quarta-feira, 20 de maio de 2009

“CHICKEN A LA CARTE”

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Hoje trago um pequeno filme premiado no Festival Internacional de Berlim de Fevereiro de 2006.
Nele se recorda que morrem diariamente, no mundo, 25 000 pessoas de fome e subnutrição.
Esta curtíssima metragem revela a face oculta, ou desconhecida, ou esquecida de uma importante parte da sociedade: as pessoas que sobreviverem com os restos e o lixo de outras pessoas.

Um indivíduo recolhe, habitualmente, os sobejos de um restaurante, em baldes, para satisfazer uma matilha de cães esfaimados e um bando de crianças famintas.
Antes, porém, dessa repelente amálgama de restos retira aqueles que tenham um pouco mais que ossos e raras aparas de carne para a sua família.
Depois do espectáculo dos animais disputando um osso, e das crianças precipitando-se sobre o balde na ânsia de encontrar qualquer sobra que lhes trave a fome, assistimos à alegria dos filhos do portador de tais iguarias que aguardam a distribuição, pela mãe, do precioso repasto.
A respectiva sinopse termina no que considero a evidência de uma afronta despudorada e gratuita, da mais farisaica provocação: “o que impressiona é a esperança e a espiritualidade sempre presentes nestas pessoas” – diz-se aí a propósito do recolhimento e da oração impostos por aquele pai aos respectivos filhos, crianças, em agradecimento de tão lauta refeição.

A igreja de Roma prega a humildade, a parcimónia e o desprezo pelos bens terrenos…
Mas pratica o fausto o luxo e a pompa.
Aos seus fabulosos rendimentos acrescem as generosas esmolas dos pobres, tornando ainda mais revoltante o desprezo a que os vota.
Prega a “caridadezinha”, a distribuição das sobras ou do supérfluo, fomentando a hipocrisia de uma farsa que reforça a marginalização dos mesmos pobres. E sente-se com isso reconfortada!
Incrível!
E eles – os pobres – ainda erguem as mãos e bendizem a sua marginalização.
É indigno e desumano, por parte de quem pretende pegar na bandeira da dignidade e do espírito humanitário, pactuar com estas situações.
Uma igreja que não sacode consciências (dos ricos e poderosos) mas as adormece num remansoso entorpecimento e indiferença.

Não creio que haja motivo para dar graças (com tamanha humildade) mas sim para demonstrar revolta por tamanha indignidade.

Isto para não falar de outras “igrejas” que despudoradamente apregoam o
reino de Deus e onde ainda é mais revoltante a convivência do lixo e do luxo. Numa acção criminosa!

Até quando estas humildes e ingénuas criaturas vão suportar serem objecto de tão hipócrita manipulação?
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Sofres, irmão,
a desdita da pobreza?
Acreditas, irmão,
nas palavras de veludo?
Revolta-t’ antes c’ o desprezo
e a falácia desse entrudo!

Se venceres o quebranto
e tiveres força p’ra tanto!

3 comentários:

aminhapele disse...

É a economia!
Este ano,o marquês de Fátima queixou-se que as esmolas decresceram 15%...

Unknown disse...

A consciencialização das situações leva de facto muito tempo a formar-se! Carlos

Anónimo disse...

Já Agnès Varda, no seu filme "Les glaneurs et la glaneuse" de 2000, mostrava o que "os respigadores" retiravam dos restos dos mais ricos... Nunca mais esquecerei esse filme! Até porque passei a reparar mais, em vários sítios e nos contentores dos supermercados, gente dita "normal" a fazer o mesmo.
Quanto à "religião"...sabes o que penso da hipocrisia! Nada tenho contra quem pratica, com verdade o "ama o próximo como a ti mesmo". Mas onde?
Abç da bettips

 

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