Todos os ex-ministros das finanças do Portugal de Abril contribuíram, de algum modo, para a presente crise, mas não vi nenhum bater com a mão no peito confessando “mea culpa”. Mais: nenhum deles foi capaz (leia-se competente) para prever a grave crise provocada pela derrocada do capital financeiro que viria antecipar e agravar a presente crise. Mas falam todos, contudo (imagine-se a coragem e o auto-convencimento), como se nada tivessem a ver com o assunto, como sendo génios fantásticos e eminências pardas dum saber infinito e de uma confiança inultrapassável.
Um, de entre eles, que contribuiu para esta situação na tripla qualidade de ministro das finanças, primeiro-ministro e presidente da República, veste agora a pele de cordeiro e vem-nos com ar preocupado - mas não contristado - e modos paternalistas fazer apelos e declarações com ar condoído. Mas que faz de concreto? Convoca os ex-ministros das finanças, como se foram seres vindos doutro planeta, alheios ao que se passa, com o saber e as mesinhas necessárias para debelar a crise, mas não vi nenhum apontar soluções que não fossem, as que sempre usaram: as de agravar os parcos rendimentos dos mais desfavorecidos. Nenhum deles se atreve a fazer pagar a crise a quem a provocou…
E não nos queiram convencer, excelentíssimos sábios e milagreiros, que isto é demagogia da esquerda. Por mais que esses partidos vos incomodem, já não nos assustam com esses “papões”.
Mesmo que a gravidade da situação só possa ser ultrapassada com o sacrifício de todos, não vejo que alguém seja capaz de impor uma distribuição desses sacrifícios na razão inversa da que se sabe ir ser aplicada.
É altura, Sr Presidente e senhores ministros e ex-ministros, srs actuais e ex-todos aqueles que se enchem ou encheram à tripa forra à nossa custa, como se fôramos o zé-povinho albardado, de Rafael Bordalo Pinheiro, é altura de deixar de nos considerar totós, imbecis e ignorantes.
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Basta de atitudes teatrais, de cinismo e de palavreado.
Vossas senhorias não se despem do vosso ar sonso e farisaico, e da vossa ganância, mas nós estamos a evoluir para o outro zé-povinho, do mesmo autor, o do manguito.
A situação não é, não vai ser de forma nenhuma sustentável da nossa parte, sendo de prever que o manguito surja mais cedo do que vossas excelências pensam e prevêem.
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1 comentário:
Se fosse a si não teria assim tanta certeza. O nosso reumatismo não nos dá muita margem de manobra para manguitos.
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