segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

OS INOCENTES ISRAELITAS



Na sua crónica de QI 31.01.08, no Público, Esther Mucznik alude um comentário de um leitor da sua anterior crónica semanal (id, 24.01) que referia «"a hipocrisia evidente" da política externa americana para o Médio Oriente, "onde há dois pesos e duas medidas"».

Aquela investigadora em assuntos judaicos tenta convencer-nos da sua isenção, com sobejamente conhecidos argumentos: no país em que os lobbies são moeda corrente, e com protecção constitucional, o lobby judaico nos EUA não é assim tão poderoso como se costuma pensar, antes de mais porque a sua comunidade é de cerca de 5,6 milhões de judeus, apenas, isto é, não ultrapassa os 2% do universo de habitantes do país. Depois, e para recordar apenas situações recentes, “poucas minorias étnicas ou religiosas têm votado tanto contra Bush, como os judeus: apenas 19% votaram nele no ano 2000 e 24% em 2004. E, nas eleições de 2006 para o congresso, foram apenas 12% os judeus que votaram nos republicanos.”

Mas Esther Mucznik sabe, como todos nós sabemos, que esses argumentos não colhem: não têm o peso, o significado e o valor que ela pretende fazer-nos querer. Melhor: todos sabemos que, apesar de os judeus constituírem uma séria oposição ao partido republicano, ao conservadorismo americano (creio que foi isto que Esther Mucznik quis dizer; e penso que a sério), a situação no Médio Oriente (um vulcão, muitas vezes em actividade, por mor também, e não sei se sobretudo, dos israelitas), maxime entre israelitas e palestinianos, não se arrastaria por tantos anos não fora o grande empenho, o forte apoio, a poderosa posição (por acção ou omissão) dos EU a favor de Israel.

Fosse o governo norte-americano (qualquer, de qualquer partido) isento, verdadeiramente preocupado com a paz, e fautor da mesma, e por certo que haveria vontade política para alterar o rumo dos acontecimentos naquela zona, e para pôr travão na sempre pronta e agressiva actuação de Israel.

Por sinal, para “explicar” a acção americana pró-israelita, a colunista sustenta que “nesse mosaico de minorias étnicas que é Israel, a América reconhece a mesma obstinação que foi a sua em construir uma nação - uma nação de homens e mulheres livres, decididos a não deixar mais o seu destino em mãos alheias”. Mas, curiosamente, parece não reconhecer igual obstinação nos palestinianos.

Mas como, se ela existe?

A Palestina, nação multissecular, tem visto ser-lhe recusada a independência, a partir do pós-guerra 14-18. Diferentemente dos mais mandatos na região, sobre ex-domínios do império otomano, que conduziram, nas décadas de 30 e 40, os respectivos territórios a países independentes, o mandato da Palestina foi objecto de diferente solução por parte da Liga das Nações (predecessora da ONU) que adoptou «o projecto sionista da criação do “lar nacional para o povo judaico” nesse país» - cfr A PALESTINA, Dados históricos para a compreensão da situação actual e algumas reflexões, da Comissão Justiça e Paz CNIR/FNIRF.
Isto é, «sem excluir formalmente o objectivo normal do tipo de Mandato aplicado aos países árabes do império otomano, que era levar à plena independência a população que então os habitava, o Mandato para a Palestina tinha outro objectivo, que lhe era próprio, isto é, promover a criação de um lar nacional judaico – subentenda-se a criação de um estado judaico – com gente que, na sua maioria esmagadora, estava ainda espalhada pelo mundo e, por conseguinte, deveria ser trazida de fora» - id.

Especialistas «questionam a legalidade das decisões da Liga das Nações em relação à Palestina em nome das regras que ela própria fixara. Assim, apesar de ter classificado a Palestina num grupo de nações às quais reconhecia imediatamente a independência formal e prometia a independência efectiva a curto prazo, a Liga das Nações impôs-lhe um Mandato cujo objectivo prioritário não era a instalação da administração palestiniana nacional, como previa o documento que instituiu o sistema dos Mandatos, mas, sim, a criação do «lar nacional judaico» com gente que ainda estava espalhada pelo mundo» - ainda id op.

Está fora de questão que os judeus tinham que ter uma pátria. O que se não compreende, nem pode aceitar, contudo, é que os judeus, “trazidos ao colo” por britânicos e americanos para a terra dos palestinianos, invadam e se instalem em territórios destes e os persigam como se foram eles os ocupantes e desrespeitem todas as resoluções da ONU que se ocupam da matéria.

Têm-se verificado posições extremadas de parte a parte, é um facto. Mas a actuação israelita tem sido alvo de maiores manifestações de repúdio e condenação, internacionalmente.
Claro que Israel e Palestina podem coexistir.
É inevitável que israelitas e palestinianos se venham a entender.

Seria mais fácil se os EU não ajudassem a atear a fogueira (há muitas maneiras de o fazer). E se mantivessem equidistantes face aos dois vizinhos.

Pode ser que Esther Mucznik um dia nos conte a história toda...

2 comentários:

bettips disse...

Numa espertina, dir-te-ei que "amigos de americanos (sistema de impor "democracias" ocidentais e "paz" de interesses económicos")nunca meus amigos foram "...
isto ela rama. Perguntando se tantos genocídios e ditaduras não tiveram, em décadas, o beneplácito dos defensores do mundo. Neste caso, evidente.
Abraço

Unknown disse...

E sendo os americanos sempre tão empenhados, até com acções armadas, em fazer cumprir as resoluções das Nações Unidas, porque assobiam para o lado quanto ás resoluções que obrigam Israel a terminar a ocupação dos territórios conquistados com a guerra? Deve ser por distracção e nada com a cumplicidade com Israel...

 

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