terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

NEWSPEAK


Graves desastres são anunciados, catástrofes autênticas, desgraças nunca vistas, verdadeiros tsunamis, calamidades indescritíveis no tecido e no mapa económico-financeiro do mundo capitalista, já nos próximos meses. Mais propriamente, prevendo-se um Verão super escaldante e verdadeiramente dramático.
Talvez tudo não passe dos esgares habituais dos neoliberais para, impressionando o mundo laboral, poder lançar novas pontes para uma actuação mais liberta de travões ao recrudescimento das suas medidas desastrosas para os cidadãos em geral, consumidores, trabalhadores e reformados. E pequenos empresários.

A gula dos capitalistas é absolutamente insaciável.

Não faço a mais pequena ideia de como imaginarão eles que seja o mundo no futuro, reduzidos à miséria os trabalhadores e a generalidade da população, aguardando, apenas, a entrega da alma ao criador, já que sem mais qualquer esperança de subsistência neste mundo.

À custa de quem vão, nessa altura, os patrões aumentar os seus lucros? E serão eles capazes de, sozinhos, controlar os robots dos seus escritórios, e os das suas fábricas, e os da comercialização?
E quem consome os seus produtos, quem aumenta os seus réditos?
Vão-se devorando uns aos outros, então, numa luta de morte. Só pode ser

É o apocalipse.

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O novo discurso dos capatazes, de tão repetido, já foi descodificado.
Já se conhece o glossário da nova retórica.

No Público de hoje, pareciam ter combinado e conjugado esforços no mesmo sentido, os jornalistas José Vítor Malheiros, director executivo, na sua coluna habitual e Manuel Carvalho, director-adjunto, no editorial. No sentido de explicar e descodificar o novo discurso dos capitalistas, aprendido na escola neoliberal.

O editorial intitula-se “Que empresas defendem a CIP e a CCP?” e aí o jornalista recorda que “a concretização das medidas que a CIP e a CCP advogam teria impactes brutais nas empresas dominadas pelo capitalismo do capataz, onde subsistem lógicas de poder baseadas no ressentimento, no autoritarismo e na coacção”.
Já o artigo de J Vítor Malheiros é uma peça sensacional pela descodificação que faz do novo discurso do patronato. Artigo a merecer ser arquivado no Apostila, já que caracteriza uma época e uma classe, ainda que em termos de uma saborosa ironia: “Dicionário de newspeak empresarial”.

Newspeak faz lembrar Orwell.
Orwell (no seu “1984”) tinha razão: cada vez mais se tenta alterar o significado das palavras, criar uma nova linguagem, adoptar uma linguagem subtil através de chavões, novas frases, frase feitas na sua generalidade, que inundam os relatórios de burocratas e tecnocratas.
É assim que o autor de “1984” inventa e usa o termo newspeak (new-speak) “para referir o controle político-ideológico das palavras e do raciocínio”.
Alguém, um dia, estabeleceu para a palavra uma definição: “estilo de discurso oficial que serve a propósitos políticos escondendo ou distorcendo a verdade”. Claro que aí, na sua renomada obra, Orwell visava uma realidade muito concreta.
Hoje os tais propósitos políticos, muito mais abrangentes, estão, na mesma (e talvez com maior propriedade e acerto), na base do tal discurso enganador, mas não apenas os propósitos políticos tout court, como os político-económicos e outros.

O novo tipo de discurso está muito bem caracterizado em
“Dicionário de newspeak empresarial”.


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