quarta-feira, 10 de outubro de 2007

SILÊNCIO

À margem e em paralelo a uma sugestão.
Jogo em que não entro, no blogue que o lança, por não reunir condição importante. O blogue é o
PPP, a todos os títulos interessante e de muito rica criatividade.
É, de certo modo, um blogue quase gémeo do
BETTIPS. (Foi “pela mão” da Bet que fui, um dia, conhecer o PPP)
Blogues onde a imagem e a palavra (uma e outra sempre originais) se conjugam de forma impressiva e agradável.
Visito-os com muita frequência. E sempre com muito prazer e proveito. Daí que, obviamente, os recomende com entusiasmo.

Mas se ali (PPP) não posso jogar, por razões que respeito, nada me impede de o experimentar aqui.
O tema, esta semana, é o silêncio






Se nos fosse dado auscultar, lá longe, o Universo, creio que nos assustaríamos com o seu silêncio absoluto.
Como, se conseguíssemos, em especiais condições, observar a sua espectacular beleza, até a nossa respiração se suspenderia dando também azo ao mesmo – agora maravilhado – silêncio.










Silêncio tumular é a expressão que utilizamos para o que para nós é o silêncio paradigmático: total. Mas não absoluto.




Há muitos pontos no nosso planeta que estão super poluídos, em matéria de sonorização. O ruído faz parte do nosso dia a dia. Não o estranhamos. Estamos habituados a conviver com ele.
Estranhamos, sim, é a sua falta.

O homem, do que dispõe, para se exprimir e distinguir dos outros, é exactamente da quebra do silêncio. Fala. Em última instância grita.
O Homem grita quando nasce. E grita quando tem uma morte violenta.
O nascer e o morrer são, em princípio, acontecimentos dolorosos para o homem. E se ele, então, não grita, por certo que geme: outra forma de, quebrando o silêncio, se exprimir.

Mas também grita quando põe uma máscara de autoridade. E grita quando se rebaixa na sua condição.

Mas a forma mais comum de o homem se manifestar é falando.
É a falar que o homem expõe os seus pontos de vista, as suas razões. Falando o homem transmite o que se passa na sua cabeça, o que a sua inteligência produziu.

Quando o homem quer alinhavar ou alinhar os seus pensamentos, ou meditar nas suas consequências, recolhe-se. Opta pelo voluntário silêncio.



O eremita, ou o monge, impõe-se a si próprio uma vida de silêncio, para melhor poder “escutar” os “apelos da divindade” ou para mais facilmente “dialogar com ela”.

O silêncio voluntário, e sem pressões, apura o nosso sentir; apela à nossa interioridade.
Que significa o nosso fechar de olhos e o silêncio que o acompanha ao inspirarmos, com delicada suavidade, o odor de uma flor?
Uma vivência interior muito mais rica proporcionada pelo “perfume” dessa planta.

(Claro que silêncio humano é também o que resulta da solidão e do sofrimento. Que é muito pesado. Mas esse exige uma diferente abordagem)

Ao silêncio opõe-se a expressão do sentir do homem. Do seu pensamento. Que, entre várias formas, pode utilizar a palavra.
“Silenciar” o pensamento do homem ou perscrutar-lho, não está muito nas mãos dos seus semelhantes consegui-lo.
Mas esses tais semelhantes conseguem, com bastante facilidade, é calar o homem. Silenciá-lo.


E com cada vez maior frequência essas criaturas que se assemelham ao homem vão conseguindo, até, em muitos casos, silenciar-lhe o pensamento: mediante sevícias requintadas e torturas indescritíveis. A morte, até.
A tentativa de reduzir o homem ao silêncio é a experiência de o transformar em zero. De o anular.





Como o intuito de o obrigar a falar, para denunciar outras consciências livres, é outra forma de o diminuir, tentando vergar a sua verticalidade.
Com muitos, tais intentos não resultam. Esses podem ficar diminuídos, estropiados, quem sabe; podem até, em última instância, morrer. Mas os tais semelhantes (criaturas semelhantes ao homem – homúnculos, isso sim) não conseguem é a colaboração do homem nesses seus inconfessáveis propósitos.


O silêncio humano, esse só vale, portanto, desde que voluntário.
E pode atingir valores indescritíveis.

1 comentário:

bettips disse...

Uma reflexão bela que se vai aprofundando, num texto denso.
Até ao pensamento amordaçado: sim, que não se pode pensar sob sofrimento ou guerra ou fome ou ignorância... por mais poemas que falem "na raiz do pensamento".
Abraço

 

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