segunda-feira, 24 de novembro de 2008

NATÉRCIA FREIRE

Num dos seus blogues, "POESIA", Rui Lucas ofereceu-nos recentemente, de Natércia Freire, “NADA QUE TIVE ERA MEU”.

Para mim, pessoalmente, a tela de Dali, «L'énigme sans fin», de 1938, que ilustra aquele poema, tem um especial significado pois que confere com o mistério que de há muito me acompanha relativamente a Natércia, e é ele o de não entender como é que uma mulher, cuja poesia se caracteriza por «um comovente lirismo da ausência, de frustração, do incorpóreo, do fantasmático», nas palavras de Jorge de Sena, e que «assumiu, corajosamente, perante a Censura a responsabilidade de, nessas páginas [do DN], dar voz aos malditos», no dizer de Natália Correia, como é que essa mulher é marginalizada e esquecida a partir da Revolução dos Cravos...

Verdade que nunca aprofundei a matéria, até porque não sou
expert em tal área.
Sabe-se, contudo, que em 1940 Natércia começa a colaborar na Emissora Nacional, com uma crónica mensal. Como se sabe que em 1955 começa a dirigir a página de “Artes e Letras” do Diário de Notícias, a convite do próprio director, o situacionista Augusto de Castro – cargos estes de que é afastada após a queda do regime salazarista.

Não se percebe bem: ou tivemos nela a cidadã corajosa que deu voz aos proscritos e que foi incompreendida e injustiçada pelos arautos do novo regime, ou Natércia se comprometeu, mesmo, com a ditadura, tendo naturalmente perdido a confiança dos defensores e restauradores da liberdade.

Independentemente da resposta àquele mistério, a verdade é que o poema trazido por Rui Lucas, que integra a colectânea “poemas”, publicada em 1957, é um belo texto de densa e pungente, mas sempre límpida linguagem.
Sua contemporânea e da sua geração, Natércia faz-me lembrar O’Neill. E, curiosamente, um e outro me trazem à memória esse génio inconformista e de força arrebatadora que foi Ary.
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1 comentário:

aminhapele disse...

jlf põe a claro uma "dúvida" de muitos de nós.
No tempo dela,a poesia ainda era "tolerada"(de certo modo),pelo regime.As poetisas,quando muito,eram as meninas más de boas famílias,com a consequente envolvência de algum proteccionismo.
Talvez que o estudo de Ana Marques Gastão dê uma ajuda,sobre a personalidade de Natércia.
"É sua uma tomada de consciência vertiginosa da tristeza do mundo e da cor demasiado vaga de todos os homens,revelando Natércia Freire a sabedoria da melancolia aliada à perda e ao conhecimento do horror da condição humana..."
Talvez que,traduzindo estas palavras (escritas nessa época),fiquemos com um melhor conhecimento da situação.
Não me restam dúvidas que,Natércia como outros/as,foram "enterrados" pelos que "viram" uma pretensa colaboração com o fascismo.
Para lá das teorias,convenhamos que os seus poemas são BELOS!

 

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