "liberalismo" económico português.”

Aí, respondi:
“Recordo dois registos:
"No fundo, é muito isso."
"E vi-me aflito para segurar as pontas..."
Creio que chega.
Mas gostei, porque lhe ofereci a deixa para uma boa "exposição de motivos", que no meu tempo se chamava "alegação".Claro que ainda não acabou a discussão sobre como caracterizar o salazarismo... E nem estou minimamente preocupado com o incómodo que tal debate possa trazer à "demagogia política", já que adoro que ela seja incomodada.Demais, e no que à velha e tradicional dicotomia concerne, ela aí está para durar na oralidade e na escrita mais comuns. Pese embora a apreciação do fenómeno em níveis mais elevados ou na retórica coxa dos tais demagogos (por razões opostas, como não podia deixar de ser: nos primeiros por mor do rigor, nos outros, de certas conveniências oportunistas)
Mas gostei.E nem pretendo pedir meças, note-se.”


Já agora…
Creio que a arrumação política em esquerda e direita é mais remota que a invocada Revolução Francesa de 1789.
Costumam referir-se dois eventos de assinalável significado em que aquela vai entroncar: a vitória da representatividade sobre o absolutismo, com a Glorious Revolution ou Revolução de 1688, no reinado de Jaime II, cujas raízes se podem encontrar, por sua vez, na assinatura da Magna Carta, por João Sem Terra em 1215.




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