Voltando à questão da velha dicotomia, esquerda/direita, lembrei-me de uma colherada que meti (respeitosamente e a medo) num post do filósofo Jorge Carreira Maia (JCM). Isto já lá vai mais de um ano.
Carreira Maia deixava-nos, no seu blogue “A VER O MUNDO” um tópico da sua reflexão acerca d “O ESTADO, A POLÍTICA ESQUIZÓIDE E A JUSTA MEDIDA”.
Eu, coitado de mim, que de filósofo não tenho nada, nem a arte nem, muito menos ainda, o saber, mas porque me vira envolvido numa querela acerca da matéria, dias antes, afoitei-me a meter a foice nesta complicada seara.
E comentei:
“Há dias fui apanhado de surpresa. Daí este atrevimento.
Parece-me redutora e drástica a delimitação da área das tradicionais esquerda e direita confinando-a à “querela liberal-marxiana”... No fundo, é muito isso. Mas de há muito que não é só.
Então o discurso político na visão da filósofa prussiana (vg, em A Condição Humana), no que aos tais rótulos se refere, é inócuo? Tem de confinar-se àquela “querela” o esforço que cada um dos contendores põe no duelo em que pretende persuadir o outro, impor-lhe a sua opinião e arrebatar-lhe a admiração? Ou foge da tal classificação? Ou terá de rotular-se de centrista?
Ficam-me dúvidas...
(Curioso é que, sem querer, me deixei envolver, recentemente, em tal discussão entre dois caloiros da faculdade de Direito, da Clássica.) (E vi-me aflito para segurar as pontas...) ”
Ao que JCM contrapôs:
“A esquerda e a direita são anteriores cronologicamente falando à querela liberal-marxiana. Mas serão anteriores logicamente? A lógica inerente à divisão do «parlamento» francês em esquerda e direita não seria já a que está presente no iluminismo escocês e em Marx?É certo que houve tentativas de fugir à querela, mas não foram ao centro que elas existiram, mas no nazismo e no fascismo italiano. Também Salazar tentou fugir à querela. Não por ser fascista, não o era (por muito que isso incomode a demagogia política. Salazar era um anti-revolucionário, coisa que não era partilhada por Hitler e Mussolini), mas por ser anti-liberal e anti-marxista, tentando uma espécie de fuga para o passado e o tradicionalismo, cruzado com um sonho imperial. Mas em Salazar foi apenas uma tentativa, acabou por proteger as forças económicas que estariam na base do "liberalismo" económico português.”
Aí, respondi:
“Recordo dois registos:
"No fundo, é muito isso."
"E vi-me aflito para segurar as pontas..."
Creio que chega.
Mas gostei, porque lhe ofereci a deixa para uma boa "exposição de motivos", que no meu tempo se chamava "alegação".Claro que ainda não acabou a discussão sobre como caracterizar o salazarismo... E nem estou minimamente preocupado com o incómodo que tal debate possa trazer à "demagogia política", já que adoro que ela seja incomodada.Demais, e no que à velha e tradicional dicotomia concerne, ela aí está para durar na oralidade e na escrita mais comuns. Pese embora a apreciação do fenómeno em níveis mais elevados ou na retórica coxa dos tais demagogos (por razões opostas, como não podia deixar de ser: nos primeiros por mor do rigor, nos outros, de certas conveniências oportunistas)
Mas gostei.E nem pretendo pedir meças, note-se.”
Já agora…
Creio que a arrumação política em esquerda e direita é mais remota que a invocada Revolução Francesa de 1789.
Costumam referir-se dois eventos de assinalável significado em que aquela vai entroncar: a vitória da representatividade sobre o absolutismo, com a Glorious Revolution ou Revolução de 1688, no reinado de Jaime II, cujas raízes se podem encontrar, por sua vez, na assinatura da Magna Carta, por João Sem Terra em 1215.
Já agora…
Creio que a arrumação política em esquerda e direita é mais remota que a invocada Revolução Francesa de 1789.
Costumam referir-se dois eventos de assinalável significado em que aquela vai entroncar: a vitória da representatividade sobre o absolutismo, com a Glorious Revolution ou Revolução de 1688, no reinado de Jaime II, cujas raízes se podem encontrar, por sua vez, na assinatura da Magna Carta, por João Sem Terra em 1215.
Sem comentários:
Enviar um comentário