segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

QUE A TERRA LHE NÃO SEJA LEVE!

imagem: site da SIC

Fruto, antes de mais, de uma favorável conjuntura, a relativa prosperidade dos mais de 200 milhões de habitantes das 17 mil ilhas que constituem a Indonésia, durante o longo consulado de Suharto, não podem chegar para lhe relevar o rol de crimes de que foi autor.
Não chega para branquear a sanha sanguinária e déspota do ditador e dos seus títeres.
Acusado de nepotismo, de corrupção e de genocídio. Ladrão (chefe de quadrilha) declarado (ver alusões de instâncias bancárias internacionais). Déspota implacável, ditador feroz e prepotente, não tinha direito à vida tranquila dos inconscientes.

Nos tempos que correm, não é só a morte que “limpa” qualquer passado. A atitude compassiva dos governos relativamente a figuras do género é injusta, já que lhes mantém privilégios e um tratamento comprovadamente imerecidos. Vivem uma vida tranquila e um conforto que se tornam aviltantes em relação às suas vítimas e respectivos descendentes. O que também já vale por uma “lavagem” da memória da criatura e dos seus actos.

Claro que não concordo com “justiças” como a que foi feita ao casal Nicolae e Elena Ceausescu...

Mas não compreendo que se poupem tais criaturas a diligências relacionadas, por exemplo, com a Justiça, por razões (ultrapassáveis) de saúde. E isto sem chegar ao exagero e ao desumano comportamento que eram as sua normais cartilhas de procedimento quando no poder.
Claro que estou a pensar também em Augusto Pinochet.

É um insulto, um ultraje ao Homem, à dignidade humana, a deferência com que semelhantes ditadores e assassinos são tratados no resto dos seus dias!

Pois se os criminosos, antes de serem condenados pelo tribunal, são objecto de especial vigilância e não são alvo de mordomias, porque hão-de ser diferentemente tratadas estas criaturas?

Não compreendo que figuras como Xanana Gusmão se tenham ficado por um “foi o promotor do desenvolvimento de um grande país”, mas “teve os seus lados fracos, sobretudo a violação dos direitos humanos, a ditadura e a corrupção”. Acho uma declaração complacente e desculpabilizadora.
Já mais frio e realista foi Ramos-Horta: “Suharto foi um ditador da família de Pinochet”, conquanto pedisse “para não se guardar rancor ao ex-líder”. Esqueceu o presidente de Timor que, embora possamos pedir aos cidadãos que tenham memória curta (a muitos nem é preciso pedi-lo), o mesmo não acontece com a memória da História.
(Timor-Leste, recordo, que foi uma das vítimas de Suharto, onde chegaram as suas atrocidades: dos milhões de vítimas assassinadas pelo sua “Ordem Nova”, duzentas mil foram timorenses)
Mais curioso (e revelador de certo perfil) foi a declaração do primeiro-ministro australiano que, apesar de tudo o que a História regista, se limita a considerar Suharto, apenas, como alguém “controverso no que diz respeito aos direitos humanos e a Timor-Leste.

Direi, por um lado, como, espontaneamente, soltou Ana Gomes: “até que enfim”!

Por outro, continuo a pensar que a figuras destas não podemos, de facto, augurar que a terra lhes seja leve.





PS: Já agora, deixem que me interrogue, uma vez mais: porque será que regimes e líderes destes têm sempre no governo dos EU grandes amigos, aliados e apoiantes?

3 comentários:

Unknown disse...

A tradicional benevolência que se tem perante o passado dos que se finam, mesmo que tenham sido execráveis em vida, até parece que faz parte da condição humana. Não deveria ser assim. Mas a história é implacável. Normalmente não é benevolente, sobretudo quando deixa de haver paixão. O Shuarto não lhe vai escapar. C.P.

bettips disse...

Branquear. Não há perdão para quem teve tempo de se arrepender.
Como Pinochet. E outros que por aí andam.
Exactamente fria a lembrança.
Só não dizem que morreu confortado com os sacramentos da sagrada/santa mãe igreja! Ou dizem????
Implacáveis seriam os anjos, se existissem.
Abraços

aminhapele disse...

Quem me conhece sabe que não faço comentários sobre recém mortos.
Poderia soltar,mas só para dentro,um:
MENOS UM!
Entritesce-me a figura de Xanana.
Esse está vivo e não me merece qualquer esforço de compreensão.
Enganou-nos.

 

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