Nuno Pacheco aborda no editorial de hoje do Público dois temas escaldantes e de grande actualidade sob o título “O ensino e a justiça entre a fantasia e a realidade”, que sintetiza, em destaque, da seguinte forma: “A onda dos Magalhães ‘para todos’ já faz a ministra sonhar com chumbos zero no nono ano. Já na justiça não há sonhos, mas pesadelos.” E com uma singular verve remata com a frase com que todos nos interrogamos: “O que é preciso, afinal, para se ser preso?”
Ora, depois de confrontar as miragens da tutela com a dura realidade, presente e futura, na área da educação, NP aborda um dos mais terríveis sentimentos (de entre vários) que entre nós se vive, de momento e de há bastante tempo já: a insegurança.
Insegurança? Não. Só pode ser uma atoarda, sem fundamento nem nexo. Se não mesmo uma cabala contra o Governo...
Alguns, rodeados de “gorilas”, no ambiente “asséptico” e suave dos seus luxuosos gabinetes, no remanso dos seus condomínios privados, pensam que já é muito o que os media, com mais carregadas cores ou com ligeiras pinceladas, nos informam.
Porém, o que se passa excede, em muito, o que é objecto da grande informação. Desta não consta o que se vai passando no pequeno universo de cada um de nós. Como, por exemplo, no meu: nos últimos 4 dias tive notícia, pelas próprias vítimas, de 3 casos bem paradigmáticos da situação que se vive: um casal meu amigo, enquanto dormia o seu sono reparador, foi durante a noite assaltado, levando os larápios valores e dinheiro, designadamente do seu quarto de dormir, sem que de algo se tivessem apercebido.
No meu prédio, dois (ou 3?) indivíduos tentaram que três ou quatro dos moradores abrissem a porta para os “atender” (?): passava das 10 da noite, e não ligavam a luz das escadas.
Uma senhora, minha conhecida, foi abordada, aqui à minha porta, por dois meliantes, em pleno dia, que lhe levaram um fio de ouro, as alianças, o telemóvel e umas dezenas de euros.
Agora multiplique-se isto por vários milhares, por outros pequenos universos...
Claro que alguns pressurosos jornalistas põem a tónica na nacionalidade ou etnia dos criminosos. Como se o ser brasileiro, moldavo, cigano, cabo-verdiano de 2ª ou 3ª geração, romeno ou ucraniano – ou português marginalizado - fosse o bastante ou a principal causa para se ser estrela e protagonista destes acontecimentos!...
A propósito, não resisto a contar um acontecimento bem pessoal. Foi há muitos anos, na segunda metade dos anos 70. Em Joanesburgo, onde me encontrava, ocasionalmente, em trabalho, quando ainda vigorava a lei do apartheid: um pequeno grupo de rapazes assaltou-me numa avenida com imenso tráfego e com os passeios a abarrotar de gente, à hora de saída dos empregos (cerca das 5), perante a indiferença de tantos que passavam ao meu lado. (Eu estava de braços no ar). Não me levaram nem o fio, que a camisa entreaberta deixava ver, nem o relógio, nem o isqueiro (de boa marca): só a carteira.
Pergunta inevitável (e de bem clara intenção) de “certas” pessoas: “eram pretos, não?”
Resposta igualmente sacramental a “essas” pessoas: “com certeza! Ali, os brancos não têm necessidade de se expor, roubando dessa maneira! Óbvio!”
Não obstante a minha resposta, os “tais” interlocutores deixavam escapar um sorriso “entendido”, “felizes” e “recompensados”. (O brilho dos seus “entendimentos” era confirmado!)
Vai levar tempo até que o mundo – todo o mundo – se convença que não pode subsistir com certos desequilíbrios.
Mas, até quando?
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2 comentários:
Aí vai uma,hoje relatada num jornal da minha terra.
Em urbanizações destinadas a "média alta",com apartamentos de preço superior a 500.000 euros,há dois "casos" em que um comprador,bem vestido,com bom carro,bem falante,vem comprar um apartamento para a irmã.
Feito o negócio,com elevado sinal adiantado,descobre-se que nesse mesmo dia se instala no apartamento uma família de ciganos.
Os condóminos protestam.
A Imobiliária resolve a questão:rescinde o contrato-promessa e devolve o sinal no dobro!
A notícia,tem como título:
"UM NOVO GOLPE DOS CIGANOS".
Qualquer dia,para comprar casa,é preciso fazer prova de que se não é preto,cigano ou brasileiro...
Até quando? Olhe que o panorama não é propriamente animador.
JR
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