domingo, 27 de janeiro de 2008

DA GENEALOGIA A UM MODESTO “OBSERVATÓRIO” - II



Antes de mais uma nota acerca de uma frase da crónica de ontem (não há dúvida que o povo tem razão: as conversas são como as cerejas...) quando referi a posição que a lei tomou em matéria de enterramentos de cadáveres: proibia-os quer no interior das igrejas, quer no seu exterior, no seu espaço envolvente, permitindo-os, apenas, nos cemitérios públicos. Adiantava eu, aí, que por acção de uma espécie de “asae” dessa época, nesse âmbito, se desencadeou a revolta popular da “Maria da Fonte”.
É claro que se impunha essa intervenção dessa “asae” (chamemos-lhe assim), pois que a nova regra se opunha a hábitos seculares, nada aconselháveis, das populações. Foi, portanto, oportuna e tinha de ser firme, em benefício da higiene e da saúde pública. (Já agora, como oportuna e de aplaudir é a acção da actual ASAE, de uma forma geral – se lhe retirarmos evidentes exageros e gratuitas medidas persecutórias que excedem os fins para que foi instituída).
E é claro que a “Maria da Fonte” (que, aliás, era ainda movida por protestos noutras direcções, como na da matéria fiscal), neste particular, foi mais a consequência de uma informação deturpada, mal intencionada, mesmo (dos padres, designadamente, como logo se deixa ver), e que, oportunistamente, se colou aos argumentos de uma população ignorante, conduzindo, inevitavelmente, aos excessos dos protestos populares.

E, agora sim, a abordagem sumária de uma das dificuldades, entre tantas, para a investigação genealógica nas famílias comuns: a repetição de muitos nomes (mesmo nome e apelido) em mais que uma família (diversas, por vezes), quer nos mesmos quer em diferentes lugares de uma mesma freguesia. (E por certo que em mais de uma freguesia).

A essa dificuldade acrescia, tornando-a mais gravosa, o facto de a maioria dos nomes serem constituídos, apenas por um nome e um apelido.

Hoje, mesmo, existem muitos nomes repetidos. Daí que, para contornar a situação e o embaraço, se atente igualmente, para além do nome, a outro elemento, necessariamente pessoal e irrepetível: BI ou outro.
A repetição de uns tantos nomes, entre os de tanta população, nem chega a constituir, propriamente, qualquer problema.

Mas imagine-se em recuados séculos. No século XVIII, por exemplo – que é o de que vamos mostrar um exemplo: uma acentuada repetição de nomes num universo populacional muito mais reduzido... Era uma confusão, mesmo. Problema solucionável, em geral, mas nem sempre com facilidade.

Veja-se, para exemplificar, o seguinte caso: uma criança cuja mãe e cujas avós, ambas, tinham o nome de Maria Ribeira.

Na verdade, os mesmos nomes repetiam-se, na mesma família e noutras, vezes sem conta. Imagine-se a teia complicada que não é!

Depois, além das Maria Ribeira, que as havia às dúzias, havia ondas de modas de nomes, hoje menos comuns, como, na mesma época de que falamos (e na freguesia a que me reporto), o de Iria Nunes. E então, nessa altura, havia dezenas de Iria Nunes.
Por outro lado, eram muitos os homens com o apelido Duarte, uns, José; Manuel, outros. Como neles se repetia com muita frequência o apelido Ribeiro, com os costumados nomes próprios.
(Curioso também é notar, aqui, que eram, nesse tempo, usados os dois apelidos, consoante o género do titular: elas, Ribeira; Ribeiro, eles).

Mais fácil - para melhor ilustrar o que pretendo dizer - seria imaginar uma reportagem.
Mas isso fica para amanhã, ou depois, para não arrastar mais o espaço deste apontamento.

1 comentário:

aminhapele disse...

Interessantíssimo.
Para mim,perfeito ignorante nesta matéria(e em muitas outras,convenhamos) só vem à memória a saga dos Severinos...
Aguardo o proximo apontamento.

 

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