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Correm aos milhares, as anedotas sobre as loiras: algumas, com uma pitada de graça. Outras, em que mesmo a pitada é frouxa.
Mas boa, boa, mesmo – estamos no domínio do puro anedotário, não esquecer – foi uma que me chegou há dias.
E que deixo aqui, em versão corrigida e aumentada.
Esta, sim, está de morte!
O ventríloquo
Um jovem ventríloquo estava a fazer um espectáculo num bar de uma cidade da província. Estava a exibir o repertório habitual sobre a burrice das loiras, quando uma desenvolta loiraça sentada na quarta mesa da segunda fila não resistiu mais, se levantou e disse:
- Já ouvi o suficiente das suas piadas a denegrir as loiras, seu idiota. Não serão, por acaso, loiras a sua mãe, talvez a sua irmã, quem sabe algumas amiguinhas suas... E são estúpidas todas? São? E as que o forem é por serem loiras que o são? O que é que o faz pensar que pode estereotipar as mulheres dessa maneira? Acaso estará lembrado de tantas mulheres que se distinguiram e distinguem nas ciências, na Filosofia, nas artes, na política, nas mais diversas profissões onde a inteligência e a pronta e sensata capacidade de decidir e agir são uma exigência constante e que, muitas delas ainda foram capazes - oh, cúmulo do alto e devido apreço pelas mulheres! - de ser boas donas de casa, boas mães e boas esposas, não obstante muitas delas serem loiras? Estará você, seu mini-bestunto anquilosado, esquecido dos estigmas torpes e mesquinhos com que a sociedade medieval, como aquela de que você só pode ter provindo, impôs às mulheres, tanto morenas como loiras? Será preciso lembrar-lhe, porventura, seu ignorantezinho, a secular luta da mulher, fosse ela loira ou morena, natural ou oxigenada, que lhe granjeou o reconhecimento da sua capacidade e da sua inteligência não obstante a perseguição dos despotismos machistas inconsequentes como o seu, seu ínfimo petulante? Saberá, criaturinha desprezível, que quando as forças universais fizeram o mundo não discriminaram ninguém, fosse homem ou mulher, branco ou de cor, fosse loiro ou moreno? É agora, na era das tecnologias e da robótica, quando já estamos para além do futuro, que você, seu pigmeu, seu ignorante e atrevido vai continuar com as baboseiras ultrapassadas e sem sentido de anatematizar as loiras como se a cor dos cabelos da mulher fossem um atributo intrínseco da sua personalidade? O que é que têm a ver os atributos físicos de uma pessoa com o seu valor como ser humano? São homens como você que impedem que mulheres sejam respeitadas no trabalho e na comunidade, o que nos impede de alcançar o pleno potencial como pessoa.
Por sua causa e por causa das pessoas da sua mísera espécie perpetua-se a discriminação não só contra as loiras, mas contra as mulheres em geral... Bahhhh!!! E tudo em nome do humor!!! Seu cretino!
Confuso e muito encabulado, o ventríloquo ouviu tudo completamente atónito, ruborizado, primeiro, lívido, depois, vexado sempre… Nunca imaginou que o espectáculo produzisse uma reacção semelhante… Não sabia bem que dizer… A perplexidade como que lhe garroteava a garganta… Um nó não lhe permitia
ordenar ideias, numa defesa frouxa, mas numa defesa…
E, sem jeito, nervosíssimo, começou a pedir desculpa à loira que acabara de o atingir com tão duras palavras e juízos...
Mas a loira, seguríssima de si, interrompe de imediato:
- O senhor não se meta. Não estou a falar consigo, embora acredite que seja da mesma laia. Estou a falar é com esse rapazinho que está sentado ao seu colo!!! Com esse idiotazinho!
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1 comentário:
E viva a boa disposição.... não obstante concordar em pleno com a eloquência da senhora, embora eu seja grisalha :-)))
Aquele abraço
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