quinta-feira, 30 de outubro de 2008

QUE AVALIAÇÃO?

“... Um pequeno texto inserto na rubrica Sobe e Desce deste jornal, no passado dia 24” “rezava assim, a dado passo: ‘Os sindicatos dos professores não querem, de todo, a avaliação. A maioria da classe não quer, de todo, a avaliação...’ Quem escreveu isto desconhece por completo o que se passa no sistema de ensino e propala uma enorme falsidade, que ficaria sem reparo, não fora a gravidade do que actualmente se vive nas escolas portuguesas e a necessidade de esclarecer, por isso, a opinião pública.
Mente quem diz que os sindicatos e os professores não querem sujeitar-se a avaliação.”

“A realidade é bem diferente. Os professores rejeitam este (e sublinho o pronome demonstrativo este) modelo de avaliação. Porque não cumpre o fim primeiro de qualquer exercício de avaliação do desempenho: a melhoria do próprio desempenho e a valorização das práticas profissionais.”

“Mas há mais, que ninguém pode desmentir. Este modelo de avaliação penaliza os professores que usem direitos protegidos por leis de dignidade superior: direito a engravidar, direito a estar doente, direito ao recolhimento (nojo) por morte de pai, mãe, filho ou filha, mulher ou marido e até o elementar direito de não ser prejudicado pelo cumprimento de obrigações legais impositivas (comparecer em tribunais). Este modelo de avaliação penaliza os professores quando os alunos desertam da escola ou chumbam; põe professores de Música a avaliar professores de Matemática, bacharéis a avaliar doutores; mete no mesmo saco, para efeitos de graduação profissional, quem seja classificado com insuficiente, regular ou bom; instala nas escolas um pernicioso clima de desconfiança e competição; coloca toda a classe numa espécie de estágio permanente, com uma vida profissional inteira de duração; privilegia os cargos administrativos e burocráticos em detrimento das funções lectivas; institui uma casta de Kapos incumbidos de controlar e reportar aos donos; aniquila a liberdade pedagógica e intelectual do professor.”

“Esta é apenas uma, eventualmente a mais gritante, das vertentes que asfixiam os docentes em burocracia e afastam a escola da sua missão principal: ensinar.”

“Os professores sufocam com tarefas administrativas e reuniões. Há reuniões de todo o tipo: de coordenação de ano, para conceber testes conjuntos, para desenhar grelhas, para analisar resultados, de conselho pedagógico, com encarregados de educação, com alunos, para preparar as actividades de estudo acompanhado, de formação cívica, da área de projecto, de tutoria, de apoio educativo, de recuperação de resultados, de superação de necessidades educativas especiais, etc., etc.”


(Excertos da coluna de hoje, de Santana Castilho, no Público, em sede de “opinião”)
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Quem, lúcido e sensato, pode deixar de dar razão a SC, “neste concreto” rol e ror de disparates, por ele apresentado?
Na verdade esta “capela” de deslumbrados e umbigófilos cruzados de um estranho e aviltante sistema educativo, mais parece apostado em atazanar, até aos confins dos intentos e da acção, o que resta de bons professores...
Atingido este “louvável” desiderato, só não se destrói a escola porque restam as contínuas (perdão, que no nome está a dignidade e a grande diferença: auxiliares de educação, queria dizer) e o restante pessoal administrativo. (Restante porque se subtraem, e “muito bem”, os “empatas” e desprezíveis professores que engrossavam essa classe, quais tarefeiros).

Quanto ao autor deste desabafo...
“Não é uma andorinha que faz a Primavera...”
Gostava de o ter “ouvido” com idêntica e agressiva (no que ela tem de positivo) assertividade, e com a mesma chama, noutros contextos e noutras primaveras...
Demais, já me disseram (é figura de estilo: ninguém me disse; sou eu que imagino) que, tratando-se de um licenciado em educação física, é especializado em cambalhotas, pinos e outras piruetas... Será?

Bom, mas que o prof muitas vezes está cobertíssimo de razão... Meu Deus! Ninguém nega.
E é claro que, por outro lado, bons tribunos sempre os tivemos e teremos entre nós. Existem em toda a banda, mesmo nos partidos conservadores e nos regimes autoritários.

Uma coisa é aplaudir a palavra. Outra, muito diversa, o espírito anímico que a profere.

Ando à cata de uma agulha magnética que me ajude a descobrir, a desvendar o misterioso e mais profundo pensamento do prof.

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1 comentário:

José Ricardo Costa disse...

Imaginemos um mundo onde toda a obra seria anónima, isto é, sem autor identificado. Livros, filmes, pinturas, teorias filosóficas, artigos de jornal, enfim, tudo.

Seria interessante pois ficaríamos apenas concentrados na obra em si sem qualquer preconceito ad hominem.

Há filmes dos quais poderíamos não gostar, objectivamente não gostar mas, a partir do momento em que soubéssemos quem seria o autor e, se "fosse cá de casa" poderíamos começar a racionalizar a nossa visão do filme.

O que fiz com este artigo de SC foi precisamente isso. Ler o texto sem pensar em quem o escreveu. E concluir que tudo aquilo está certíssimo.

JR

 

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