quarta-feira, 25 de julho de 2007

O ALARME QUE TARDAVA

Manuel Alegre



Não era sem tempo.
Tardou. Mas alguma voz “autorizada” do velho PS se levantou para o necessário alerta.
Foi Manuel Alegre.

Demorou muito, pois, que alguém, representante da velha guarda, da reserva republicana e democrática, viesse esclarecer o que se passa para lá da fronteira e do novo invólucro deste PS, que suporta, alimenta e mantém um tal governo como o que exerce, neste momento, a sua autoridade sobre este país.

Da súmula do seu artigo de hoje, no Público, retiro os seguintes destaques do próprio periódico:

“Não posso ficar calado perante alguns casos ultimamente vindos a público. Casos pontuais, dir-se-á. Mas que têm em comum a delação e a confusão entre lealdade e subserviência. Casos pontuais que, entretanto, começam a repetir-se

Não vivemos em ditadura, nem sequer é legítimo falar de deriva autoritária. As instituições democráticas funcionam. Então porquê a sensação de que nem sempre convém dizer o que se pensa? Porquê o medo? De quem e de quê?

Sottomayor Cardia escreveu, ainda estudante, que "só é livre o homem que liberta". Quem se cala perante a delação e o abuso está a inculcar o medo. Está a mutilar a sua liberdade e a ameaçar a liberdade dos outros. Ora isso é o que nunca pode acontecer em democracia. E muito menos num partido como o PS

Os debates desse congresso, entre Sócrates, eu próprio e João Soares, projectaram o PS para fora de si mesmo e contribuíram em parte para a vitória alcançada nas legislativas. Mas parece que foram o canto do cisne

(Para melhor se entender esta última passagem, será de recordar a que a precede: “na campanha do penúltimo congresso socialista, em 2004, eu disse que havia medo. Medo de falar e de tomar livremente posição. Um medo resultante da dependência e de uma forma de vida partidária reduzida a seguir os vencedores (nacionais ou locais) para assim conquistar ou não perder posições (ou empregos). Medo de pensar pela própria cabeça, medo de discordar, medo de não ser completamente alinhado. No PS sempre houve sensibilidades, contestatários, críticos, pessoas que não tinham medo de dizer o que pensam e de ser contra quando entendiam que deviam ser contra.”)

E, prosseguindo os aludidos destaques, pode ler-se:

[“Não por acaso ou coincidência],
há um clima propício a comportamentos com raízes profundas na nossa história, desde os esbirros do Santo Ofício até aos bufos da PIDE



Não adiantarei muito mais.
Mas convirá recordar o proémio desse artigo. Que reza, ainda:
Nasci e cresci num Portugal onde vigorava o medo. Contra eles lutei a vida inteira.”

E, logo de seguida, ponderava:

Não vivemos em ditadura, nem sequer é legítimo falar de deriva autoritária. As instituições democráticas funcionam. Então porquê a sensação de que nem sempre convém dizer o que se pensa? Porquê o medo? De quem e de quê? Talvez os fantasmas estejam na própria sociedade e sejam fruto da inexistência de uma cultura de liberdade individual.
(Perante este desabafo de Alegre, inquieta-me uma questão: como classificar esta resposta tão tardia?
Não, por certo, de medo…
Mas como, então? De quê? [Gostaria bem que o autor me esclarecesse quanto a este ponto…] A que atribuir esta demora?)


A verdade é que um certo temor ronda por aí…

A sensação é, na realidade, de insegurança, em geral.

Será uma eventual menor dimensão numérica que tolhe e “amordaça” os velhos socialistas?

1 comentário:

aminhapele disse...

Tanto quanto tenho lido e ouvido,os "velhos socialistas" nada têm a ver com este PS.
Talvez que tenham saudades do que já foi.
Talvez que se sintam responsáveis por vê~lo como é hoje.
Mas,o máximo que podem ser é "pecado original"!
O PS actual,para não ir mais longe,pouco terá a ver com a social-democracia.
Haverá uma coisa esquisita,que se poderá chamar "neo-liberalismo de esquerda"?!
Deixemos o engenheiro encontrar um rotulex!

 

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