imagem Andre Kosters-Lusa/in DN
Como dizia antes d’ontem um “blogger” meu amigo, um blogue, bom ou mau, é sempre um serviço público. Por isso decidiu não postar no dia de ontem, aderindo, desta forma, à greve.
Claro que, colocando-me do pragmático ângulo dele, concordo. E aderi, também.
Inevitável.
Mas quem é que ainda se surpreende com a costumada discrepância contabilística relativamente à adesão às greves?
Todos os governos neoliberais têm os seus joões figueiredos. E todos eles são a voz dos respectivos donos, em nome de quem debitam e à mão de quem vão comer...
A generalidade dos cidadãos dispensa a elucidação do governo quanto às estimativas de adesão às greves. Ela sabe o que se passou e sabe avaliar a maior ou menor credibilidade dos números apontados dum e doutro lado.
Fossem as pessoas mesmo livres de aderir ou não a uma greve, sem penalizações patrimoniais ou de outra ordem, e outro galo cantaria.
Veja-se a insuspeita opinião de J Pacheco Pereira: “há mais dignidade cívica nos grevistas do que naqueles que se queixam por tudo o que é recanto discreto ou anónimo dos males da governação Sócrates e não têm coragem para alto e bom som dizer o que pensam e sofrer as consequências” (ih Público desta data/Opinião/”As greves são sinais de vida no meio da pasmaceira geral”, título antecedido do seguinte lead: “a realidade que mobiliza os grevistas é incontornável e tem a ver com o empobrecimento dos portugueses”).
Mas muito mais longe nos leva o mesmo historiador social-democrata, não neoliberal: «a arrogância e o desprezo pelas greves está muito para além da discordância com os seus objectivos, é uma manifestação antidemocrática e mais uma, entre muitas, manifestações do tardo-salazarismo inscrito no nosso espaço público e que abomina o conflito como se fosse um mal, e que deseja um mundo sem ondas e sem confrontos, onde os negócios prosperem sem complicações, em que uma mediocridade remediada seja a regra para todos e onde a ausência de escrutínio e vigilância democrática decorrem do peso abafador dos consensos. Um pouco como já acontece com a "Europa".»
E muito, muito mais diz aquele ideólogo liberal, numa coluna de uma clarividência e de oportunidade de mão cheia.
Só uma pequena passagem me arrefece um pouco o entusiasmo e a concordância. Mas quanto ao resto... Bom texto.
(Não há papões... Não há que ter medo deles)
Lá longe, na Índia, Sócrates declarou:
"É importante que os portugueses percebam que não se pode modernizar o país e os serviços públicos, deixando a administração pública na mesma. Havia coisas que tinham que mudar e mudaram nos últimos anos, em benefício de todos os portugueses e de um futuro melhor."
A primeira parte do discurso do primeiro-ministro merecerá, estou certo, o acordo de todos. Não tenho a mesma certeza é quanto à segunda parte: o que mudou nos últimos anos terá sido mesmo em benefício de todos os portugueses e de um futuro melhor?
Aí é que bem poucos estarão de acordo.
Nestas matérias, a diferença não está nas pessoas e nas intenções que anunciam. Está, sim, nos objectivos que, pela acção, sublinham.
A peneira não tapa mesmo o Sol. Não vale a pena insistir.
NOTA À MARGEM (MAS A PROPÓSITO): por falar naquela “realidade incontornável”: não esqueçamos que engrossa, em cada dia, a fila de licenciados, e outros pobres envergonhados, que acorrem ao banco alimentar...
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3 comentários:
Esse JPP tem a sua piada!
É insuspeito,por ser de direita!
Tiremos-lhe uns pecaditos menores:a fase m-l da juventude...
a fase da direcção de um grupo parlamentar,em que até retirou um cartão de crédito ao seu antecessor,porque este além de ser um cultor de Órgão,estava a tratar-se de um cancro...
Nesta fase mais de hoje,refugiado e bem pago na Marmeleira,sendo um dos cónegos bem pagos das noites de quarta-feira,o homem permite-se fazer umas leituras "isentas",porque infelizmente criou-se a ideia que a esquerda tem razão,sempre que um isento de direita a apoie!
Qual é a diferença entre apoiante e apoiado?!
Começo pelo fim: a diferença entre apoiante e apoiado continua a ser muito grande.
Toda a diferença que vai, apesar de tudo, entre esquerda e direita, com tudo o que profundamente as distingue.
Não, eu não acho que a esquerda se sinta dependente do apoio de qualquer isento. Seja – como parece resultar do comentário - que só quando este apoie é que ela tem razão. Qual quê!
Depois, não estou certo de que as “leituras isentas” do PP – quando acontecem - sejam um frete que ele faz à esquerda... Não me cheira.
Não me considero, propriamente, um deslumbrado, mas quando alguém de outra área política, que não seja a minha, diz qualquer coisa com que eu concordo... Digo-o.
Como, dentro da minha área, quando não concordo com o que se diz e faz, também o digo.
Clarifiquemos:
Quando refiro apoiante e apoiado,estou a utilizar uma "figura" daquilo que historicamente se chamava,e continua a chamar,de direita ou de esquerda.
Como há tempos escrevi,creio que um liberal será sempre um liberal.
Felizmente,uma coisa que sempre distinguiu as pessoas foi o espírito de Liberdade.
Isto,é completamente diferente de ser liberal,liberalista,neo-liberal e afins,etc.
Talvez que o meu desabafo,demasiado pesporrente,venha de eu estar farto de ler,ou ouvir,o pessoal de esquerda reforçar a sua opinião:até fulano,insuspeito por ser de direita,admite que eu tenho razão!
É este o meu grito!
O JPP,de burro nada tem.Mas trabalha,e bem,para levar a água ao seu moínho...
Talvez por isso,habituei-me a desconfiar da minha própria posição quando vejo "insuspeitos" a apoiarem-me.
Já vai longa a prosa.
Espero ter esclarecido a minha posição.
Um abraço.
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