terça-feira, 5 de janeiro de 2010

«SÍMBOLO DO FIM DE UMA DÉCADA DE EXCESSOS»

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«Foi pensado para ser um símbolo de optimismo e pujança» - escrevia, hoje, em termos (talvez contidamente) soft, no Público, Alexandra Prado Coelho, para logo prosseguir a introdução do seu artigo: «Mas o Burj Dubai (Torre Dubai), o edifício mais alto do mundo, inaugurado ontem no emirado do Dubai, arrisca-se a ser o símbolo do fim de uma década de excessos».

Veja-se a seguinte imagem, para ficarmos com uma ideia da altura da torre em termos comparativos…


O Burj Dubai (Torre Dubai), inaugurado a 4 de Janeiro de 2010, é o mais alto edifício do Mundo e a mais alta estrutura construída por mão humana. Mede 828 metros. (Convém ampliar a imagem)
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Em termos comparativos domésticos, repare-se em quantos dos nossos mais altos (!) edifícios se têm de empoleirar uns nos outros para atingir o cume da Burj Dubai.
Depois compare-se a mesma torre com outros campeões das alturas internacionalmente.

Falamos do Dubai e dos seus escandalosos excessos.

O assunto é recorrente nestas páginas, pois já sobre ele se disparou um flash anterior.

O Dubai, a rocambolesca e afrontosa manifestação de riqueza que ele representa, é o ícone máximo da crise que verga, ainda, a uma penosa existência, uma importante parte dos habitantes deste planeta. Ainda que os ratos (sim, também esses, os pequenos mamíferos roedores) sejam os (quase) únicos habitantes que restam dessa babilónia de ilhas artificiais e exóticas, e edifícios gigantes (hotéis de 7 estrelas incluídos) onde o proclamado luxo asiático não tem coragem de pedir meças.
O Dubai foi um coio de vorazes bandidos, de pequena, média e grande “estatura”, ao pé dos quais um Maddof se sentia um bebé e um Oliveira e Costa, uma formiga.
Ficam os ratos (os pequenos mamíferos roedores, que os outros, os grandes mamíferos roedores, esses cruzaram-se com os pequenos, pondo-se a salvo), as baratas e as areias do deserto para darem cabo dessa mirífica e ultrajante visão.

Talvez resista mais algum tempo a torre Dubai ontem inaugurada e talvez apenas festejada por alguns basbaques e (só na aparência) por uns tantos (desiludidos) proprietários a quem os comparsas do grande negócio deixaram a castanha escaldante nas mãos, e a criança, nua, nos braços.

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Mas não há como ver a grande paranóia megalómana (e, sobretudo, ultrajante da pobreza que grassa exponencialmente no mundo) nos relatos do media.
Desde logo este.
(Não sei porquê, sem som. Não, provavelmente, para se não ouvirem os raros “Ahhh!...”, talvez antes para encobrir os muitos “Uiiiiiiiiiiiih!...)

Já naquele primeiro disparo do flash se deixava antever (por palavras próprias ou “emprestadas”) o futuro daqueles hotéis com um número de estrelas nunca visto… Daquelas estâncias paradisíacas subaquáticas… Daquelas enormes pistas de gelo construídas, a coberto dum sol escaldante do deserto, sobre as dunas de areia… Daquelas deslumbrantes mansões construídas sobre caboucos assentes em ilhas artificiais, umas em forma de palmeira, outras dispostas por forma a representarem o mapa-mundi!
Um desvario desafiando as imaginações mais hilariantes, os apetites mais extravagantes, as bolsas mais recheadas, as exigências mais inacessíveis.
O despudor mais indescritível e mais gratuitamente ofensivo das mentes mais sensatas.

Entretanto, o esdrúxulo Dubai era notícia, já não pelas mais mirabolantes razões, mas pelas piores.

Há duas semanas atrás, no dia 21 do passado mês de Dezembro, as agências informavam: “A Dubai World, empresa governamental do emirado que entrou em situação de crise de pagamentos, não deverá apresentar ainda hoje um plano de recuperação aos credores, apesar de estar prevista uma reunião para o efeito.

E oito dias antes, a 14 do mesmo mês, o Público anunciava:
O governo de Abu Dhabi vai injectar dez mil milhões de dólares no Fundo de Apoio Financeiro ao Dubai, permitindo ao emirado vizinho pagar parte da dívida financeira, incluindo uma emissão obrigacionista de quatro mil milhões de dólares da promotora imobiliária Nakheel.
Segundo explicou o governo do Dubai, em comunicado, o resto do dinheiro será utilizado para pagar despesas de juros e capital da concessionária pública Dubai World até Abril de 2010 e fazer pagamentos a empreiteiros e credores comerciais.
A Dubai World e a sua participada Nakheel têm em curso um processo de reescalonamento da dívida de mais de 26 mil milhões de dólares. No final de Novembro, a notícia das dificuldades financeiras da ‘holding’ estatal do Dubai e a perspectiva de falência daquele emirado árabe lançou o pânico nos mercados de capitais, afectando principalmente os títulos da banca na Europa.”

Isto é o que se sabe dentro do que se pode dizer.

E revela um brilhante presente que ajuda a adivinhar um promissor futuro.


Já agora, para além dos referidos atrás, vejam-se mais alguns números esclarecedores da Burj Dubai (Torre Dubai):

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A Burj em números

1,5 mil milhões
O Burj Dubai custou um total de 1,5 mil milhões de dólares, ou
seja, qualquer coisa como 1048 milhões de euros. Cada andar
custou cerca de 6,2 milhões de euros (nove milhões de
dólares). Durante o período de construção, foi acrescentado um
andar de quatro em quatro dias.

8 graus
A torre é tão alta que as temperaturas no topo chegam a
estar oito graus mais baixas do que as temperaturas no solo.

78
É o andar onde os visitantes podem encontrar uma piscina
exterior. Mas para observar melhor as vistas – e comprar
algumas lembranças – é melhor subir até ao andar 124.

15.200
É o número de peças de porcelana Rosenthal que o
hotel desenhado por Georgio Armani encomendou
para o seu restaurante. A Miele forneceu 7650
electrodomésticos para o edifício (a maior
encomenda na história da empresa alemã) e a Duravit
vendeu 4000 peças de loiça de casa-de-banho.

14 mil
Número de trabalhadores envolvidos na
construção do Burj Dubai. Provenientes
de 45 países, gastaram um total de 22 milhões
de horas de trabalho, sendo que alguns
receberam 12 euros ou menos por cada dia de trabalho.

25 mil
A torre está preparada para suportar a presença
de 25 mil pessoas ao mesmo tempo numa área
de quase 527 mil metros quadrados.
Existem 57 elevadores, incluindo um “supersónico”,
que viaja à velocidade de 10 metros por segundo.
Fonte:
Spiegel on-line
(apud Público, hoje)

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Espantoso, não é mesmo?


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2 comentários:

Unknown disse...

Como dizia alguém acertadamente num artigo de há poucas semanas, talvez o Dubai, ou pelo menos muitas das suas construções, venham a ser as "ruinas do futuro", que servirão para mostrar ao que o investimento especulativo e sem previsão acabou por levar.

Anónimo disse...

Estas coisas matam a minha compreensão e, mais do que me aborrecem, enojam-me.
Prefiro "ter uma ideia" a concretos números da desfaçatez, de quem faz, de quem vende, de quem empresta, de quem esgana a nossa sobrevivência (do planeta).
Abç da bettips

 

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