segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

MICROFONE INDISCRETO

- Sra Ministra, estamos, na realidade, num momento difícil para implementar o que o superior interesse do país nos exige em matéria de educação: pôr nos eixos esses corrécios dos professores.
São eles que atrapalham o nosso objectivo de atingir níveis nunca antes vistos nem igualáveis, intra e extra muros, em matéria de resultados no ensino oficial, como, de resto, as estatísticas oficiais documentam.
- Mas, ó Walter! Serão os professores, mesmo, mesmo, prescindíveis como afirma esse lince do nosso Pedreira?
- Prescindíveis, absolutamente prescindíveis... – convenhamos, Sra Ministra – não direi tanto. Ah! Mas são um elemento pouco importante.

- Mas sabe, Walter, alguém me fez suspeitar que eles tenham alguma influência no nosso projecto... E, mais, suponho – como me sugeriram – que terão algum peso na sua concretização...
- O quê, Sra Ministra?! Como? A greve? Oh, mas isso é coisa que cai com facilidade no esquecimento...

- Acha, Walter? Constou-me (não pelo Pedreira nem pelos nossos informadores habituais) que os media internacionais (e os nacionais de maior referência) apontaram para valores muito próximos da unanimidade, da totalidade dos docentes... E isso não é relevante, Walter?
- Claro, Sra Ministra, que não foram os 7 ou 8% com que o Pedreira sonhou e diz ter conseguido apurar com a melhor vontade, muito a custo e muito por cima!
- Não pense, Walter, que ele é um visionário, um sonâmbulo! Ele é, sim, um muito fiel colaborador. E pessoa muito sagaz...

- Mais fiel que inteligente, se me permite a opinião!
- Walter!

- !!!
- Não subestime tão devotado colaborador, Walter...
- Irei pesar os seus “skills cognitivos” e detectar a eventual “diferencialidade” que possa manifestar relativamente ao mais comum dos “básicos” docentes...
- Deixe-se, Walter, da sua propedêutica e rasteira (essa do “básico”!...) análise às qualidades pedagógicas do meu fiel colaborador, e prossiga. Falávamos dos conturbados tempos que não nos deixam trabalhar com o rigor e afinco nos nossos objectivos... Da indómita e perversa atitude dos professores...
- Pois é, Sra Ministra: e a avaliação?
Sim, se dermos crédito a essas insinuações dos media nacionais, infelizmente corroboradas pelos internacionais, as coisas não vão de feição... Prescindíveis que sejam, em larga medida, os docentes, sem eles será ligeiramente mais difícil...

- ... Atingirmos a nossa meta! Ligeiramente, concordo.
Bem, mas meu bom e fiel Walter (e valoroso, não esqueço), não será para já que a nossa inspirada e justérrima avaliação cederá a uma outra com o mínimo
placet desses soberbos perturbadores dos nossos intentos!

- Mas... Como diz? Está no horizonte da Sra Ministra claudicar?
- Calma, meu inefável Walter, não me conhece. Antes: não nos conhece, a mim e ao líder do nosso governo. Poderá estar no nosso horizonte prometer a sua alteração. Prometer, meu inteligente amigo. Prometer para um futuro que talvez nos não pertença, já...
- E se pertencer, grande educadora?
- Nessa eventualidade, pura e simplesmente esquecemos o prometido.

- Mas, e no imediato, acha a Sra Ministra que o numeroso adversário cederá com apenas uma promessa?
- Ensina a experiência, meu caro colaborador, que, nestes reinos, na generalidade dos casos, prometer serena os ânimos e sossega as hostes inimigas. Logo se verá!


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2 comentários:

aminhapele disse...

Dava um bom guião!
Pena que o Parque Mayer já não esteja disponível...
"Cautela com a Lulu!",poderia ser um título...
E o soprador de ouvido poderia ser um "vasconcellos",a atirar pela varanda em cada representação.
Os preços dos bilhetes até poderiam ir subindo,de acordo com o figurão que se atirava pela varanda!
É só preciso pesquisar os "sopradores"...

José Ricardo Costa disse...

Boa ficção que não deverá andar muito longe da realidade...

Adorei a dos "skills cognitivos"!

JR

 

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