segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A BRUTALIDADE DOS NÚMEROS

A crueza e a brutalidade dos números, por vezes, é que nos faz crer que certas “más-línguas”, afinal, não são tão desprezíveis nem tão condenáveis como tudo isso.

As estatísticas oficiais, por mais salpicos de água benta com que sejam benevolentemente aspergidas, são o dianho para o governo.

Alguns dos números, de tão vistos que são tão repetidamente, nem se lhes atribui grande atenção. Mas, perante a chamada de atenção de outros valores, para outras realidades menos badaladas, aí, sim, pasmamos. Pela novidade e menos frequente abordagem.

Assim, no segundo trimestre deste ano, “a taxa de desemprego dos jovens (15-24 anos) atingiu o valor de 15,3 por cento, quase o dobro da média nacional.”
Por outro lado, “o desemprego dos trabalhadores licenciados subiu 25,1 por cento de um ano para o outro. Existem hoje 50.800 trabalhadores licenciados no desemprego, mais 10.200 do que no 2.º trimestre do ano passado.”

É claro que o facto de estes valores nos serem transmitidos por António Vilarigues, hoje no Público, leva a que certos destinatários da informação franzam o sobrolho e encolham os ombros em jeito de dúvida.

Feitios, que não vale a pena contrariar.
É que, segundo me juraram, os números não são inventados pelo cavalheiro.
São dados oficiais.

Da mesma forma, parece respeitar a verdade a conclusão de que em vez da prometida criação de 150.000 postos de trabalho, por este PS na pessoa do seu líder e actual primeiro-ministro, nas últimas legislativas, o que se verifica é que o número de desempregados cresceu desde a tomada de posse do Governo, de 399.300 para os actuais 440.500.”

Depois, a somar e a agravar todo o rosário de desgraças, acresce o cada vez mais acentuado problema da precariedade. Assim, por exemplo, no espaço de um ano, terminado no referido trimestre, contaram-se mais 77 800 trabalhadores com contrato a prazo do que os que havia em Junho de 2006. Ou, para ser mais claro, “atingiu-se o valor mais elevado de sempre: 863.700 trabalhadores (22,2 por cento do total de trabalhadores por conta de outrem).” E, já agora, “a população empregada a tempo parcial aumentou em 40.800, atingindo já os 630.200 empregados.”

Mas, mais: “se adicionarmos ao número de trabalhadores por conta de outrem com contrato precário (863.700) o número de trabalhadores por conta própria como isolados - chamados falsos recibos verdes (379.135) -, concluímos que 1.242.835 trabalhadores têm hoje um vínculo precário, isto é, 1 em cada 4 trabalhadores é precário.”

Ora, tudo leva a crer que as coisas se passem mesmo assim, e não seja história inventada pelo comunista Vilarigues, nem veneno por ele encaminhado.

Mas... E os homens do capital que dizem? E os seus enviados, os neoliberais gestores da nossa praça, que comentam?

Uma coisa bem simples: clamam, ainda e sempre, que "o mercado de trabalho precisa de ser mais flexível"...

É óbvio para todo o mundo que sim: a fome e a miséria ainda não atingiu os 100% de famílias. Logo...

Aliás, nem causa a mais pequena estranheza o rigor e a exigência de contenção de muitos desses mensageiros e analistas... Então não é que muitos deles são membros de conselhos de administração cuja remuneração média anda, só, nos 31,5 mil euros por mês?
E mais: grande parte dos administradores das empresas foi aumentada, apenas, 60 vezes mais que um trabalhador comum...

Têm razão de sobra.
De facto não dá para todos. E para eles tem de dar.

Até quando?

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