Felizmente (para ambos) não tenho nada em comum com Vasco Graça Moura. É, realmente, uma pessoa culta, mas em termos ideológicos aprecio-o tanto quanto aprecio qualquer outro conservador empedernido e de mente (nessa área) anquilosada.
Mas porquê esta confissão, ou este desabafo?
Simplesmente porque pode parecer que tenho a mesma opinião que ele no respeitante ao acordo ortográfico (atendendo ao que aqui deixei recentemente sobre a questão). Mas não tenho.
O ponto de vista de VGM é o de que o acordo é "catastrófico no plano científico, económico e geoestratégico". E segundo a leitora do Público, Helena Soares, de Lisboa, “esta concepção de "catástrofe geoestratégica" tem um nome: co-lo-nia-lis-mo. Bafiento”.
A senhora tem razão, é óbvio.
Como razão tem Rui Tavares, também hoje no Público: claro que nada vai mudar. É evidente que o acordo vai ser mais uma inutilidade, pois que nem brasileiros nem portugueses vão alterar em nada a maneira como falam ou escrevem, quer quanto à suas diferentes expressões quer relativamente ao vocabulário que usam.
VGM é radical: os brasileiros “não sabem escrever português”.
Eu o que sustentei, e mantenho, é que os brasileiros são livres de evoluírem do português para o “brasilês”. O que não devemos consentir é que eles nos obriguem a utilizar a sua ortografia e as suas expressões.
Porque havemos nós de “falar anistia” em vez de “dizer amnistia” ou a escrever “seqüestro” em lugar de sequestro? Porque teremos de chamar “Antônio” ao seu homónimo (homônimo, dizem eles) António?
Bem vistas as coisas, a verdade é que, no que à ortografia respeita – é RT que o recorda – todos entendemos o que se pretende dizer quando se escreve correcto ou correto. E Até korreto, que é como os rappers kontinuarão a eskrever.
Também concordo que em actos e documentos oficiais a ortografia a utilizar deve ser a aprovada pelas academias e governos respectivos.
E nos fóruns internacionais, como uma das línguas oficiais adoptadas ou como língua de trabalho, deve ser o português europeu que deve ser utilizado, que é o que se passa com o inglês e com o espanhol (castelhano), ainda que sejam muitos mais milhões de estrangeiros a falar cada uma dessas línguas do que ingleses e espanhóis. Mais, bastante mais, do que brasileiros a exprimirem-se na nossa língua pátria.
E se os deputados e governantes portugueses querem ver implantado nos países lusófonos, em África ou em Timor, o português de Portugal, que promovam essa política cultural, nomeadamente com a oferta dos manuais escolares, antes que os brasileiros, com a sua habitual “ligeireza”, conquistem essa posição.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário