sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

ELITISMO “COMO EXEMPLO, IDÉIA DE EXCELÊNCIA E VALORES”

imagem Wikipédia (adaptada)







Quem, desta vez, me deu o mote para este apontamento foi Esther Mucznik (ontem: “Em defesa das elites”/Público/Opinião).

Não é preciso ser conservador para discordar que “palavras como autoridade, hierarquia, elites se [tenham tornado] palavras banidas”. Realmente, defender a necessidade de autoridade, de hierarquia e de elites não tem forçosamente que entender-se como apologia ao autoritarismo, ao despotismo ou aos privilégios.

Por mais que alguns nos queiram convencer que pertencem a esse escol, ou por mais que alguém se esforce em os alcandorar a tal posição, a verdade é que tais “elitistas” (aqui, sim, no pior sentido) não passam de tartufos sedentos, apenas, de poder e privilégios.

Tem, pois, de novo razão a investigadora em assuntos judaicos quando alude que um “igualitarismo serôdio decorrente da perversão da ideia democrática corrói a nossa sociedade”.

Há que recuperar a própria ideia de elite, não como conjunto privilegiado de cidadãos, mas como um grupo de excelência, de superiores qualidade e valores, em cada área do conhecimento, que se distingue, também, por uma diferente “responsabilidade social e um dever moral face à comunidade a que pertence”.
E prossegue a mesma colunista: a verdade é que “em Portugal, essa consciência é limitada, quer por parte de empresários, quer por intelectuais, artistas ou políticos.” E, pior ainda, as “elites sempre se consideraram desligadas do serviço público, geralmente atribuído ao Estado”, esse "big brother" orwelliano.

Aliás, numa entrevista ao Público em Janeiro de 2005, Marçal Grilo, depois de ter afirmado que “nunca tivemos elites tão boas como temos hoje” reflectia, igualmente: “as elites estão um pouco desnacionalizadas. Assumem-se como cidadãos do mundo, da globalização, e têm um certo snobismo intelectual de distanciamento em relação ao que se passa no país”.

No mesmo sentido afirmava também Esther Mucznik: “a consciência da necessidade de elevar o conhecimento da população não é, no nosso país, salvo excepções, uma preocupação de cientistas, filósofos ou pensadores.”
“Desprezada pelas elites, mais preocupadas "em se dar bem", como dizem expressivamente os brasileiros, a população está cada vez mais entregue a si própria e aos mitos fáceis de uma cultura de hipermercado"
– conclui a autora.

Também William Henry falou “na luta perpétua entre o igualitarismo e o elitismo” na sua obra provocadora que pôs em polvorosa a "nação mais igualitária do mundo", “como a América gostaria de ser”. “In Defense of Elitism” (1994) é o título do livro, onde W. Henry se refere a elite “como exemplo, ideia de excelência e valores”, entretanto completamente subjugada por uma "sociedade mais igual".

Como se constata o elitismo de que se fala aqui, e aqui se defende, não tem nada a ver com o conceito de elitismo noutras eras e noutras paragens, nem com proselitismos académicos, de classe ou de estatuto. Não falamos de “torres de marfim”, mas de gabinetes de trabalho.
Falamos, repito, de elite “como exemplo, ideia de excelência e valores”, que desprendidamente se bate pelo progresso do seu país.






1 comentário:

José Ricardo disse...

Julgo que um senhor alemão chamado Nietzsche, que viveu no século XIX, nunca terá estado em Portugal. Presumo mesmo que não saberia muitas coisas acerca de Portugal. Mas o ódio às elites que os portugueses tanto gostam de cultivar, está lá todo explicado. Melhor: mais do que ódio, trata-se antes de uma relação amor-ódio. No fundo, a elite é o horizonte supremo de quase todos. Depois, claro, vive-se atormentado pelo facto de lá não se chegar, não se compreendendo mesmo como é possível lá não chegar, tendo-se esse desejo. Em Portugal, o desejo tudo legitima. Quando o desejo não se concretiza, é o ódio, a inveja, o ressentimento que ficam, à partida, legitimados.

JR

 

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